Comportamento

Z: geração de engajados e mimados

09/09/2017

Com tantos estímulos, excesso de informação e tecnologia, a Geração Z, formada por pessoas nascidas depois de 1995, possuem características peculiares, incompreendidas pelas gerações anteriores – os Baby Boomers (nascidos na Segunda Guerra Mundial até 1960), os da geração X (nascidos nos anos 60 até o final de 1970) e os Millennials (nascidos a partir de 1979 até meados da década de 1990). 

A geração que nasceu com o celular na mão já causa impactos nas sociedades, principalmente, no que diz respeito ao mercado de trabalho e à indústria de consumo, que estão se adaptando para atrair o novo tipo de profissional e de consumidor. Especialistas apontam que os Zs estão mudando o mundo como conhecíamos. Tomara que para melhor!

 

Inovadores e pragmáticos
O termo "Z" está ligado à palavra zap, em inglês, que significa fazer algo rapidamente, e define perfeitamente esta geração. Por terem nascido em um mundo conectado, esses jovens convivem bem com o excesso de informações ao qual são apresentadas a todo instante e conseguem aproveitar apenas o que consideram importante. "Eles são altamente engajados e conectados, criativos e inovadores, abertos à diversidade, querem ter prazer no trabalho e horários flexíveis", explica a psicóloga Gisela Monteiro.

Pesquisas mostram que os "nativos digitais" são menos motivados por dinheiro que os Millennials. São jovens que cresceram em tempos de recessão econômica, tensões sociais e guerras ao redor do mundo. Isso faz com que sejam mais conscientes e tenham uma visão menos idealista e mais prática e empreendedora do que precisam fazer para alcançar seus objetivos. 

"Eles querem apenas e tão somente trabalhar no que gostam e ficarem ricos logo. Sonham em serem CEOs de uma empresa ou criarem uma própria, que desponte rápido e ganhe um enorme valor de mercado em pouco tempo", diz a psicóloga.

 

Merthiolate que não arde
Se por um lado a gen Z se destaca pela criatividade, por outro, é uma geração que não sabe ouvir 'não': é despreparada para a decepção e tristeza. Em seu canal no YouTube, o professor e escritor Murilo Gun aborda o assunto no bem-humorado vídeo "Teoria do ardor Merthiolate"

"Na minha infância, as crianças eram mais calmas e, de vez em quando, deixavam de fazer merda (sic). Sabe por quê? Porque o Merthiolate ardia muito! Ele moldou a personalidade da geração de crianças dos anos 80, que desde cedo se acostumaram a ser forte, engolir choro e aguentar dor. A ausência do ardor do Merthiolate é a responsável por essa geração atual, que não sofreu na infância", brinca.

Gisela corrobora a opinião do escritor. "São jovens ansiosos, individualistas, superficiais. Têm dificuldade de se concentrar e de aprofundar análise. Uma palavra que sintetiza isso tudo é que são mimados", diz a psicóloga. 

Essas características também estão relacionadas ao ambiente familiar. A possibilidade de ter inúmeras opções de escolhas os torna onipotentes e protagonistas de tudo. Para a especialista, o excesso de cuidados agrava essas particularidades. 

"Isso os impede de vivenciarem uma gama maior de emoções, principalmente aquelas ligadas às contrariedades, derrotas, frustrações. São esses jovens que daqui a 20 anos estarão ocupando cargos em empresas públicas e privadas, gerenciando cidades e tomando decisões cruciais. Conectá-los com a realidade me parece uma tarefa importantíssima".

 

Trabalho engajado com horários flexíveis

Avessos às hierarquias e jornadas engessadas, os jovens da geração Z têm quebrado paradigmas dentro das empresas. Por não se submeterem a condições de trabalho que não os satisfaçam nem abrirem mão do tempo livre, eles têm forçado os empresários a mudar suas estratégias. Para eles, o trabalho deve ser uma extensão de suas casas. Tanto que a maioria prefere atuar em home office, em vez das longas e exaustivas horas dentro da companhia.

A consultora de Recursos Humanos, Elisete Helena Gonçalves, explica que é um desafio conquistar os jovens da gen Z. "Os profissionais em posição de liderança têm um papel importante para ajudar essa nova geração, que possui um comportamento mais questionador e seletivo e não compartilha de valores como liderança e estabilidade, como outras gerações".

Sua relação com as chefias é insólita. Diferente da geração X, que, preocupada em garantir uma boa vida à família, submeteu-se a atividades nem tão atraentes e era mais obediente em relação aos superiores; e da nascida nos anos 80, que almejava cargos de liderança e dinheiro, mas não aceitava tudo (apesar de acatar as hierarquias), a Z acredita que o chefe deve conquistar seu respeito.

Segundo a especialista, a chefia passa a ter uma nova função, a de mentora, para auxiliar o jovem a amadurecer profissional e emocionalmente. "Trata-se de um encontro de interesses, onde a empresa quer a inovação, a agilidade e o talento deste jovem, que, por sua vez, busca um ambiente agradável para trabalhar, onde possa ter flexibilidade nos horários, falar de igual para igual com todos e trabalhar em prol de causas", explica Elisete.
 

Estranho é não ser diverso
Diversidade e tolerância são palavras de ordem para esses jovens, que condenam manifestações de preconceito e não permitem rótulos em sua orientação sexual e identidade de gênero. 

Do ponto de vista da comunicação e do mercado, os Zs são, novamente, um desafio, pois mantêm uma relação diferente com o consumo. Gerações anteriores buscavam nas marcas uma forma de ganhar status e destaque. 

Já esses jovens se preocupam com o custo/benefício e não dão importância para etiquetas ou padrões.  O que querem, na realidade, é identificação com o que está sendo apresentado e transparência por parte das marcas, afinal, são muito ligados a questões como sustentabilidade, orgânicos e veganismo. Cada vez mais rejeitam o binarismo na hora de escolher roupas, forçando as marcas a criarem peças sem gênero e repensarem sua publicidade.