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Eleições colocam amizades na corda bamba

24/10/2014
por Mirian Ribeiro 
 
Eleições colocam amizades na corda bamba
A acirrada campanha para a Presidência da República deste ano vem causando várias baixas nas relações de amizades e até familiares, tudo por conta de chacotas, insultos, deboches e agressões trocadas, principalmente, em redes sociais. Amigos antigos e outros com pouco convívio, mas que até então mantinham um tratamento respeitoso, entraram em conflito devido às suas escolhas. Há pessoas que optaram por não consultar o Facebook até o final das eleições, numa tentativa de se colocar à margem das provocações; outras ocultaram publicações ou radicalizaram, deletando o “ex-amigo” de sua lista.
 
Em uma democracia cada um tem o direito de expor sua opinião, mas o que tem se observado em muitos casos é falta de civilidade e de respeito. E são questões fundamentais, principalmente ao amigo. Quando faltam, é natural que a amizade fique abalada. Com a definição da corrida eleitoral neste domingo (26), é hora de perguntar: dá para superar as desavenças e recuperar o valor da amizade?
“Certamente as amizades podem ser reconstruídas ou podem deixar de existir. O que vai definir isso é o exercício de uma característica tipicamente humana: perdoar”, constata o mestre em psicologia social, Antonio Carlos Simonian dos Santos. Segundo ele, para isso é preciso reconhecer que houve um dano, que causou sofrimento, e deixar para trás, não remoer. “E importante seguir adiante na esperança de novas possibilidades e de recuperar a paz interior”, acrescenta Simonian, que trabalha com desenvolvimento grupal e relações interpessoais em empresas e instituições.

O poder permitido no mundo virtual
Não dá para negar o valor das amizades em nossas vidas. “Elas são essenciais para que nos tornemos o que somos: seres humanos, uma condição que se concretiza a partir do convívio com os outros”, diz o psicólogo. No mundo virtual, entretanto, as pessoas se sentem mais à vontade para se expor e se revelar, o que acaba gerando mais conflitos de idéias, mesmo entre quem acha que se conhece no mundo real.

“O virtual possibilita a doce e danosa característica humana: exercer poder”, afirma  Simonian. “As redes sociais são o palco pós-moderno onde atores estabelecem uma sociabilidade na ausência do outro, eu não estou face a face. Estar face a face é a condição da sociabilidade que leva a amizade genuína e apaziguadora das nossas ansiedades. A sociabilidade agora se constrói no mundo virtual, no ciberespaço. Na ausência do outro eu falo o que não falaria ou escrevo o que não escreveria na presença de um outro. Há liberdade e descompromisso, a chance para a estranheza do outro manifestar-se, desestruturando a amizade, destruindo-a ou descobrindo  possibilidades impensadas”.
 
Amigos para sempre?
Quando crianças e adolescentes achamos que teremos aqueles amigos para sempre, mas a vida vai nos ensinando que a realidade é outra. Alguns, realmente, podem permanecer sempre próximos ao nosso convívio e outros se afastarem completamente, por motivos vários. As pessoas podem se distanciar por tomarem rumos diferentes na vida, viverem momentos diferentes, assumirem interesses divergentes .. Se depois de um bom tempo sem se ver o encontro for carinhoso e a conversa parecer que foi interrompida na noite anterior é um bom sinal que a amizade permanece. Agora, se o encontro for formal e não passar de duas ou três perguntas sobra a família, esquece!