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Depressão: um mal ainda cercado de preconceito

24/10/2014
Muita gente se surpreendeu ao ouvir o padre Marcelo Rossi atribuir sua aparência debilitada a um quadro grave de depressão pelo qual passou, mas a verdade é que milhões de outros brasileiros vivem o mesmo drama, em maior ou menor grau. “No Brasil, estima-se que 10% da população sofrem do problema. Por ser um mal psicológico, a depressão torna-se um tabu a ser enfrentado, já que ainda se encara o transtorno com preconceito”, diz a psicoterapeuta Maura de Albanesi, do Núcleo de Renascimento.
 
Mesmo sendo uma patologia comum, Maura conta que há certa dificuldade em diagnosticá-la, pois muitos dos sintomas se confundem com os de outras doenças. “Os sinais são semelhantes àqueles sentimentos inerentes ao ser humano como a indiferença, tristeza e falta de ânimo”. Segundo ela, mesmo que haja uma predisposição genética, as pessoas não reagem de forma igual diante de fatores considerados gatilhos para a doença como, por exemplo, traumas, problemas pessoais, disfunções hormonais, consumo de drogas etc. “Não podemos esquecer que ela é, antes de tudo, um problema psíquico”, argumenta.

Como identificar os sintomas

O diagnóstico correto da depressão exige a comprovação de pelo menos cinco sintomas. Se esses sintomas forem recorrentes e durarem muito tempo, a indicação é que se procure um especialista. Veja alguns deles: alteração de humor, desinteresse por coisas que antes lhe davam prazer, problemas de sono, problemas físicos (dores musculares), apetite irregular (há pessoas que comem muito e outras que comem pouco), peso irregular, dificuldade de concentração, cansaço e sentimento de culpa excessivos, ideias suicidas e pensamentos sobre morte.
 
Tratamento – Segundo a psicoterapeuta, não são todos os tipos de depressão que precisam, necessariamente, de intervenção medicamentosa. “Primeiro, mediante a análise dos sintomas, identificamos qual o grau da doença, ou seja, se é leve, moderada ou grave. A partir desse entendimento, propomos o tratamento. Nos mais graves, há prescrição de remédios, porém o acompanhamento do profissional, em todos os casos, é importante”, explica. No entanto, em todos os graus, a primeira mudança deve ser feita no comportamento. Outro ponto importante é a família. “A família também precisa de orientação. Todos devem estar envolvidos no tratamento e devem colaborar para a criação de um ambiente saudável”.
 
Problema pode se manifestar em todas as idades
Não existe uma regra que indique que em determinada fase da vida o indivíduo terá depressão, mas algumas características podem tornar a pessoa mais suscetível. Veja o que diz a psicoterapeuta Maura de Albanesi:
 
Mulheres – Por causa de uma característica natural, a mulher tende a ser mais vulnerável à depressão, diz a profissional. “Os ciclos menstruais, a gravidez, pós-parto e menopausa são processos que desencadeiam uma explosão de hormônios e influenciam diretamente o emocional. Em muitas isso é passageiro, porém em outras é mais duradouro”, explica Maura.
 
Homens – Nos homens a depressão é mais comum entre os 18 e os 30 anos, porém isso não é regra. “É nessa fase da vida que o indivíduo está no ápice de produtividade, em atividade constante. Consequentemente, acaba sendo um momento de questionamentos, dúvidas e crises, que podem favorecer a doença”, diz a psicoterapeuta.
 
Adolescência – Segundo a OMS, a doença é mais frequente nos adolescentes, que acabam por ser tratados como rebeldes. Nessa fase da vida começam os primeiros contatos com o álcool, cigarro e drogas, fatores considerados gatilho para a depressão. “Este é o momento de maiores descobertas e decepções da vida. É muito importante a presença da família”, comenta a profissional.
 
Velhice e infância – Ambas as fases apresentam uma dificuldade no diagnóstico porque, em muitos casos, confundem-se os sentimentos com o momento no qual se vive. No caso da infância, por exemplo, alguns sintomas da depressão são atribuídos à fase de construção da personalidade, aponta Maura. Segundo a especialista, o mesmo acontece na velhice, quando “as pessoas encaram a tristeza, o cansaço dos mais velhos como algo inerente à idade”.
 
Como ajudar de um jeito simples
Alimentação: O interessante é comer peixes de água fria. Salmão, anchova, sardinhas entre outros são ricos em ácidos graxos (ômega 3), uma fonte natural de antidepressivos. Opte por vegetais de folhas verdes e alimentos que contenham ácido fólico, como espinafre, brócolis, aspargos, couve, alface, feijão-verde, cenouras, laranja e frutas vermelhas.
 
Exercícios: A prática regular de exercícios físicos proporciona ânimo e disposição. Dança, caminhada, corrida, esportes em geral ajudam o organismo, liberando substâncias químicas que elevam o bom humor.
 
Meditação: Meditar é o ato de silenciar a mente e realizar o encontro consigo mesmo. Ao meditar, o indivíduo apura sua autopercepção, combate o mau humor, o estresse e a ansiedade. Além de acalmar e permitir a reflexão.