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Violência que salta da tela

21/05/2016
Imagens e vídeos depreciativos, de cunho sexual, mensagens e e-mails ameaçadores, falsos perfis nas redes sociais. A internet é um espaço ilimitado e confortável para a prática do cyberbullying. On-line, o agressor age sem precisar se identificar e, o que começa com uma brincadeira de mau gosto, pode se alastrar e tornar-se muito mais doloroso para a vítima.
 
Para alertar e ajudar no combate dessas agressões virtuais, o Jornal da Orla, em parceria com a Prefeitura de Santos, deu início, na quarta-feira (18), à primeira etapa de 2016 do Projeto Cidadão, com o tema “Cyberbullying e Cultura de Paz”. A abertura aconteceu no Teatro Guarany, durante evento sobre o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, com integrantes dos grêmios estudantis das escolas municipais da cidade. A psicopedagoga, sexóloga e orientadora educacional da Secretaria de Educação, Christiane Andréa, ministrou palestra sobre Cyberbullying, Grooming e Sexting.
 
A secretaria-adjunta de Educação, Audrey Kleys, elogiou o compromisso da diretoria do Jornal da Orla com as ações desenvolvidas por sua secretaria. “Essa parceria com o Jornal da Orla é de extrema importância para a Secretaria de Educação porque complementa aquilo que nós estamos trabalhando com nossos educadores e alunos. Então, de forma lúdica, ajuda o aluno a se sentir mais pertencente do assunto”.
 
Assédio começa na escola
Deboches, apelidos, implicância, discriminação são comuns entre crianças e adolescentes, especialmente, na escola, onde eles convivem com as diferenças diariamente. Esse não é um comportamento novo, porém, há 15 anos, médicos, educadores e especialistas passaram a classificá-lo como violência e, a partir daí, o termo “bullying” (do inglês intimidar) é usado. 
 
No espaço virtual, os xingamentos e provocações, que antes ficavam restritos aos momentos de convívio dentro da escola, são permanentes. Uma mensagem maldosa pode ser encaminhada para vários alunos ao mesmo tempo e uma foto publicada na internet acaba sendo vista por muitas pessoas que, na maioria das vezes, não conhecem a vítima. Assim, o agressor – ou grupo de agressores- passa a ter muito poder com a ampliação do público. 
 
Três personagens na cruel história
Não existe uma explicação para o motivo de pessoas humilharem as outras por meio da internet. Uma pesquisa feita pela Universidade de Stanford (EUA) identificou que parte dessa manifestação se refere à necessidade de enquadramento aos padrões impostos pela sociedade. Assim, a criança ou jovem que não se adequa a esses padrões – que podem ser relacionados à cor da pele, altura, peso – é uma possível vítima de pessoas que não sabem respeitar as diferenças.  
 
Nesta cruel história do cyberbullying há sempre três personagens fundamentais: o agressor, a vítima e a plateia. Os especialistas indicam que, em muitos casos, os dois primeiros elementos possuem características em comum: déficit de atenção, desmotivação para estudos, dificuldade de relacionamento. Dessa forma, muitos agressores encontram no bullying virtual uma maneira de se expressar.
 
Tímidas e pouco sociáveis, as vítimas costumam se destacar pela aparência, bom desempenho na escola ou religião. Quando agredida, elas se retraem e sofrem, tornando-se alvos ainda mais fáceis. Christiane Andréa, que trabalha com o tema há mais de cinco anos, explica que, apesar de perigoso, o cyberbullying é comum entre os jovens. “Eu tenho uma aluna que sofreu muito por ser negra na escola e também entre os familiares. Em sala de aula, ela disse que gostaria de morrer. Hoje, ela age como uma fiscal do bullying, sempre observando quais alunos estão passando por isso”. 
 
Nesse doloroso processo, os espectadores são fundamentais para a continuidade do conflito. Testemunhas dos fatos, eles agem de forma passiva, muitas vezes, por medo de se tornarem alvos de ataques. “É importante explicar aos alunos que, do momento em que eles recebem um vídeo ou foto que prejudique a imagem de alguém e repassam, eles estão sendo parte do cyberbullying. E isso é crime”, alerta Christiane. 
 
Consequências para toda a vida
A adolescente Ana Carolina Felipe de Campos, de 14 anos, foi vítima de cyberbullying em sua escola após ser confundida com uma jovem em um vídeo erótico. “Eu não sabia desse vídeo. Minha mãe me disse para ter cuidado na escola, porque estavam dizendo que vazou um vídeo com uma menina que parecia comigo. Depois disso, muitas pessoas começaram a me xingar e apontar na escola ou em outros locais. Muitas amigas se afastaram. Minha mãe sabia que era mentira e, por isso, fez um Boletim de Ocorrência. Quando a agressora foi identificada, a gente conversou com ela e avisou que, caso as ofensas não parassem, iria processar. Foi aí que tudo acabou”, desabafa. Segura, Ana Carolina diz que as agressões não afetaram a sua vida e que não houve necessidade de procurar acompanhamento psicológico. “Foi muito ruim, mas não fiquei mal. Antes, eu também praticava bullying com alguns alunos da minha escola. Agora sei que isso não é legal”. 
 
O caso de Ana Carolina teve um desfecho tranquilo, porém, Christiane alerta que o Cyberbullying pode deixar consequências graves nos adolescentes. “Os problemas vão desde dor física e emocional ao desenvolvimento de Síndrome do Pânico e depressão. Muitas vezes, a família não percebe e essa criança pode chegar às vias de fato, como vemos nos noticiários”. 

Sexting e Grooming: outros perigos da rede
Como fios entrelaçados de uma trama, outros perigos da internet têm familiaridade com o Cyberbullying: o Sexting e Grooming. O primeiro diz respeito aos atos de trocar fotos e vídeos de cunho sexual pela web – o popular nude. O Sexting pode desencadear o Cyberbulling porque, uma vez que o adolescente envia fotos ou vídeos sensuais, corre o risco de ter a sua privacidade divulgada mundialmente pela internet. 
 
Mais perigoso ainda, o Grooming trata do aliciamento psicológico por meio virtual, que pode estar ligado à prostituição, pedofilia, entre outros crimes. É por meio dele que, por exemplo, o Estado Islâmico alicia jovens de todas as nacionalidades. Recentemente, a Interpol e a Polícia Federal investigam o desaparecimento de uma adolescente paraense que, após se converter ao islamismo, saiu do Brasil, com destino à Turquia.