Cinema

Até o último homem

02/02/2017
Após dez anos de hiato, Mel Gibson está de volta. Afastado de Hollywood desde “Apocalypto” (2006), o diretor deixou para trás todas as polêmicas com bebidas e comentários antissemitas e tem um retorno triunfal com um filme indicado a seis prêmios Oscar. Pelo estupendo trabalho que realiza em “Até o Último Homem”, posso dizer que senti saudades de Mel Gibson.

O filme  é baseado em uma inacreditável história real ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial, tendo como protagonista o médico do exército Desmond T. Doss (Andrew Garfield, de “A Rede Social”), que se alista no exército para defender seu país. Já no campo de treinamento, se recusa a pegar em uma arma e matar pessoas, sofrendo todo o tipo de maus tratos pelos companheiros, que o consideram covarde. Assim, quando é enviado para a Batalha de Okinawa, no Japão, trabalha como médico, em meio a todo o caos da guerra, e salva mais de 75 homens. A postura ganha repercussão e o médico recebe uma Medalha de Honra do Congresso, tornando-se o primeiro Opositor Consciente da história norte-americana. O longa tem início de forma bem clássica, apresentando o protagonista, sua mãe religiosa e pai abusivo, no interior dos Estados Unidos. Essa introdução mostra-se um pouco forçada, não evitando alguns clichês, com um romance bem agridoce, mas que se mostra eficiente no desenvolvimento de seu personagem principal, retratando bem suas motivações.

O filme é claramente dividido em duas partes e não tem pressa até nos jogar diretamente no campo de batalha, onde é infinitamente mais bem sucedido e faz jus ao talento do diretor para cenas de ação. Desde “O Resgate do soldado Ryan”, não via cenas mais intensas e impactantes! Gibson captura com detalhe toda a crueza e violência, conseguindo impressionar com tamanho realismo, fazendo com que o espectador se sinta dentro da batalha. No aspecto técnico, o filme é primoroso. Explosões, desmembramentos e tiros em toda e qualquer parte do corpo são retratadas de forma visceral, com uma edição e mixagem de som dignas de serem apreciadas nos cinemas. O roteiro fica um pouco forçado, não mostrando sutileza, como apresenta os simbolismos, sendo no sangue derramado pelo pai no túmulo dos amigos ou o olhar fixo de Doss, nos ícones religiosos ainda garoto. O mesmo vale para o tratamento dado aos japoneses, reduzidos a máquinas kamikazes.

Porém, temos Andrew Garfiel, que domina o filme do começo ao fim. Retratado desde a infância como alguém que abomina qualquer tipo de violência, o ator vive o protagonista com a doçura e idealismo necessários para, literalmente, carregar todo o peso e dramaticidade que a história exige. Um trabalho digno de reconhecimento.

“Até o Último Homem” é um épico de guerra que comove e impressiona pela sua inacreditável história real e a força de suas imagens. É um filme extremamente bem realizado, que possui um forte tom religioso e exalta o pacifismo e a fé de um protagonista cheio de valores morais. E o melhor é que marca o retorno triunfal de Mel Gibson atrás das câmeras, mostrando que seu valor artístico como diretor é valioso demais para ficar tanto tempo afastado das telonas.