Comportamento

O fim não é o fim?

24/09/2016
Um tema instigante, polêmico, misterioso, a reencarnação, para quem crê, é o dispositivo filosófico que impulsiona o homem a se tornar um ser humano melhor, atuando com foco na fraternidade, na justiça social, na solidariedade e no bem comum. “É o que nos faz ter esperança no futuro. Se a vida não estiver dando certo, temos chance de recomeçar, isto muda a perspectiva”, argumenta o médico e ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, que lançou o livro “Perspectivas Contemporâneas da Reencarnação”, em parceria com o dirigente espírita Ricardo de Morais Nunes.
 
Na obra, eles apresentam uma coletânea dos principais estudos de importantes pensadores espíritas expostos no XXI Congresso Espírita Pan-Americano, realizado pela Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA), em Santos, em 2012. 
 
Para a doutrina espírita, a reencarnação é o retorno do espírito à vida material visando à evolução e ao aperfeiçoamento espiritual. “Somos frutos do patrimônio biológico e genético, da cultura, da educação, das regras sociais, mas à medida que vamos evoluindo intelectual e moralmente, aumentam as opções de escolha pelo livre arbítrio e a responsabilidade na construção do progresso individual e coletivo. É um pacto de civilidade”, diz o médico espírita.
 
Vidas sucessivas
A reencarnação tem sido abordada ao longo da história pela religião, pela filosofia e, mais recentemente, pela pesquisa científica. “A reencarnação filosoficamente é consistente, cientificamente tem evidências”, afirma o autor do livro. 
 
As recordações de vidas anteriores em crianças são a principal fonte de pesquisa cientifica da reencarnação, que trabalha com diversas hipóteses que vão sendo descartadas uma a uma. As recordações espontâneas começariam a aparecer a partir dos 2 anos de idade.  Em casos amplamente estudados, os detalhes que as crianças recordam sobre suas vidas anteriores coincidem com os registros históricos e há uma grande coerência entre as lembranças anteriores. Em alguns casos recordaram até línguas antigas. 
 
Quando se trata de adultos, as recordações são do mesmo modo evidentes e duradouras, numa espécie de Déjà vu (experiência de sentir que testemunhou ou já experimentou antes uma situação nova). Outras linhas de pesquisa foram desenvolvidas nas áreas da psiquiatria e da psicologia, como regressão de memória. Segundo os estudos, a recordação de angústias e eventos de vidas anteriores contribuiu decisivamente para tratar e, muitas vezes, para aliviar problemas e doenças que as pessoas sofreram anteriormente, como o terror, fobias e dores de longa duração.
 
Idas e voltas
Para a doutrina espírita, reencarnar é uma necessidade para que o espírito possa ir se purificando e contribuindo para o melhoramento progressivo da humanidade. “A maior experiência evolutiva é vivendo encarnado”, enfatiza Chioro. Segundo ele, não existe uma regra preddeterminada para reencarnações. “Determinados espíritos rapidamente recobrem a consciência após desencarnar; outros levam muitos anos e há os que sequer têm dimensão que desencarnavam, nunca recobram a consciência. Quando a pessoa é muito apegada à matéria, há relatos que passam por um período de sonolência e progressivamente vai despertando”. 
 
De acordo com o espiritismo, a conexão energética do espírito com o corpo começa no momento da concepção e se completa no nascimento. Há espíritos evoluídos que reencarnam com a missão de impulsionar o progresso da humanidade. Eles que atuam com o objetivo de libertar as consciências e podem surgir em qualquer tempo e em todos os lugares: Jesus de Nazaré, Buda e Mahatma Gandhi são alguns exemplos citados.
 
Laços de família
Segundo o espiritismo, a reencarnação tende a ocorrer num mesmo grupo familiar, porque ali se reúnem espíritos com afinidades e também os familiares com desavenças fixadas ao longo de sucessivas existências, que requerem superação. Porém, o espírito pode encarnar em outra família, em outro país e até em outro mundo habitado. “Ficarão aqueles que de fato têm afinidade, não necessariamente laços consanguineos”, diz Chioro.
 
O esquecimento do passado
De acordo com a doutrina espírita, o esquecimento do que fomos em outras vidas não é absoluto, pois os seres humanos possuem ideias inatas, instinto e intuição, tendências e insights, considerados elementos psíquicos somente plenamente explicados pela existência de suas reencarnações passadas. O esquecimento seria necessário para nos atermos mais plenamente à vida atual, sem se tornar prisioneiros do passado, sem apego ou aversão a ele. “Quer saber quem você era em outra vida? Olha para sua essência”, convida Arthur Chioro.
 
Serviço:
O livro ‘Perspectivas Contemporâneas da Reencarnação’ está à venda nas livrarias Realejo e Martins Fontes, no Gonzaga, ou pelo site www.copabrasil.org.br