Coluna Dois

Da lua de mel para a lua de fel em uma semana

23/09/2017

Na semana passada, o torcedor santista andava rindo à toa. Vitória sobre o arquirrival Corinthians, na Vila, no domingo, por 2 x 0, pelo Brasileiro. Ótimo empate, por 1 x 1, na quarta-feira, com o Barcelona do Equador, em Guayaquil, no jogo de ida das quartas de final da Libertadores. Tudo era festa.

Mas, no futebol, o cenário muda mais rapidamente que na política. A cor da nuvem depende do resultado mais recente.

Menos de uma semana depois, derrota, no sábado passado, com o time reserva, para o Botafogo, no Rio de Janeiro, por 2 x 0. Eliminação na Libertadores, na quarta-feira, em plena Vila Belmiro, com outra derrota, por 1 x 0, para o mesmo Barcelona genérico. A relação entre alguns torcedores e os jogadores teve de ser intermediada, depois do jogo, pela Polícia Militar, com bombas, muitas, por sinal, de gás lacrimogêneo, e spray de pimenta.

Crônica de uma tragédia mais ou menos anunciada.

O Santos pagou em campo o preço da debilidade do elenco e da dependência quase absoluta das jogadas de Lucas Lima, lesionado e ausente dos dois jogos.

Essa faca tem, entretanto, dois “legumes”, como já disse um dia um folclórico ex-presidente do Corinthians, Vicente Matheus.

A direção do clube não conseguiu repor minimamente à altura, em termos de habilidade, as saídas de Gabigol e Geuvânio. Ricardo Oliveira teve uma brutal queda de rendimento. Isso fez com que o Santos abdicasse da forma tradicional de jogar. Não joga mais envolvendo a marcação do adversário com troca de passes e movimentação. Ficou somente com a opção do contra-ataque. E, mesmo assim, só por um lado do campo, o de Bruno Henrique.

Os números traduzem claramente essa realidade. Em 2015, o Peixe, apesar da campanha irregular no Brasileiro (7o lugar), teve o quarto melhor ataque. 59 gols. Média de 1,55 gols por jogo. Em 2017, tem até agora o 16o melhor ataque, apesar da 3a posição na tabela. Apenas 25 gols em 24 rodadas. A média de gols despencou para 1,04 por jogo.

Ricardo Oliveira foi o artilheiro do Paulista, do Brasileiro e do Brasil em 2015. 37 gols em 62 jogos. Média de 0,6 gols por partida disputada. Em 2017, 6 gols em 27 jogos. Média de 0,22. Gabigol ficou entre os dez maiores “matadores“ do país naquele ano, com 21 gols, e foi o artilheiro da Copa do Brasil.

Tanto a deficiência do elenco como a queda de produção do ataque passam pelo fracasso das contratações para este ano, já apontado antes nesta Coluna 2: Leandro Donizete, Kayke, Vladimir Hernandez, Matheus Ribeiro…

O Santos se reforçou muito mal para esta temporada e pagou um preço caro por essa falha nessas duas últimas derrotas.

O segundo “legume” dessa faca é que clubes que tiveram uma política de contratações muito mais celebrada que a do Santos neste ano, Flamengo e Palmeiras, caíram antes na Libertadores e estão atrás do Peixe na tabela do Brasileiro.  

 

Decadência sem elegância  
José Mourinho, 54, provavelmente é o treinador português de futebol de maior prestígio. Maurício Pochetinno, 45, certamente está entre os três mais conceituados do batalhão de treinadores argentinos mundialmente respeitados. Antonio Conte, 48, também é sonho de consumo de 10 de cada 10 cartolas italianos como ele. Arsene Wenger, 67, tem status equivalente no país dele, a França.

E Ronald Koeman, 54, na Holanda… O que esse grupo tem em comum? Todos trabalham em equipes da Premier League, a Primeira Divisão do campeonato Inglês. Nenhum brasileiro entre eles. Faz muito tempo. Barreira da língua? E Mourinho? A verdade é que os treinadores brasileiros ficaram para trás. Perderam mercado. Acomodação ou incompetência? Ou as duas juntas?

 

Rodada do Brasileiro
Neste sábado, às 21h, o Peixe tenta lamber as muitas feridas dos últimos dias contra o Atlético Paranaense, na Vila Belmiro. No domingo, às 11h, o São Paulo recebe o Corinthians, no Morumbi, num jogo da alta voltagem. O Tricolor, ainda na zona de rebaixamento, tenta engatar uma reação depois de bater o Vitória fora de casa. O Corinthians, abalado pela desclassificação na Sul-Americana e com as acusações de jogo sujo ao atacante Jô, tenta se recuperar do péssimo início de segundo turno. Às 16h, o Palmeiras, que ainda diz sonhar matematicamente com o título, enfrenta o Flu, no Rio de Janeiro. E a Ponte Preta, perigosamente um pontinho acima da zona da degola, vai a Chapecó duelar contra o time da casa, também ameaçado, com a mesma pontuação.