TV em Transe

Semana trágica

08/12/2016
Momento mais triste e comovente deste difícil 2016, a tragédia que vitimou a delegação da Chapecoense e jornalistas que seguiam para Medellín tomou conta do noticiário na semana que passou.
 
Cobrir fatos trágicos é complicado, pois a linha que separa o jornalismo informativo do sensacionalismo e exploração da dor alheia é tênue. E este caso não fugiu à regra, com vários procedimentos no mínimo discutíveis.
 
Invasão de privacidade – Qual a necessidade, por exemplo, de uma repórter entrar num ônibus conduzindo parentes de vítimas que seguia para o velório coletivo? Foi o que fez Kiria Meuer, da Globo, em matéria exibida no “Jornal Nacional” do dia 3. “Consegui um lugarzinho… Vou acompanhar esses familiares. A partir daqui nossa câmera não pode gravar. Então vou gravando com o meu celular”, reportou.
 
No veículo, Kiria fez perguntas do tipo: “Você é parente de quem?”. E observações infelizes, como “Finalmente acabou a espera”. Já na área do velório, a repórter descreveu os bastidores do ambiente, algo absolutamente desnecessário.
 
No local – No SBT, Roberto Cabrini viajou até o local da queda do avião. Mostrou objetos pessoais das vítimas espalhados, chegando a levar um deles (uma bíblia) para a esposa do jogador Neto, um dos sobreviventes. Sempre admirei o trabalho do Cabrini, mas pra que isso? Ele chegou a tirar uma foto no lugar, com os destroços ao fundo, que foi bastante criticada nas redes sociais.
 
Justo quem! – Aliás, em seu programa na Rede TV!, Sonia Abrão desaprovou a atitude do colega. “Você não está em um lugar qualquer, posar em meio a um monte de destroços, como este, fica esquisito, Cabrini”, disse. OK Sonia, mas justo ela? A rainha da exploração da desgraça alheia? No dia da tragédia, o que a apresentadora fez? Levou ao “A Tarde É Sua” um vidente dizendo que tinha previsto o acidente. Que relevante, né? Em termos de mau gosto Sonia Abrão continua imbatível.
 
Marcante – Em meio aos escorregões jornalísticos, fiquemos com os momentos mais marcantes, que ficarão na memória. A verdadeira aula de humanidade, carinho e respeito dada pelo povo colombiano em sua homenagem prestada no estádio Atanasio Girardot.  A lição de vida e força de dona Ilaídes, mãe do goleiro Danilo, ao consolar o repórter Guido Nunes, do Sportv, um dia antes do velório em Chapecó.