Comportamento

A dor pela perda do melhor amigo

01/08/2015
“Só existe perda porque tem amor”. A constatação da psicóloga clínica e hospitalar Joelma Ruiz define com exatidão o sentimento que invade o coração e a mente do dono (ou tutor, como agora está sendo chamado) quando morre o seu animal de estimação. Uma sensação que só quem tem um bichinho, e tem apego verdadeiro a ele, sabe entender.

Há um ano Joelma iniciou um trabalho pioneiro no Pet Memorial. Cabe a ela dar a acolhida emocional para quem sente necessidade deste apoio ao perder seu bichinho. “O luto acontece quando um vínculo forte é rompido, e isto pode envolver pessoas e animais. Só vou perder aquilo que tenho”, diz ela, que antes trabalhava o luto com seres humanos. 

Joelma explica que o luto é caracterizado pelo rompimento da formação afetiva, quanto maior o vínculo, maior a dor. “Só que quando acontece com animais a sociedade não reconhece, não valida este luto, até membros da família não compreendem. É uma dor que a própria pessoa não sabe nomear, tem vergonha de falar. Além de estar sofrendo, ela sofre porque os outros a julgam”.
 
Eutanásia, luto antecipado
A difícil decisão de sacrificar um animal em estado terminal envolve uma dor imensa. É o que Joelma Ruiz chama de luto antecipado. “A pessoa fica hostil, com raiva, a emoção muitas vezes não a deixa pensar. Hoje, as famílias cuidam mais e, em consequência, os animais vivem mais. Como só eles têm direito à eutanásia esta é uma decisão muito delicada que deve ser compartilhada com a equipe médica, escutando a família”.

Joelma percebeu a importância do vínculo da família com o animal quando, ao atender um paciente em estado terminal, lhe perguntou se poderia fazer algo por ele. A pessoa pediu para ver seu cachorro. O animal foi levado ao hospital e no mesmo dia o paciente morreu.
 
Seres apaixonantes
Para a psicóloga, é real a percepção de que cada vez mais se estreita o vínculo entre o ser humano e seu bicho de estimação. “Hoje, por falta de espaço, o animal vive dentro da casa e a aproximação fortalece o vínculo afetivo, faz com que a gente se apaixone. As pessoas também estão trabalhando muito mais para ganhar o mesmo, adiaram a maternidade. Para o idoso, o animal de estimação, além de companheiro, é fonte de socialização e de orgulho, porque ele continua cuidando de alguém”.

Ela brinca, dizendo que o animal de estimação é um grande concorrente do psicólogo: “A diferença é que não cobra nada, não conta nada para ninguém e está sempre alegre ao nos ver”. Pegar outro animalzinho para criar é uma escolha pessoal: “A pessoa deve ter outro quando achar que é a hora. Tem gente que pega imediatamente outro bichinho, o que não quer dizer que não está sofrendo, mas que para ela é importante ter outro animal”.
 
Despedida digna
O crematório do Pet Memorial fica no km 20 da Rodovia dos Imigrantes, em São Bernardo Campo. A unidade conta com equipe treinada para acolher e fazer a remoção do corpo do animal em até três horas, na residência ou clínica. Há opção de cremação coletiva e individual, neste caso o dono pode levar as cinzas em uma pequena urna. “As cinzas dão a sensação de permanência do vínculo, traz o sentimento de que estão voltando para casa”, comenta Patrícia Cavalcante, gerente comercial do Pet Memorial.

O Pet oferece também velório de até uma hora de duração, que pode ser presenciado ou acompanhado on-line. “Tudo é feito em um ambiente agradável, com flores, passando a impressão de que o bichinho está descansando”. A empresa oferece plano preventivo (com o animal vivo) e plano emergencial, sempre com opção de parcelamento. O telefone é 0800-7728885.
 
Ajuda psicológica
Aí é que entra o trabalho de assistência psicológica, para que a tristeza não se transforme em angústia. “A gente acolhe desde o momento em que o tutor entra em contato com um de nossos assessores. Nosso trabalho é acompanhar a família no velório, quando ele é feito, e ficar disponível na Memorial para que a pessoa entenda que é natural, que vai sofrer, vai sentir, vai chorar”. 

A psicóloga conta que todos os dias há situações de muita emoção e comoção. “São histórias muito individuais, são anos e anos de companheirismo, de amor incondicional, a pessoa nunca está preparada para esta morte”. Segundo ela, a necessidade de ajuda psicológica vai depender de como a pessoa reage, mas a situação costuma ser mais difícil para quem nunca passou por uma perda.

Além do apoio às famílias, Joelma Ruiz ministra palestras a profissionais da área da saúde sobre a importância do apoio emocional aos tutores que perderam um animal de estimação, além dos aspectos técnicos da cremação.

 
Final feliz para Gold e Daniel
Encontrado! O serviço de Bichos Achados e Perdidos do site do Pet Memorial foi fundamental na localização do Gold, um Shih-tzu de 8 anos, que havia sumido no dia 6 de junho em Santo Antonio do Pinhal. Os donos Daniel e Vera são de Santos e, embora separados, mantêm uma espécie de guarda compartilhada do animal.

Gold sumiu ao viajar com Vera. Informado, Daniel parou totalmente a vida e foi para lá à procura do animal. Depois de correr por toda a cidade, Daniel pediu a ajuda do pessoal do Pet Memorial, que colocou uma foto sua com Gold na página da empresa no Facebook. 

A informação replicou e em dois dias o bichinho foi localizado. A mãe de um adolescente, que encontrou Gold, viu na rede social e ligou. O menino não quis a recompensa, mas ganhou do casal um filhote da mesma raça.

“Só tenho a agradecer o empenho do Pet Memorial, a mobilização que fizeram em pouquíssimo tempo foi essencial para encontrar o Gold”, diz Daniel. Segundo Flávio Darin, do Pet Memorial, em 15 anos o portal já localizado cerca de mil animais que estavam perdidos. “O site oferece outros serviços como bichos para adoção, Pet Matrimonial, pets famosos e o Pet ID, uma placa de identificação do animal, com telefone, fornecida gratuitamente”, informou. O endereço é www.petfriends.com.br/
 
Quando o auxílio vem do animal
Um funcionário de quatro patas vem chamando a atenção durante os velórios da Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos. É o Freud, um Schnauzer de 11 anos, que faz parte de um projeto pioneiro do maior cemitério vertical do mundo: a função de Freud é levar mais conforto a quem está passando pelo difícil momento da perda de um ente querido.

A ideia veio do empresário Pepe Altstut, que buscou na Dr. Au Au apoio experiente com cães terapeutas. “Essa iniciativa com a Memorial é inédita. Nos EUA há um trabalho com cães envolvendo pessoas que passaram por grandes traumas, mas com pessoas enlutadas é a primeira vez no mundo”, comenta Victoria Girardelli, presidente da Dr. Au Au, que realiza o trabalho há 10 anos.

Vestindo um colete com um bolso que carrega um cartões com mensagens de conforto, Freud só participa da cerimônia com a autorização da família. O atendimento é gratuito e realizado três vezes por semana, as segundas, quintas e sextas-feiras.