Santos

Um bom negócio para todo mundo

02/07/2016
Sem essa história de “sentir pena” do deficiente físico. Ele precisa ser tratado como qualquer outro cliente e, assim como os demais, deve ter garantidos seu conforto e segurança. E não é apenas uma questão de solidariedade, mas business: ao fazer adaptações em seu estabelecimento, o empresário conquista um significativo público consumidor de seus produtos ou serviços.
 
É com este espírito que a Prefeitura lançou o programa Santos Acessível, uma tentativa de conscientizar empresários a realizar as devidas adequações que permitam o livre acesso de pessoas com deficiência (motora, visual, auditiva ou intelectual) a restaurantes, bares, lojas, cinemas, mercados… 
 
Trata-se de um grande mercado consumidor. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de 22% dos moradores de Santos apresentam algum grau de deficiência. Dentre as 96.209 pessoas com necessidades especiais em Santos, 54% (69.368) têm deficiência total ou parcial na visão; 25% (31.785) possuem deficiência motora total ou parcial; 17% (22.198), deficiência auditiva total; e 4% (5.219), deficiência mental ou intelectual.
 
“No passado, a pessoa com deficiência se confinava em casa. Hoje, ela convive e faz as mesmas coisas que as demais, gasta como qualquer outro cliente”, atesta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Santos-Praia, Nicolau Miguel Obeide. 
 
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista da Baixada Santista, Alberto Weberman, identifica outro benefício do programa. “Vai ajudar o comércio a resgatar o consumidor que acaba fazendo compras pela internet porque não encontra a acessibilidade nos locais”.
 
Comerciante há mais de 50 anos, o empresário Elias Bakos, proprietário da rede de restaurantes O Beduíno, afirma que o cliente deve ser bem atendido, independente de suas características. “Não é preciso lei nem pensar no lucro. É uma questão de respeito. Meus clientes são, antes de tudo, meus amigos”.

Um direito das pessoas com deficiência

Se por um lado garantir acessibilidade ao cliente é um bom negócio para o empresário, por outro nada mais é do que uma obrigação. Criado por um decreto municipal, o programa Santos Acessível busca assegurar o que está previsto na Lei Federal 13.146/15, a Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Ela estabelece garantias para que as pessoas com deficiência exerçam seus direitos, estabelecendo reserva de vagas no mercado de trabalho, estacionamentos, assentos adaptados em teatros, cinemas, auditórios e estádios, entre outros.
 
“A intenção é melhorar a concepção do comerciante sobre a acessibilidade. Muitas vezes, a lei se apresenta de uma forma tão grandiosa que assusta o empresário. Vamos simplificar a compreensão sobre as ações que podem tornar o comércio um local acessível. Mostrar que algumas soluções vêm com pequenas mudanças, sem grandes custos, apenas com orientação da parte técnica”, afirma o secretário de Defesa da Cidadania de Santos, Carlos Alberto Mota.
 
“O poder público sozinho não faz absolutamente nada se a sociedade não estiver envolvida”, completa.

Adequações são investimento, não despesa

O presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Condefi), Luciano Marques, acredita que o programa vai ajudar a informar e sensibilizar o empresariado. “Em geral, os comerciantes encaram as adequações como despesa, quando deveriam ver como um investimento. Os deficientes, hoje, têm acesso ao mercado de trabalho, por meio das cotas, e recebem salário. Querem consumir como todas as pessoas, comprar roupas, ir a restaurantes, viajar”. Marques completa que nem sempre as adequações dependem de investimentos. Marques exemplifica que um funcionário mais paciente pode ser destacado para atender clientes com deficiência intelectual, por exemplo. “Uma pessoa que tenha mais sensibilidade, que respeite o tempo desse cliente e lhe deixe à vontade no ambiente. E isso é simples”.
 
Ele explica que a acessibilidade de um local é determinante até mesmo para quem não possui deficiência. “As pessoas saem com as famílias, os amigos e, se um cadeirante não consegue entrar no restaurante, quem está com ele não fica no local. O comércio perde mais que o cliente com deficiência”.

Envolvimento de toda a sociedadeO coordenador de Defesa de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência, Eduardo Ravasini, espera que a iniciativa  traga resultados permanentes. “Leva um tempo para as empresas se apropriarem da ideia da campanha. Mas o programa vai amadurecer de forma contínua”.
 

Entre as barreiras que as pessoas com deficiência enfrentam para consumir, Ravasini cita lojas de roupa sem provadores adequados; restaurantes sem acessibilidade para a cadeira de rodas circular; balcões do caixa em altura inapropriada para o cadeirante; ausência do cardápio em braile, das barras de apoio e de um intérprete de Libras. 
 
Segundo ele, ainda há muito o que se melhorar, e isso depende do envolvimento de toda a  sociedade. “Desde o comerciante, que tem sua loja, seu restaurante, até a pessoa na rua, ao ajudar um deficiente visual a atravessar. Cada um de nós pode tomar uma atitude rumo à acessibilidade”.

Como funciona o Santos Acessível
A ideia do projeto é incentivar os empresários a realizarem adaptações para atender adequadamente as pessoas com deficiência. 
 
O próprio empresário ou qualquer consumidor pode indicar uma empresa que tenha política de acessibilidade, acessando o site  www.santos.sp.gov.br/santosacessivel/
Em seguida, uma comissão recebe a lista dos cadastrados e fiscaliza os estabelecimentos. Se as normas forem atendidas é concedida a estrela de acordo com a acessibilidade oferecida. 
 
Os estabelecimentos ganharão estrelas conforme a acessibilidade oferecida. Os que assegurarem a visual, intelectual, auditiva e motora serão considerados cinco estrelas.

Tipos de Acessibilidade

Visual: o local deve possuir informativos em braile (cardápios, no caso de bares e restaurantes), adesivos em relevo na entrada e piso tátil.
 
Motora: o estabelecimento deve ter estrutura para cadeirantes, como rampas de acesso, vaga reservada em estacionamento e banheiro adaptado.
 
Auditiva: o lugar deve conter recursos em Libras e, se possível, funcionários que dominem essa linguagem.
 
Intelectual: a empresa deve criar seus materiais em linguagem simples, com textos curtos e imagens ilustrativas.