Perimetral

No porto, segredos explosivos e soluções silenciosas

16/09/2017

O Porto de Santos, ao longo de sua história, tem vivenciado histórias das mais variadas. Casos e roteiros dignos de cinema são descritos em livros e reportagens. Inclusive um Policial Federal, nosso amigo Nunes, chegou a publicar livros narrando histórias pitorescas envolvendo as movimentações no Porto de Santos, com os navios turísticos. Alguns casos fantásticos. 

Nossa cidade e nosso porto, com a tradição das chegadas e partidas dos navios, certamente tem histórias e muitos segredos, guardados ou contados, muitas vezes romanceados ou históricos. Os segredos do navio Raul Soares, que funcionou como uma prisão flutuante daqueles que se opunham ao movimento militar da década de 1960, já foram contados sob várias facetas. Porém, certamente ainda alguns pontos podem permanecer guardados, sob o manto dos segredos naturais das antigas embarcações. 

Muitos segredos certamente continuam guardados simbolicamente nos antigos armazéns de nosso porto, em muitos cabeços de amarração e em diversas beiras de cais, desde daqueles antigos formados por pedras como dos mais recentes gerados por modernas fórmulas de concreto. Talvez nada seja mais natural numa cidade portuária do que suas histórias e seus segredos, que podem permanecer guardados por muito tempo e surgem de forma inesperada, com grande repercussão. 

Os segredos desvendados de maneira inesperada em muitos momentos podem trazer verdades e expectativas explosivas, dependendo do que se apresenta e de quais as suas consequências, quando descortinados.

Foi exatamente isto que aconteceu no Porto de Santos, alguns meses atrás. Um segredo escondido em um armazém sob a forma de cilindros metálicos foi apresentado para a coletividade. Uma história desvendada como sendo um segredo explosivo, escondido e desconhecido da população por muito tempo. Este segredo dos 115 cilindros contendo produtos gasosos, tóxicos e explosivos, certamente foi apresentado não como um roteiro romântico, porém sim como um filme envolto pelas dúvidas e desinformações, dignas de um Hitchcock.

Afinal de contas, como este conjunto de 115 cilindros pôde permanecer tanto tempo em segredo? O que realmente poderia acontecer com tais cilindros? Poderiam causar males para a população? Havia risco para a cidade? O segredo desnudo rapidamente se transformou em tema presente nas rodinhas de conversas nos quatro cantos da cidade e do porto. Surgiram os profetas do caos e os "engenheiros de obras feitas", apresentando soluções das mais variadas e absurdas. O segredo explosivo se apresentava, envolvendo cilindros explosivos, por mais ridículo que possa ser esta afirmativa.

Se as explosivas soluções eram apresentadas e as explosivas oposições para as soluções eram colocadas diante daqueles que tentavam resolver o problema, por outro lado a direção da Codesp, sem maiores alardes ou pirotecnias, procurava definir uma solução efetiva, que enterrasse definitivamente este desconfortável segredo portuário. 

O barulho explosivo, com a divulgação do inadequado segredo, permaneceu até que a solução silenciosa e efetiva foi implementada pela direção da administração portuária. Os cilindros, outrora motivo do segredo, seriam e foram direcionados para uma região segura em alto mar, onde, de forma técnica e eficiente, puderam ser descartados, sem nenhum dano para o meio ambiente. Ninguém sofreu as consequências da quebra deste segredo. Ao contrário, esse segredo desvendado permitiu demonstrar que, por mais engessadas que sejam as administrações portuárias, elas conseguem encontrar soluções e adotar providências quando estão efetivamente comprometidas com suas missões. 

A direção da Codesp, em vez de ficar tentando acusar os antigos guardadores do segredo cilíndrico, atuou de forma efetiva para solucionar o problema e livrar a cidade e o porto daqueles riscos.

Este poderia ser mais um corriqueiro caso das histórias do Porto de Santos. Entretanto, creio que precisamos analisar como nossa sociedade atual enfrenta as situações que lhes são apresentadas. Neste caso dos cilindros, as divulgações, contendas, debates e acusações geraram mais explosões do que os próprios supostos materiais gasosos. 

Por outro, os esforços para as efetivas soluções dos problemas foram pouco alardeadas. A quebra do segredo foi explosiva, porém a solução do problema se esvaiu, na forma gasosa sem maiores atenções. Continuamos gerando mais explosões com os problemas do que com as soluções. Precisamos inverter esta lógica. Nesta coluna quero gerar explosões, com fogos de artifícios multicoloridos, para a solução do problema dos cilindros, parabenizando a direção da Codesp por suas iniciativas. Logicamente, utilizando fogos sem muito barulho, pois a legislação municipal assim condiciona. E os "amigos de quatro patas" agradecem.