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Debate com jornalistas discute desafios da produção de notícias

12/06/2015
*por Agência Brasil
 
A internet tem alterado estruturalmente a produção e a disseminação de notícias. Esse foi o tema do debate com jornalistas que mantêm sites e blogs independentes, ocorrido na quinta-feira (11) na Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
 
Os desafios de fazer comunicação em rede, construir narrativas que fujam de estereótipos e conquistar o leitor difuso da internet foram alguns dos temas abordados no debate As Novas Formas de Produzir e Disseminar Notícias. O debate faz parte do projeto Diálogo EBC e foi mediado pela superintendente de Agências e Conteúdos Digitais da empresa, Denize Bacoccina.
 
Para a jornalista Laura Capriglione, organizadora da rede Jornalistas Livres, o "desmonte" dos veículos da grande imprensa, com demissões recentes em massa de profissionais, reforça a necessidade de reinventar a produção de conteúdo e sustentabilidade da produção independente. "O fato de as empresas estarem doentes não significa que o jornalismo em si perdeu a pulsão de contar bem uma história, uma narrativa benfeita, [de] investigar." Laura explicou que a construção e a elaboração de pautas na rede que organiza são feitas coletivamente, em reuniões semanais.
 
A jornalista aposta na comunicação em rede para que coletivos, que revelam histórias para além dos grandes centros, se apoiem na divulgação de seus conteúdos. Ela destaca que, além de dar vazão a essa produção, consegue-se cruzar audiências de diferentes grupos e cita como exemplo a cobertura da recente greve de professores no Paraná, especialmente da truculenta ação policial, feita pelo Jornalistas Livres. "Quando se articula em rede, fala-se para além. Você cruza audiência dos professores e dos que são a favor da redução da maioridade penal e passa a ter informações sobre o tema", afirmou.
 
Ainda sobre o desafio de buscar um leitor que pense diferente da abordagem dos sites e blogs, o jornalista Leonardo Sakamoto, coordenador da organização não governamental Repórter Brasil, destacou a necessidade de elaborar textos que dialoguem com os interesses do público. "Temos uma questão de empatia relevante, se garantimos para o leitor que aquela informação tem a ver com a vida dele. O trabalho escravo, a violência policial, a questão indígena têm a ver com você", ressaltou.
 
O jornalista Bruno Paes Manso, fundador do site Ponte Jornalismo, define o atual momento do jornalismo como paradoxal, pois, de um lado, ocorre uma efervescência nas redes, com possibilidade de reinvenção do modelo jornalístico, e, de outro, há a crise da profissão, com a dificuldade de financiamento gerando demissões. "Jornalismo virou quase atividade voluntária. É um dilema e um momento importante com que a democracia precisa lidar", disse o jornalista. Para ele, é necessária uma reflexão sobre os rumos do jornalismo e o papel que ele cumpre na sociedade.