Comportamento

De volta ao fuso escolar

05/08/2017

Agosto chegou e o tempo livre para brincar, os horários flexíveis para dormir e comer, jogar videogame até tarde ficaram para trás. É hora de arrumar a mochila, vestir o uniforme e voltar às salas de aula. Para muitos pais de crianças e adolescentes, o momento é de estresse, choradeira e preocupação. Mas, acredite, é possível, tanto para pais como para os filhos, readaptar-se à rotina escolar sem sofrimento.  A dica, garantem especialistas, é planejamento e colaboração.

Depois de semanas sem acordar cedo ou fazer tarefas de casa, é normal que a criança esteja com um ritmo mais lento no início das aulas. Planejar o retorno à rotina, restabelecendo os horários habituais uma semana antes de voltar às aulas, pode ajudar neste processo. Para que ela se familiarize com a ideia de que as férias estão chegando ao fim, comece diminuindo o tempo assistindo TV, na internet e envolva a criança na organização do material escolar.
 

Injeção de ânimo

Para a consultora Martha Vergine, que dá cursos sobre técnicas para um estudo eficaz, o diálogo entre pais e filhos é fundamental.  "Assim como nós, adultos, precisamos de um tempo para retomar a concentração no retorno das férias do trabalho, a criança e o jovem também precisam. Comece aos poucos contextualizando a importância da escola e de cada matéria. Explique que a matemática é importante para ele administrar a mesada, por exemplo".

A especialista indica que os pais criem uma cultura de estudos em casa, mesmo durante as férias. "Em casa, é o momento em que os filhos aprendem. Por isso, estimule-o a estudar todo dia. Manter um cantinho para esta finalidade é uma boa dica. A criança pode ajudar a decorar o local, com seus lápis e desenhos. Ainda que seja na mesa do jantar, o cérebro dela já entende que naquele espaço o momento é de atenção".

Evitar comentários que desmotivem o retorno às aulas (como reclamar do excesso de lição de casa ou do tempo perdido no trânsito para levá-los à escola) é uma atitude sutil que contribui neste estímulo. 

"Alguns pais arrumam a criança em cima da hora, esquecem itens do material escolar em casa, ou falam que tirar boas notas 'não é mais do que obrigação'. Além do mau exemplo, que pode fazer com que ela não tenha compromisso com os estudos, leva um conceito ruim pra criança. Tente mostrar que o momento de aprender ajuda a entender o mundo, a si mesmo e a viver melhor", indica Martha.

Para ajudar a encarar a volta às aulas com tranquilidade, a melhor estratégia é conversar sobre as coisas bacanas que ele está acostumado a fazer na escola: os jogos, brincadeiras e atividades em grupo. Relembre exemplos positivos da sua vida escolar e motive a criança a reencontrar os amigos. 

Uma dica é organizar um encontro entre os colegas de classe dias antes de retornar à escola. Assim, eles poderão conversar sobre suas experiências durante as férias e dividir a ansiedade sobre o começo do novo semestre. 

 

O que você aprendeu hoje?

Mostrar interesse pela vida escolar do filho também é uma maneira de incentivá-lo a estudar. Pedir para ver o caderno ou perguntar sobre o que ele aprendeu no dia são práticas que indicam o quanto você valoriza a educação.   

A pedagoga e coach infantil Suzana Nishie, lista, em seu site Mamis na Madrugada, algumas dicas de boas perguntas para fazer às crianças depois da escola. "Perguntas mais elaboradas, que puxam pela memória recente da criança, despertam maior vontade de ser respondidas. Quando ela percebe no adulto interesse verdadeiro pelo que ela fez, viveu ou sentiu, passa a ter nele uma referência de apoio, confidencialidade e escuta", indica Suzana.

Alguns exemplos de perguntas são 'Por que valeu a pena sair de casa hoje para ir à escola?' ou Você pode me ensinar alguma coisa nova que aprendeu hoje?'. Esse diálogo abre espaço para que a criança se expresse, permitindo que os pais identifiquem, por exemplo, o que tem causado falta de interesse em frequentar a escola. 

 

O papel da escola
A adaptação na volta às aulas não é tarefa exclusiva dos pais. As escolas podem e devem contribuir. Criar atividades agradáveis, pedir para os alunos trazerem um jogo ou uma foto daquilo que fizeram nas férias e voltar à rotina de aulas aos poucos, fazem com que a criança se sinta estimulada e tenha segurança neste retorno.

Para a coordenadora pedagógica do Colégio Presidente Kennedy, Carla Bastos, a escola deve focar no acolhimento dos alunos antigos e na integração dos novos. "Nós colocamos mensagens de boas-vindas na entrada da escola e em nossas redes sociais. Além disso, promovemos dinâmicas e brincadeiras para estimular as turmas a compartilharem o que viveram nas férias". 

Carla, que trabalha com crianças do ensino fundamental, entre 6 e 10 anos, diz que não observou dificuldade entre elas na volta das atividades. "Nós percebemos que alguns alunos ainda estão em um ritmo mais lento, mas a maioria já estava adaptada no segundo dia de aulas. Até disseram que sentiram saudade da escola", brinca.

Os adolescentes também não sofrem tanto para retomar a rotina. A diretora do colégio Universitas, Ana Célia Mazzetto, lembra que muitos jovens não abandonam os estudos nas férias, matriculando-se em cursos intensivos de idiomas. A tática da escola é começar o mês de agosto com uma semana de plantão de recuperação para que os alunos não iniciem o novo bimestre com dúvidas que ficaram do anterior.  

Para ela, a ideia de reencontrar os colegas de classe torna a volta às aulas mais interessante. "O maior grupo social do adolescente é a escola. É onde eles encontram os amigos, realizam atividades. Nestas férias, organizamos um intercâmbio para a Inglaterra, por isso, nossos alunos voltaram bem motivados para contar como foi essa experiência".
 

De volta à rotina escolar

De olho no relógio: Os pais podem estabelecer um horário de ir mais cedo para a cama. Desta forma o relógio biológico vai se habituando ao novo ritmo para evitar o sono excessivo nos primeiros dias de aula.

Organizar o material: O material que será usado no semestre deverá ser arrumado com antecedência, para evitar atrasos e não deixar livros ou cadernos importantes de fora. Aproveite para checar se os itens estão em boas condições ou se precisam de reposição.

Atenção ao uniforme: Conferir se as roupas estão limpas e passadas  ou se precisam de ajustes. Como os estudantes estão em fase de crescimento, as roupas podem não servir mais de um semestre para o outro.

Boa alimentação: Crianças e adolescentes devem tomar um café da manhã reforçado. Ingerir alimentos saudáveis é importante para melhorar a concentração nas aulas. Levar uma fruta para o lanche também é recomendado.

Criar metas para o semestre: As notas estão ruins em matemática? Vale dedicar mais tempo à matéria, procurar exercícios diferentes na internet ou baixar aplicativos que auxiliem a fixação do conteúdo. 

Relembrar o conteúdo: Estudar nas férias é importante. O ideal é fazer uma breve revisão do conteúdo para ver se está tudo claro ou se existem tópicos que geram maior dificuldade. Assim, o aluno pode conversar com o professor, logo no começo das aulas e não se atrasar na matéria.

Sair mais cedo de casa: Com muitas escolas voltando à ativa ao mesmo tempo, organize a rotina para que haja tempo suficiente para o trajeto até a escola, já que o tráfego é mais intenso a partir da volta às aulas.

Trocar experiências: Trocar as experiências com colegas é uma forma de compartilhar conhecimento. Os professores também podem ajudar neste retorno com exercícios focados nos novos temas trazidos pelos estudantes e propor discussões sobre tais assuntos.
Fonte: Grupo A Educacional