Santos

Cidade carnavalesca

13/02/2015
Por: Mirian Ribeiro 

Se hoje as bandas levam a alegria para as ruas da cidade, no passado eram os blocos, ranchos, cordões, choros, corsos, escolas de samba, concursos de fantasias luxuosas, bailes de salão… Um passado que levou Santos a ser considerada, em meados do século passado, o segundo melhor carnaval do Brasil e capital do Carnaval paulista. 
 
As fantasias eram quase obrigatórias para participar da festa. Pierrôs, colombinas, índios, odaliscas, romanos, homem vestido de mulher (nessa época se achava muito engraçado isso), marmanjos dando uma de bebê (com chupetas e até fraldas), a irreverência corria solto em meio à diversão.
 
Eram tempos bem mais inocentes e tranquilos, vividos sob o domínio das marchinhas de Carnaval e das chuvas de confetes e serpentinas. Comparado aos dias de hoje parece folclore, mas até o final da década de 50, os foliões presos por desordem só eram soltos ao meio-dia da quarta-feira de Cinzas, quando uma pequena multidão formava-se em frente à Cadeia Velha, na Praça dos Andradas, para zombar dos arruaceiros que eram libertados em grupos, ainda fantasiados.
 
A folia na cidade começava semanas antes, com as famosas batalhas de confete, cada semana em um bairro. Até a década de 60, era a atração do Carnaval santista era os blocos carnavalescos, com seus luxuosos carros alegóricos, já que as escolas de samba levaram anos para se livrar da fama de reduto de malandragem, isso num tempo que vadiagem dava cadeia.
 
Blocos, ranchos, choros, cordões
Dengosas do Marapé, Favoritas do Sultão, Bloco das Esmeraldas, Chineses do Mercado, Mariposas de Santo Antonio, Romanos do Campo Grande, As Misses, Gueixas do Atlanta, Cruz de Malta, Oswaldo Cruz, Babys do Jardim da Infância – blocos que se notabilizaram nos anos dourados do Carnaval santista. Desfilavam no Banho da “Dona Doroteia” e também no carnaval oficial. 
 
Os blocos surgiram na segunda década do século passado como a grande atração do carnaval santista e assim permaneceram até o início dos anos 60. Até o começo de 70 só desfilavam homens; para as mulheres restavam os ranchos e escolas de samba. O bloco era marcado pelo ritmo da marcha, batucada e carregava estandarte, além de carros alegóricos. O “Chineses do Mercado”, formado em 1950 e caracterizado por luxuosas fantasias, carros alegóricos e apresentação teatral, foi imbatível nos concursos realizados até o final daquela década.
 
Já os ranchos tinham acompanhamento de marcha-rancho, um ritmo mais cadenciado. Além dos choros (que, como o nome diz, tocavam choros com acompanhamento de cantor) e cordões (em forma de cortejo), tinham também as tribos carnavalescas, com os foliões vestidos de índios. As mais famosas eram a Aymoré, Tupinambás da Penha e Índios da Areia Branca.

Dona Doroteia e Agora Vai – O “Dona Doroteia Vamos Furar Aquela Onda” foi criado no Clube Saldanha da Gama em 1923 e durante décadas foi a grande atração do domingo que antecedia o carnaval, com o desfile de blocos patuscos e não patuscos pela avenida da praia. Acabou na década de 90 devido à violência. Outro que ganhou fama em outros tempos foi o Bloco Agora Vai, que desfilava sábado, véspera do “Dona Doroteia”, pelas ruas da Vila Mathias. 
 
Corsos – Surgiram na década de 20 e permaneceram até os anos 60. Um animado carnaval motorizado primeiro pelas ruas do Centro e depois pela avenida da praia, com o desfile de carros abertos e enfeitados. Dentro, foliões fantasiados lançavam serpentina e confetes nos outros carros.
 
Bailes de salão e concursos de fantasia – Até a década de 80, Santos tinha animados e concorridos bailes, realizados desde grandes e tradicionais clubes até pequenos salões pelos bairros.  Eram famosos os bailes do Atlético, Santos, Portuguesa, Portuários, Caiçara, Regatas, Internacional, Sírio etc. A cidade também já teve época de sediar concursos de fantasias luxuosas, atraindo estrelas das plumas e paetês como Evandro Castro Lima e Clóvis Bornay.
 
Banda da Divisa, a pioneira – Hoje há mais de 60 bandas animando os mais diversos pontos da cidade nas semanas que antecedem o carnaval, mas em 1971 coube à Banda da Divisa iniciar a tradição. Criada de forma despretensiosa por jovens frequentadores da praia do José Menino, próximo à divisa com São Vicente, a banda cresceu e a partir de 1973 passou a abrir o desfile oficial das escolas de samba. Ganhou fama na época como “um colírio para os olhos”, devido às suas belas mulheres. Terminou em 1977, mesmo ano em que foi criada a Banda Mole, que durante um bom tempo reinou no carnaval de rua.
 
Celeiro de bambas
O que também não falta em Santos são personagens que se tornaram lendas no mundo do samba e do Carnaval. Caso de Dráusio da Cruz (que batiza a atual passarela do samba, na Zona Noroeste), Cabo Roque, Tia Isaurinha, Waldemar Esteves da Cunha (o eterno Rei Momo) e do historiador e Marechal do Samba, J. Muniz Jr (que continua firme e forte), autor de vários livros sobre a história do samba e do carnaval santista.
 
Um deles, Henrique da Cunha Moreira (que dá nome a uma rua da cidade), viveu os primórdios do carnaval santista. Foi quem fundou a Sociedade Carnavalesca Santista em 1857, a primeira forma organizada de carnaval na cidade. Médico, gostava de fazer benemerências, mas nessa época pendurava o jaleco para se dedicar apenas à diversão.


X-9, no Gonzaga, em 1955
 
Como tudo começou
O Carnaval é uma tradição em Santos desde o final do século 19, quando o povo se divertia pelas ruas. Os primeiros movimentos carnavalescos surgiram com os bailes de máscaras no Largo da Coroação (rua Dom Pedro II com Praça Mauá) e depois vieram as sociedades carnavalescas. O Clube XV foi fundado como sociedade carnavalesca. Elas desfilavam com carruagens majestosas, com moças da sociedade. 
 
A Praça José Bonifácio era a Meca do Carnaval, cheia de barraquinhas e onde os foliões se concentravam. Dali saíam os blocos de sujo, na base do vai quem quer e como puder. Seguiam pela ruas Brás Cubas, General Câmara, Praça Mauá… Os foliões iam aderindo pelo caminho, assim como acontece nas bandas de hoje. 
 
Os cordões surgiram no início do século 20; por volta de 1915 aparece o corso automobilístico, que teve força na Rua XV de Novembro e depois foi para o Boqueirão, no Recreio Miramar. Até a década de 20, figuravam cordões, blocos e choros. Em 1939, surgiu a primeira escola de samba, a “Não é o Que Dizem”, que desfilou no centenário de elevação da cidade. Depois veio, em 44, a X-9 do Macuco, originária do (grupo) Mensageiros do Samba, de 42.