Comportamento

O que tem na cabeça do adolescente?

22/04/2017
por Mírian Ribeiro
O filho cresceu, a criança se foi e entra em cena um personagem de altos e baixos, que gosta de contestar e cobra privacidade: o adolescente, um ser situado entre a infância e a vida adulta que tem a inconstância como principal característica. “A adolescência é um período do desenvolvimento humano marcado por comportamento intenso, volúvel e contraditório, que por vezes inclui desafios e brincadeiras perigosas”, afirma a psicóloga Gisela Monteiro, que na terça-feira (25) ministrará a palestra “Comportamento transgressor do adolescente contemporâneo – como enfrentá-lo”, a partir das 19h, no auditório do Smart Center.
 
Nos últimos dias uma perigosa brincadeira pela internet, iniciada na Rússia, tem preocupado pais de adolescentes. É o Jogo da Baleia Azul, como ficou conhecida a sequência de 50 desafios que envolvem isolamento social, automutilação e incentivo ao suicídio. Para Gisela, entretanto, o desafio teria que ter poder sobrenatural para exercer tanta influência. 
 
“Até agora não há comprovação que os suicídios ocorridos estejam relacionados ao desafio”, diz. Ela acredita que os jovens que procuram por esse jogo é que merecem uma atenção maior, pois eles entram nesses grupos de interesse comum atraídos pelo tema. Portanto, nada de abaixar a guarda. “Sempre é preciso cuidado com tudo o que se relaciona aos adolescentes, principalmente automutilação e risco de suicídio”, alerta.
 
Transgressores por natureza
A adolescência é um momento de descobertas, em que o jovem experimenta e testa limites (e a paciência, principalmente dos pais). Muitos comportamentos considerados como afronta são, na verdade, uma necessidade própria da idade. Assim como a algazarra típica de grupos de adolescentes andando pelas ruas, seja hoje ou há 50 anos. Nesta fase da vida eles clamam por liberdade, mas necessitam ao mesmo tempo de limites bem colocados.
 
No passado, bastava um olhar, no máximo uma palavra do pai ou da mãe para o adolescente se recolher ao papel que lhe era reservado na estrutura familiar. Hoje, pais e educadores, meio atônitos, se sentem perdidos entre  a liberalidade e a proibição.
 
“A adolescência é a fase anterior a se tornar adulto e implica no desenvolvimento da identidade, do quem eu sou, o que gosto, da orientação sexual. É uma fase marcada por certa inconstância, impulsividade. O jovem precisa se sentir pertencendo a um grupo, testar limites”, diz Gisela Monteiro. 
 
A psicóloga chama a atenção para a contradição de muitos pais, que temem (com razão) pela violência urbana, mas não se preocupam com o que acontece dentro de casa. “Deixa o filho ou a filha adolescente dormir com a (o) namorada (o) em casa, desconsiderando o risco de gravidez indesejada e doenças, não controlam a ingestão de bebidas alcoólicas, de drogas. Hoje, a garotada bebe até cair, e bebida de baixa qualidade. Perde a noção do que está fazendo”.
 
Gisela ressalta que o adolescente tem atração por transgredir, fazer algo fora do padrão, por isso recomenda aos pais que, na dúvida, acompanhem a rotina do filho, convidem os amigos para irem a sua casa, conheçam os outros pais, busquem o filho na balada. “Trabalhar fora não é impedimento para acompanhar a vida do filho, assim como ficar em casa não garante ser vigilante. É importante estabelecer regras, dizer ‘não’ quando preciso”.
 
Na outra ponta, o adolescente muito passivo, recluso, que mal se posiciona, também é motivo de preocupação, pois contraria o comportamento juvenil. “O desejável é que o adolescente esteja experimentando, por isso deve ser estimulado a fazer algo legal, como tocar um instrumento, praticar esporte, se ligar a um hobby”.
 
Sinais de alerta
Segundo Gisela Monteiro, na última década cresceu em 10% a incidência de suicídios entre jovens de 15 e 29 anos. “90% dos suicidas têm quadros relacionados com doença mental, de acordo com a Organização Mundial de Saúde”, diz.  Alguns sinais de potencial risco:
 
Mudança no padrão de comportamento, no padrão do sono (mais ou menos), alimentação (preocupação excessiva com o peso, comer muito ou pouco), questionamentos relacionados ao fim da vida, baixo rendimento escolar, introspecção, isolamento. “O melhor é pecar por excesso, não por falta. Na dúvida, procure um especialista, acompanhe a rotina e, principalmente, estimule para que ele se expresse”, aconselha a psicóloga.

É preciso ter regras claras
A vida está difícil para o adulto, reconhece Gisela, por isso os pais não devem ter constrangimento ou pudor em estabelecer regras claras de convivência para seu filho. “Se o adolescente ignora as regras e passa as madrugadas em frente ao computador, indo dormir pela manhã jogando videogame, tire a internet, desligue a luz do quarto. Quem trabalha tem o direito de dormir a noite toda. O dever do adolescente, pelo menos o de classe média, é unicamente estudar, e nem isso quer fazer? Hoje se ouve demais, cede demais, e eles fazem o que querem”.
 
Nesta fase da vida há muita disposição para o novo e para os desafios, o que, aliado à inexperiência, conduz a perigosos comportamentos de risco. “Pais e educadores devem colocar em discussão as atitudes dos adolescentes e deixar claras as responsabilidades pelas escolhas que fazem. Não podem assumir por eles”. É a oportunidade de deixar o filho crescer e amadurecer para a vida.

Serviço – Palestra “Comportamento transgressor do adolescente contemporâneo- como enfrentá-lo” com Gisela Monteiro, terça-feira (25), a partir das 19h, no auditório do Smart Center (Rua José Cabaleiro, 15, Gonzaga). Voltada principalmente para pais, responsáveis, estudantes e profissionais de saúde e educação, mas aberta a todos. Ingressos pelo site Sympla (http://bit.ly/bannerface).