Simplesmente Vinho

Vinhos inesquecíveis

07/10/2017

Enoleitores,
Semana passada, ao escrever sobre os vinhos que melhoram com o tempo, lembrei de alguns que tive a oportunidade e o privilégio de degustar. O incrível  é que eram bem antigos, e me tocaram numa doce recordação afetiva de aromas e sabores inimagináveis e inigualáveis , que trago em minhas memórias…

O Branco que me marcou foi um Borgonha Le Roy Montrachet 1957, antigo, apresentado numa degustação entre alguns vinhos de seu Domaine Le Roy , pela própria produtora, a lendária madame Lalou Bize Le Roy (também herdeira  e sócia da Romanée Conti), num evento fechado em São Paulo em 2007. Esta garrafa que descrevo tinha 50 anos, enquadramos e guardamos até hoje, com seu autógrafo. 

Lembro-me que era um vinho biodinâmico,  em que predominava uma explosão mineral. Sentia-se ainda frutas secas e mel. Na boca, seco, mais suave, manteve-se longo, deixando um final de boca amanteigado, delicioso. Foi naquele dia que aprendi que há vinhos brancos indescritíveis e inesquecíveis, conhecidos como os grandes borgonhas!

Outro vinho que me marcou foi aberto, há muito tempo, na Piccola Forneria, quando um grupo de amigos e amantes do vinho resolveu arrematar num leilão, um Grand Vin de Château Latour – Premier Grand Cru Classé 1947, Pauillac, Médoc –  Bordeaux . O grupo pediu uma reserva exclusiva no restaurante superior da adega, e trouxe o vinho antecipadamente para ser aberto e decantado, conforme os procedimentos corretos. Eu estava curiosa, porém, após verificar o serviço adequado me retirei do recinto. Depois de um certo tempo, fui chamada a subir para que eu provasse o vinho; e qual a minha surpresa quando o ofereceram a mim e ao meu marido, pois muitos componentes daquele grupo preferiram outros bons vinhos, porém mais jovens, que também haviam trazido para conhecer.

Degustando o vinho de quase 60 anos, verifique que apresentava a cor vermelho meio tijolo, e confesso que marcou minha memória com seus aromas de frutas maduras em compota, especiarias, tostados, porém mais etéreas e sutis. O gustativo foi o que me surpreendeu: era seco e licoroso, bastante frutado, macio e aveludado, em sensações mais suaves. Tantos os aromas quanto os sabores não eram flagrantes como nos outros vinhos que costumamos beber. O que mais me tocou foi quando acordei no dia seguinte, sentindo ainda o leve gostinho final de uma ameixa bem madura em minha boca. Incrível! Mesmo depois de escovar os dentes, acreditem!, sentia-se o sabor do vinho! 

Depois destas experiências pude realmente entender a importância do passar do tempo em alguns vinhos, para melhor se revelarem, e que podemos sentir prazer não apenas com a explosão de aromas e sabores de vinhos jovens, mas ainda com a sutileza e longevidade de um bom vinho velho.

 

Enoabraços e uma ótima semana a todos!