Santos

120 anos italianíssimos

19/08/2017

É possível perceber a presença da cultura italiana praticamente em cada esquina de Santos – o número de pizzarias quase que deixa de ser força de expressão. A alegria, a comida, a música, o futebol… Embora não existam dados recentes, estima-se que a comunidade italiana, incluindo nativos e descendentes, é o terceiro grupo estrangeiro mais expressivo em Santos, superado apenas por portugueses e espanhóis.

O desenvolvimento da colônia na cidade teve contribuição decisiva da Società Italiana di Santos, entidade que na terça-feira (22), completa 120 anos de existência. Para comemorar a data, será realizada uma grande festa, no próximo sábado (26), com tudo o que os italianos têm de melhor: boa comida, música, dança e muita alegria. 

"A ideia é fazer como se faz na Itália: reunir os amigos num ambiente informal e alegre, em torno de uma mesa com boa comida, bebida à vontade e música típica para animar a festa", explica a presidente da entidade, Maria Isabel Porco, que tomou posse em 1° de julho. 

O evento terá apresentação do grupo musical "I Cantanti di Italia" e contará com drinques oferecidos pela Campari, sorvetes da Cuor di Crema, sorteio de brindes e desconto para quem comprar um cruzeiro da MSC. 

Ela explica que a festa não é voltada apenas para nascidos ou descendentes, mas todos os entusiastas da cultura italiana. Os convites para a festa custam R$ 120 (para sócios da entidade) e R$ 140 (para não-sócios). Mais informações na secretaria da Società (Av. Ana Costa, 311, cobertura, das 14 às 22 horas, de segunda a sexta, e aos sábados das 9 às 13 horas). Telefone: 3222-9585.

Presidente programa novas atividades

A festa de 120 anos será o primeiro grande evento da entidade sob a presidência de Maria Isabel, Porco, uma mulher cuja trajetória e personalidade traduz fielmente o que significa ser uma ítalo-brasileira. Filha de uma brasileira e um italiano, ela dá aulas do idioma e frequentemente é requisitada para dar apoio para italianos no Brasil ou brasileiros naquele país. 

Sua escolha para presidir a entidade foi praticamente uma aclamação e ela relata que decidiu aceitar o cargo para retribuir o que a Società já fez por ela. Além do apoio da comunidade, ela assume o comando com muito entusiasmo e planos. "O objetivo é atrair e resgatar a comunidade italiana e seus descendentes, que foram se dispersando ao longo dos anos, e ao mesmo tempo preservar e divulgar nossa cultura, abrindo nosso espaço não apenas aos sócios, mas a todos os interessados", completa.

Maria Isabel explica que quer promover atividades e eventos para atrair as novas gerações. Como exemplo, ela cita o curso de idioma para crianças a partir de 4 anos e o projeto Cine Fórum, que exibe somente filmes italianos, aberto a todos.
 

Imigrantes chegaram pelo Porto de Santos

Em meados do século 19, a Itália passava por profundas modificações. Antes dividido em estados, o país se unificou, em 1860. A economia deixou de ser quase que exclusivamente rural para começar a se industrializar. A cobrança de altos impostos e a concorrência desleal de latifundiários "quebraram" os agricultores familiares. Endividados, tiveram que vender suas propriedades e se tornar trabalhadores braçais ("bracciante"). Milhões de italianos foram empurrados para a miséria. Muitos morreram de fome, ou sobreviveram se alimentando apenas com polenta, já que carne, trigo e outros alimentos eram inacessíveis. 

Foi neste contexto que surgiu a oportunidade de ir para um país desconhecido, do outro lado do oceano. O governo brasileiro oferecia as passagens, emprego e, o mais importante, a perspectiva de uma vida feliz. O que os italianos não sabiam à época é que os motivos deste "estendida de mão" pouco tinha de nobre. O Brasil, que acabara de abolir a escravidão de negros, queria contar com mão-de-obra barata e, ao mesmo tempo, "embranquecer" a população. 

Os registros dos primeiros italianos no Brasil datam de 1820, mas o fluxo imigratório se intensificou a partir de 1836 e atingiu seu auge em 1913. Estima-se que o país recebeu, entre 1820 e 1929, mais de 1,150 milhão de italianos. Boa parte deles desembarcou pelo Porto de Santos (devido à proximidade das lavouras de café no interior de São Paulo e os estados do sul do país). Alguns preferiram permanecer em Santos. 

Sem conhecer a língua, parentes ou conhecidos, a maior parte sentia-se completamente desnorteada. Com o objetivo de ajudar os recém-chegados, os italianos já estabelecidos fundaram, em 22 de agosto de 1897, a Società Italiana di Beneficenza. 

Com a diminuição do fluxo migratório, o perfil da entidade foi mudando e acabou adquirindo um caráter menos assistencialista e mais social, tornando-se um ponto de encontro da colônia italiana em toda a Baixada Santista, e seu nome foi alterado para Società Italiana di Santos. 

Após passar por duas sedes – uma na antiga Rua do Rosário (atual João Pessoa), 122, e outra onde hoje funciona a sede do o Sindicato dos Estivadores- a entidade passou a ocupar uma imponente casa na avenida Ana Costa, cuja fachada chamava a atenção pela escultura da loba amamentando dois meninos – Rômulo e remo. Segundo a mitologia romana, eram gêmeos, filhos do deus Marte que foram jogados no rio e só sobreviveram por serem cuidados pela loba. Adulto, Rômulo fundou Roma e foi seu primeiro rei.

A casa foi demolida e, no terreno foi erguido o edifício Itália. Inaugurado em 1993, o prédio tem nove andares. A associação possui os dois últimos andares, com piscina e área de convivência na cobertura, além do salão de festas no mezanino, que é alugado para festas e eventos corporativos.