Coluna Dois

A liquidez no futebol

25/02/2017
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman definiu as relações humanas na pós-modernidade como “líquidas”:
 
“As relações escorrem pelos vãos dos dedos”. No amor, deixam de ser uniões e se tornam meros acúmulos de experiências.
 
Poucas vezes o futebol traduziu essa liquidez pós-moderna com tanta clareza como nesta semana. O Leicester, clube inglês, demitiu o italiano Claudio Ranieri. O treinador é responsável pelo único título do campeonato inglês na centenária história do Leicester, o da temporada passada, 2015/2016, em tudo surpreendente. O clube tinha escapado do rebaixamento no ano anterior na última rodada. Neste ano está em situação difícil no Campeonato, perto da zona de rebaixamento, mas tem boas chances de se classificar para as quartas na Liga dos Campeões no jogo da volta em casa contra o Sevilla (perdeu por 2 a 1 em Sevilha). O amor dos torcedores, inclusive do ex-jogador e ídolo Gary Lineker, parece mais sólido que o dos dirigentes: houve revolta nas redes sociais e a demissão recebe deles o carimbo de ingratidão. Ranieri recebeu no mês passado o prêmio da Fifa de melhor treinador de 2016.
 
Em campo, também vem do futebol europeu um exemplo de brilho incandescente. Nesta terça-feira talvez tenha acontecido o melhor jogo desta temporada até agora no mundo. Em casa, o Manchester City bateu o Monaco por 5 a 3 no jogo de ida das oitavas da Champions League. Viradas e golaços desenharam um jogo eletrizante. O argentino Sérgio Aguero (28), pelo lado do City, e o colombiano Falcao Garcia (31), pelo do Monaco, cada um com dois gols, foram os astros desse jogo. Garcia desperdiçou um pênalti que poderia ter definido a partida. Dia 15 de março, em Monaco, no jogo de volta, deve acontecer outro espetáculo de altíssimo nível.
 
No plano doméstico, a liquidez pós-moderna ameaça o treinador do Santos, Dorival Júnior. Sem o segundo volante, Renato, e o meia articulador, Lucas Lima, lesionados, a equipe desandou nos últimos 3 jogos. O jogo não flui. Renato tem dois substitutos: Leo Citadini e Yuri. Eles entraram em campo na terça-feira contra o Ituano, mas, curiosamente, nenhum dos dois no lugar de Renato, Citadini como articulador e Yuri na zaga. Jean Mota, substituto natural de Lucas Lima também está tratando lesão. Dorival recebeu na quinta-feira pressão de torcedores das organizadas que estranhamente conseguiram entrar no Centro de Treinamento.

Também no plano doméstico, o “jogão” da semana foi um insosso e retrancado Corinthians x Palmeiras. Os corintianos alcançaram a quarta vitória por 1 x 0 em cinco jogos. E o treinador palmeirense, Eduardo Batista, entrou na zona de instabilidade com a segunda derrota no Campeonato Paulista, as duas também por 1 x 0.     
 
Uma próxima vítima da liquidez pode ser o argentino Lionel Messi. A má temporada do Barcelona e a goleada por 4 a zero que os catalães levaram do Paris St Germain na Champions ameaçam volatilizar o amor dos dirigentes por Messi. Já se especula uma transferência mi(ou bilionária.