Comportamento

Palavras da moda… que ninguém aguenta mais ouvir!

15/04/2017
A palavra da vez é “empoderamento”, que é a ação de passar a possuir poder, autoridade, domínio sobre a própria vida. A palavra apareceu pela primeira vez em 1987, na obra “Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra”, do educador Paulo Freire. Mais recentemente, passou a surgir na fala de integrantes ou simpatizantes do movimento feminista e se espalhou para a linguagem de pessoas ligadas a movimentos sociais ou defensoras de direitos. 
 
É um termo como muitos outros que entraram na moda e são repetidos à exaustão por celebridades e pessoas comuns, dentro ou fora de contexto. Talvez a tentativa seja de parecer moderno ou requintar o discurso, emprestando uma aparência de intelectualidade – pelo menos, assim deve acreditar quem os usa de forma excessiva. E até por isso se tornam banais.
 
Sem falar no uso de palavra ou expressão em língua inglesa, literais ou aportuguesadas – um hábito cada vez mais comum, principalmente no mundo corporativo. Para quem não domina o segundo idioma pode se tornar um dialeto quase indecifrável.
 
Palavras têm vida útil
Uma pesquisa da Universidade de Manchester descobriu, com base em análises estatísticas, que as palavras da moda têm uma vida média de 14 anos. Os pesquisadores observaram livros e textos escritos entre 1700 e 2008, e disponíveis no Google Ngram (que tem cerca de 5 milhões de livros digitalizados). A descoberta foi observada na língua inglesa, no espanhol, no russo, no italiano, no alemão e no francês. Para os cientistas, motivos culturais, políticos e econômicos definem a vida útil de uma palavra.

Expressões ultrapassadas
A ideia a ser transmitida é a mesma, mas a palavra usada para expressá-la muda de acordo com a época. Dependendo da geração, palavras podem soar familiares ou causar total estranheza, como balacobaco (atributo ou qualidade fora do normal), convescote (piquenique), quiproquó (confusão), chapoletada (o mesmo que bater em alguém), fuzarca (bagunça), sirigaita (moça de reputação duvidosa), supimpa (algo muito bom), bulhufas (nada), lero-lero (papo furado)… E o que falar de pão e broto, que hoje a molecada chama de “crush”?

Neologismos e vícios de linguagem

De acordo com a jornalista Lídia Maria de Melo, professora dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas da UniSantos, o emprego da palavra “empoderamento” não pode ser confundido com vício de linguagem. “Vícios de linguagem são construções que ferem as normas gramaticais, é o que vulgarmente se chama de erro. Os vícios de linguagem costumam ocorrer por descuido, ou ainda por desconhecimento das regras”. 
 
Segundo ela, empoderamento trata-se de um neologismo, ou seja, uma nova palavra que deriva do verbo “poder”. Independente da vontade dos estudiosos, o que determina o surgimento de neologismos são as necessidades dos falantes. “Se houver um fato que exija uma denominação ainda inédita na língua, os usuários do idioma vão criar uma palavra para nomear esse fato.  E os dicionaristas, por exemplo, correm atrás dos novos termos para registrá-los. Se o termo vai sobreviver ou não, só o tempo dirá”, esclarece a professora.
 
Língua em constante mudança
A língua é dinâmica como a sociedade e o mundo. “O idioma reflete as mudanças que ocorrem ao longo dos tempos. Quando um fato novo exige uma denominação, criamos uma palavra para denominá-lo ou damos um novo sentido a um termo já existente. Mas quando um fato ou um objeto deixa de existir, sua denominação cai em desuso e, com o tempo, morre. Muitas vezes o fato continua existindo, mas uma outra palavra ganha mais força para denominá-lo e, com isso, o nome anterior é abandonado pelos falantes”, constata Lídia Maria de Melo.
 
A língua também recebe influência de outros idiomas e temos vários exemplos em nosso vocabulário, como tchau, pizza, garçom, purê, sanduíche etc. “Sou contrária ao uso de palavras que ninguém entende para denominar uma situação para a qual temos terminologia própria. Por que usar ”delivery”, se existe ”entrega em domicílio”? Mas não condeno o emprego de termos que vão se chegando e ganhando espaço, conforme a necessidade”, diz a professora.
 
Modismos, maneirismos e pedantismo
A jornalista Claudia Atas dá informações e dicas para escrever e ser entendido, em seu site www.clarezaecoerencia.com.br. “Em princípio, modismos e maneirismos são saudáveis. Mas, se enriquecem o idioma, cansam quando abusivamente empregados, a ponto de se tornarem clichês. Fórmulas prontas empobrecem e despersonalizam o texto”, explica.
 
Ela cita uma palavra antiga que vem sendo empregada com novo sentido por profissionais de marketing e jornalismo: experiência.  O termo, usado para enriquecer a ideia, a sensação, a prática, tornou-se apelo para vender, para chamar a atenção. “Experiência é um conceito enriquecedor. Pena estar sendo martelado em nossas cabeças de forma tão banal. O pecado maior, no entanto, é o uso gratuito. Não tem perdão”, enfatiza.
 
Ela também chama a atenção para o pedantismo de parte da mídia especializada em gastronomia, indiferente à regra de ouro do jornalismo: escrever para ser entendido. “A mídia fez da gastronomia um espetáculo e um filão comercial. Muitos críticos e jornalistas do setor preferem substituir determinadas expressões em favor da compreensão da média do leitorado. Outros preferem mantê-las por julgá-las familiares ao “seu leitor”, ou, então, porque lhes conferem autoridade no assunto. Redator que privilegia o jargão em detrimento da compreensão do leitor comete dois pecados: omissão de informação e pedantismo”. 

Palavras e expressões que não aguentamos mais ouvir

Empoderamento  Gratificante  Mitigar  Protagonismo 
Diferenciado  Pertencimento  Ressignificação   Engajamento
Resiliência  Focado   Icônico  Assertivo  Competências
Customizar  Proatividade  Governança  Memória afetiva
Multifacetado  Otimizar  Nível organizacional  Demandatário
Printar  Estartar  Coach  Brunch  Networking 
Formulação  Agregar valor Coletivo  Mobilização
Humanizar   Ação afirmativa  Ação integrada
Economia criativa  Empreendedorismo  Meritocracia
Fazer uma fala  Demanda  Inclusivo  Vulnerabilidade
Agitador cultural  Apropriação cultural  Sustentabilidade