Digital Jazz

Livro Bossa Nova e outras bossas

22/07/2017

O livro de mais de 300 páginas e do tamanho de uma capa de LP, teve uma tiragem de apenas 2.500 exemplares. 

O livro está esgotadíssimo e não preciso nem dizer que se tornou um verdadeiro objeto de desejo dos amantes da Bossa Nova e da música popular brasileira.

Os autores desta façanha foram o meu saudoso amigo Caetano Rodrigues, que viveu ao vivo e a cores no Rio de Janeiro todos os grandes momentos da Bossa Nova desde o seu início e também o músico e produtor Charles Gavin.

Graças a um gesto muito especial do meu querido amigo Carlos Eduardo Pappacena Carneiro, um dos donos da famosa loja de roupas Ao Camiseiro, consegui adquirir na semana passada o meu raro exemplar numerado – 0999. Número muito especial, que valorizou ainda mais os 12 anos de espera pelo livro. Gratidão!

A história deste livro começou em 1999, quando os dois se conheceram através de um amigo comum, que era dono de um sebo de discos de vinil.

Neste livro “Bossa Nova e Outras Bossas – A Arte e o Design das Capas dos LPS” estão reunidos grande parte da coleção pessoal do Caetano Rodrigues, um dos maiores colecionadores de discos do Brasil que tive a felicidade de conhecer. 

Eu tive a sorte e o privilégio de ver e ouvir vários destes discos ao vivo. Quando me mudei para Curitiba, onde vivi por 2 anos, fiquei hospedado na sua casa nos 3 primeiros meses. Foram dias e noites inesquecíveis, onde pudemos compartilhar muitas histórias e ouvir muita música.

O prefácio do livro só poderia ser assinado pelo também querido amigo Ruy Castro, uma das maiores autoridades sobre Bossa Nova deste planeta e que considerava a coleção de discos de Bossa Nova do Caetano Rodrigues, como a mais importante do Brasil.

A história da Bossa Nova foi contada através das capas dos discos, mostrando com absoluta competência vários momentos importantes do gênero musical que revolucionou a nossa MPB.

As raridades são muitas e selecionei duas: a primeira, o disco do pianista americano Jack Wilson gravado em 1967, quando Tom Jobim morava em Los Angeles. Tom frequentava o bar onde o pianista se apresentava regularmente e eles decidiram fazer um disco juntos. Como Tom Jobim já tinha contrato com outra gravadora ele participou das gravações, curiosamente com o nome de Toni Brasil no violão. A segunda, o disco “Bossa é Bossa” da turma da Bossa Nova, da qual fazia parte Roberto Menescal com apenas 21 anos. Foi a primeira vez que a expressão Bossa Nova apareceu na capa de um LP.

O livro foi lançado oficialmente em 17 de março de 2005 na cidade do Rio de Janeiro, na saudosa loja de discos Modern Sound, que contou com a apresentação musical de Roberto Menescal, Wanda Sá, Durval Ferreira, Leny Andrade, Pery Ribeiro entre outros. Uma verdadeira festa da Bossa Nova!  Faço aqui também uma singela homenagem ao saudoso amigo Caetano Augusto Rodrigues.

Ana Caram – “Hollywood Rio”

A cantora Ana Caram, em sua carreira, lançou no exterior pelo selo Chesky Records, uma gravadora independente de Nova Iorque, cujo dono David Chesky era um apaixonado pela música do Brasil, vários discos de grande qualidade no mercado. Com muita Bossa Nova e MPB.

Sempre gostei muito do seu estilo de cantar e da sua personalidade forte, definidos desde o seu primeiro trabalho internacional lançado em 1989 e que contou com a bênção especial de Tom Jobim, um padrinho de peso.

Curiosamente, o tema “Leve-me Pra Lua”, uma versão brasileira de “Fly Me To The Moon”, faixa do seu trabalho “Blue Bossa” (2001), tocou até na abertura da novela das seis da Rede Globo, “Amor Eterno Amor”, trazendo grande repercussão para seu trabalho. Foi decisivo para que mais pessoas pudessem conhecer seu talento.

Em 2004, lançou “Hollywood Rio”, último disco comercial da sua carreira, pois, em 2005, a cantora assumiu sua religiosidade, se convertendo como Adventista do 7º. dia e atualmente Ana Caram somente se apresenta em eventos religiosos e nas igrejas, interpretando apenas o repertório gospel.

Neste trabalho destaco os temas clássicos, cantados em português, italiano e inglês, numa levada moderna e inspirada. São eles: “Estate”, “The Summer Knows”, “The Shadow Of Your Smile”, “Smile” e “As Time Goes By”, entre outros.

Além de Ana Caram nos vocais e violão, merecem destaque os músicos Michel Freidenson nos pianos, teclados e arranjos e o saxofonista e flautista Lawrence Feldman, que deram ao disco um jeitinho bem brasileiro. 

“O Piano de João Donato”


Ouvir João Donato no formato piano solo é bem raro e extremamente prazeroso. Em 2007, pelo selo Deckdisc, ele lançou “O Piano de João Donato”, uma reunião de seus temas favoritos, que ele ouvia desde a adolescência, incluindo composições autorais, de uma forma bem intimista.

Considero como um disco de memórias musicais e curiosamente foi feito sem ensaios e todos os “takes” foram gravados de uma só vez, sem retoques para corrigir as interpretações. 

Nem seria preciso, pois as gravações ficaram perfeitas.

Você poderá conferir, nas interpretações leves do disco, as várias influências deste genial pianista acreano, que foi para o Rio de Janeiro ainda jovem e que se tornou um dos grandes expoentes da nossa música. 

Esteve na Bossa Nova, foi desbravador nos Estados Unidos e, quando retornou ao Brasil, permaneceu ativo e muito criativo. E faz isso muito bem até os dias de hoje.

Sua figura é carismática e, por onde passa, apesar de um jeito tímido, conta histórias sempre muito interessantes e engraçadas.

Os temas “Outra Vez”, “Brisa do Mar”, “Manhã de Carnaval”, “A Paz” e os clássicos “Invitation”, Speak Low” e “Repetition” ficaram muito inspirados e especiais e podemos escutar por várias vezes sem cansar.

Se você quer ser levado a um lugar incomum, ouça atentamente o disco e se surpreenda.