Coluna Dois

O futebol do interior de SP massacrado

01/04/2017
O futebol se equilibra numa corda bamba. De um lado, o show business. Negócios bilionários. De outro, a paixão do torcedor. A paixão, amadora, é que paradoxalmente, movimenta os negócios.

Nesta semana, as quartas de final do Campeonato Paulista mexeram com esse equilíbrio. O Linense, um dos classificados vendeu o mando de jogo para o São Paulo.

Como negócio, funciona. Os dois jogos vão ser realizados em São Paulo, megalópole. O Estádio do Morumbi tem capacidade muito maior do que qualquer outro perto de Lins. Muito mais público. Muito mais arrecadação.

Mas, como paixão, murcha. E murcha muito. Torcedores do Santos, do Corinthians e do Palmeiras se sentiram incomodados. Porque esses três clubes precisam enfrentar estádios e torcidas adversárias na mesma fase do campeonato e o São Paulo, não?

A desigualdade gera desconfiança. Tira o brilho. Empana a competição. Introduz a injustiça.

A venda do mando traduz desencanto e desvela toda a falta de planejamento das últimas  décadas, que afundaram o futebol brasileiro.

Clubes como o Linense, que não fazem parte da elite nacional, não têm como se sustentar. Muitos deles jogam de fevereiro a abril, o campeonato estadual, e depois não têm mais nenhuma competição para disputar no resto do ano. Não têm como manter um elenco profissional e fazer planejamento. Também não conseguem, em função da legislação, desenvolver um trabalho bem feito nas divisões de base. Perdem os melhores atletas para os clubes mais poderosos e para os empresários gananciosos.

No cenário ideal, os futuros atletas deveriam ser formados nesses clubes, como era no passado: Prudentina, Botafogo e Comercial de Ribeirão Preto, Ferroviária, Noroeste… O garoto permaneceria perto da família, da escola, dos amigos.

O Estado de São Paulo tem população e área da mesma ordem de grandeza da Espanha, que tem um campeonato milionário que dura o ano todo. Ou da Inglaterra, que tem o melhor campeonato do mundo.

Os estaduais poderiam atravessar a temporada, intercalados com o Brasileiro.

Se fosse, para manter uma super-elite nacional, como no basquete da NBA dos EUA, que admite até clubes do Canadá, num campeonato só na temporada toda, poderiam ser disputados  campeonatos universitários bem montados para revelar os futuros jogadores.

Alguma coisa precisa ser feita, para resgatar a dignidade, a vitalidade e o espaço desses clubes. Mas infelizmente essa situação não sensibiliza em nada a cartolada.