Comportamento

Pedofilia, o mais covardes dos crimes

26/08/2017
Pedofilia, o mais covardes dos crimes | Jornal da Orla

Se existe algo que une as pessoas é o asco à pedofilia. O caso mais recente é o do educador Leonardo Ribeiro Fernandes, preso em flagrante na semana passada após marcar um encontro com um adolescente de 13 anos, pela internet, com fins sexuais, conforme ele confessou na delegacia. O que deu um contorno ainda mais dramático ao episódio foi o fato de que ele trabalhava no programa Escola Total, que atende mais de 3 mil crianças.

A pedofilia ainda é um tabu em nossa sociedade. Por estar relacionado a outro, o sexo, o assunto é tão pouco discutido entre as famílias. Em um mundo hiperconectado, onde pais e filhos mal conseguem conversar sobre assuntos do dia a dia, este é um tema que acaba ficando de lado.

Diálogo e vigilância
Estreitar os vínculos com os filhos e estar informado sobre os assuntos que permeiam a pedofilia são as principais medidas para proteger a criança, garante a delegada federal Cassiana Saad. Especialista em investigações de crimes sexuais contra crianças, ela garante que a vigilância constante e o diálogo são fundamentais para evitar o abuso sexual. “É importante que haja estreitamento do vínculo entre pais e filhos. A criança deve perceber que os pais lhe dão atenção e carinho, para estabelecer uma relação de confiança”.

É baseado nesta conexão familiar que o diálogo mais aberto se faz presente. A educadora e terapeuta sexual Christiane Andréa diz que para cada idade há uma linguagem diferente de abordar o assunto. “Conversar sobre sexualidade com a criança desde sempre é fundamental. Uma criança de 4 anos, por exemplo, já entende a relação do toque. Então, você deve explicar que ela não pode deixar ninguém tocá-la em certas regiões do corpo; que ela não deve tirar a roupa e nem sentar no colo de estranhos.  Com os maiores, oriente sobre o fato de que qualquer pessoa pode ser um abusador”.

Perigo mora ao lado
Especialistas explicam ser impossível traçar um perfil de pedófilo em potencial, pois não há nenhuma característica física, profissão ou tipo de personalidade comum a todos eles. O que há, explica a delegada Cassiana, são atitudes muito parecidas entre esses criminosos. “O que podemos observar são as estratégias de ação desses pedófilos. Eles se aproximam da família, observam as crianças mais carentes, dão presentes. Tudo para franquear o acesso aos menores”, alerta.

Por não haver um padrão de personalidade, o abuso surge de onde menos se espera: um (a) professor (a), vizinho (a), avô, tio ou até mesmo o pai da criança pode ser o agressor. “É fundamental saber quem cuida dessa criança, quem são os professores, quem dá banho, quem são os vizinhos. Às vezes, a criança nem percebe que está sendo abusada e não vê aquilo como algo ruim”, alerta Cassiana.

Crime e distúrbio
A Organização Mundial da Saúde classifica a pedofilia como um transtorno caracterizado por um comportamento sexual no qual a fonte de prazer está em crianças e adolescentes.

A medicina trata o pedófilo como um paciente que necessita de tratamento terapêutico e de medicamentos que atuam no processo de compulsão. Em alguns países, por exemplo, existem tratamentos hormonais que incluem a castração química. Mas o assunto ainda é discutido com cautela no Brasil.

Isso quer dizer que o pedófilo só passa a ser um criminoso quando ele comete ato sexual com a vítima. Há casos, dizem especialistas, de portadores desse transtorno que nunca tiverem nenhum contato com crianças. Portanto, é bom entender: apesar de frequentemente estarem associados, pedófilo e molestador são coisas diferentes.

O molestador, por sua vez, faz isso por opção e mantém relações de abuso com qualquer pessoa. Quando percebe a chance de fazer isso com uma criança, ele se aproveita.

Rede social não é lugar de criança
Dados da Safernet (ong que defende os direitos humanos na internet) apontam que o Brasil é o quatro país do mundo em casos de pornografia infantil. O acesso das crianças e a exposição de fotos delas em redes sociais facilitam a ação dos pedófilos.

A delegada Cassiana lembra que, cada vez mais, crianças enviam fotos íntimas para desconhecidos via internet. “Os pais precisam avaliar se é necessário ela ter um celular e estar na rede social. Os criminosos agem nestes espaços, criam perfis falsos, que têm relação com coisas de interesse das crianças. Jogos on-line também são perigosos, pois os adolescentes permanecem muito tempo conectados e trocam mensagens”.

Há um caso de uma menina de 10 anos que foi obrigada a práticas sexuais com o irmão mais novo em frente à câmera, sob ameaça de ter uma foto íntima publicada na internet. “A vítima fica completamente nas mãos de um psicopata como esse, que tem prazer em reduzir as pessoas a objetos dele”, alerta a delegada.

O ideal é limitar o acesso dos menores à internet, usando de filtros de controle dos pais em sites e estabelecendo horários de conexão. Outra dica é manter o computador na sala, e não no quarto da criança, para controlar o que é acessado.

Infância violada
A notícia de que um filho fora abusado sexualmente é estarrecedora. Mas, conforme explica a terapeuta Christiane, a criança e o adolescente apresentam mudanças de comportamento que já indicam que algo não está certo.

“Sentir medo, fazer xixi na cama, agressividade, não dormir direito e sexualidade aflorada incomum para a idade são indícios de que ela pode estar sofrendo abuso. É preciso investigar e não se omitir. Alguns pais se negam a compreender o que está acontecendo. Para eles, é como se tivessem falhado na proteção do filho”, diz a terapeuta.

Ela indica a busca imediata por apoio psicológico e médico. “A criança precisa ser acompanhada por profissionais para que ela coloque para fora o sofrimento que viveu. O abuso sexual infantil é uma dor na alma da criança, uma dor da infância violada”.

Denúncias
O Disque 100 é o Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescente do Governo Federal. Crimes de abuso e pornografia infantil na internet podem ser denunciados no site Safernet.

7 passos para proteger as crianças do abuso sexual
Fonte: Organização Americana ‘Darkness to Light

Para proteger os menores diante de qualquer forma de abuso sexual, a organização leva ao conhecimento dos pais, alguns cuidados e passos:

1. Estar bem informado sobre o abuso sexual infantil ajuda a proteger as crianças. 
– Uma de cada três crianças é abusada por membros da sua família;
– Os abusadores tratam de estabelecer uma relação de confiança com os pais das suas vítimas.
– Os abusadores se encontram frequentemente em lugares que permitam um fácil acesso às crianças, tais como a casa da vítima, clubes desportivos, escolas ou centros religiosos.

2. Você deve saber com quem você deixa a criança e o que fazem. A maioria dos casos de abuso sexual infantil acontece quando um menor está sozinho com um adulto.
– O abusador começa uma amizade com a sua vítima, ganhando sua confiança para conseguir passar tempo a sós com ela.
– Quando você deixar o seu filho sozinho com outra pessoa, seja adulto ou adolescente, procure que possam ser observados.
– Supervisione o uso da internet.
– Quando você inscrever o seu filho em alguma atividade esportiva, acampamento, etc., busque saber o tipo de responsabilidade e preparação os monitores têm no cuidado de crianças. Esteja certo que eles estão preparados para prevenir, identificar e reagir contra um possível abuso sexual de menores.
– Fale com o seu filho quando ele regressar de alguma atividade que tenha adultos. Preste atenção ao seu estado de ânimo e avalie se ele pode lhe contar com desenvoltura como passaram o tempo.

3. Fale abertamente do assunto com o seu filho. Entenda porque as crianças têm medo de contar o acontecido. 
– O abusador pode manipular, ameaçar e envergonhar a criança e a acusa de ter permitido que ocorresse o abuso dizendo que seus pais vão ficar bravos quando souberem.
– As crianças não revelam o abuso por temer deixar seus pais frustrados.
– O abusador convence a criança que o abuso é ‘bom’ e que é apenas uma ‘brincadeira’.
– Fale com seus filhos sobre o seu corpo, de como cuidá-lo, defendê-lo, etc. ‘Meu corpo é meu território, e ninguém o toca sem a minha permissão’. Esse deve ser um lema para os meninos e as meninas.
– Instrua os seus filhos para que não repassem endereços de e-mails, endereço ou telefone de casa, etc.
– Se a criança se sente incômoda ou reage a estar com determinado adulto, pergunte para ela o porquê, em particular.
– Compartilhe informações sobre o abuso sexual infantil. Deste modo, os potenciais abusadores saberão que você está alerta.

4. Aprenda a detectar e a identificar os sinais do abuso sexual.
– Os sinais físicos do abuso sexual são pouco comuns, no entanto, a irritação, a inflamação ou caroços na região genital, as infecções das vias urinárias ou outros sintomas devem ser investigados com detalhe.
– Os sinais emocionais ou comportamentais são mais comuns, que podem ser identificados por uma ansiedade, dor abdominal crônica, constantes dores de cabeça, comportamento perfeccionista, introspecção ou depressão, até uma raiva e rebeldia inexplicáveis.
– Quando a criança fala abertamente sobre sexo de uma maneira atípica para a sua idade também pode ser um sinal de alerta.
– No caso em que haja alguma suspeita de abuso sexual, a criança deve ser levada imediatamente ao médico.

5. Não reaja com exageros a um possível caso de abuso. Denuncie! Informe-se e saiba como reagir. 
– A sua reação tem um grande impacto sobre uma criança vulnerável. Se você responder com raiva ou incredulidade, o menor se fechará e se sentirá ainda mais culpado.
– Ofereça sempre o seu apoio à criança. Escute-a, não duvide da sua palavra e acredite no que está dizendo. Agradeça o fato de ter lhe contado e reconheça sua valentia.
– Anime a criança para que te conte tudo, mas que não se aprofunde muito nos detalhes. Isso pode alterar suas recordações dos fatos.
– Busque ajuda e orientação profissional capacitado para falar com a criança. Busque conhecer os passos legais para denunciar.
– Não entre em pânico. As crianças vítimas de abuso sexual que recebem apoio e ajuda psicológica podem superá-lo.

6. Haja sempre, ainda que existam apenas suspeitas e não provas. 
– As suspeitas e a falta de provas podem dar medo, mas confie na sua intuição e conheça a importância de denunciar ou levar ao conhecimento de um serviço de proteção ao menor.

7.  Envolva-se. Seja voluntário de apoio às organizações que lutam contra o maltrato e o abuso sexual a menores. 
– Use a sua voz e o seu voto para converter a sua comunidade em um lugar mais seguro para as crianças.
– Apoie a legislação que ampara as crianças.
– Rompa o silencio. A prevenção, assim como a recuperação, dependem disso.