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Eliane Elias – Jazz chr38 Piano

30/09/2017

A pianista, cantora, compositora e arranjadora paulistana Eliane Elias está radicada nos Estados Unidos, desde o ano de 1981, e teve a sorte e a competência de se fixar no mercado jazzístico, como um de seus grandes expoentes.

Começou a tocar muito cedo, com 7 anos de idade e, aos 10, precocemente, já escutava e transcrevia os solos de piano dos maiores pianistas do Jazz, como Winton Kelly, Bill Evans, Red Garland, Art Tatum e Bud Powell.

E nesta época, por incrível que possa parecer, já acalentava o sonho de ir para Nova York para se tornar uma grande pianista de Jazz.

E o sonho de criança virou realidade.

Teve a sorte de ter em casa também o apoio da sua mãe, que era pianista amadora e a incentivou desde cedo a seguir no caminho da música.

Os gigantes pianistas Chick Corea, Herbie Hancock e Keith Jarrett figuram na sua lista pessoal de influências.

No ano de 2016, foi a única representante brasileira a vencer o cobiçado Prêmio Grammy, escolhido na categoria de melhor álbum de jazz latino, pelo seu disco lançado no ano passado, intitulado “Made In Brazil”, curiosamente gravado aqui no Brasil.

Cantado na maioria em português e algumas em inglês, alcançou rapidamente as paradas de álbuns mais vendidos no site Amazon, iTunes, além de estar presente na lista dos discos mais vendidos nos rankings de Jazz da Billboard e nas paradas europeias da França, Espanha e Portugal.

Na carreira já vendeu mais de 2 milhões de cópias, o que significa, para uma artista de Jazz, um número bastante expressivo.

Antes de chegar a Nova York, ela viveu intensamente a cena musical de Paris e lá teve um encontro decisivo e determinante na sua carreira com o contrabaixista Eddie Gomes, que a estimulou para ir tentar a sorte nos Estados Unidos.

Três meses depois deste encontro, já estava tocando no grupo instrumental Steaps Ahead, liderado pelos irmãos Michael & Randy Brecker, este último seu ex-marido e que lhe ajudou muito na abertura de caminhos no mundo da música.

Seus discos sempre se alternaram mais em comerciais, onde ela toca e canta, e outros onde se pode realmente constatar sua técnica apuradíssima ao tocar piano.

Eliane Elias é uma das mais importantes artistas do gênero na atualidade e tem um grande mérito de conquistar seu espaço pelo seu talento e versatilidade, passeando pelo Jazz, Pop, Clássico e Bossa Nova. Uma artista que está acima da média, merecidamente.

Num momento de tanta negatividade vivido aqui no Brasil, por tantos escândalos, corrupção, desigualdade social, reverberar novamente a notícia deste prêmio funciona como grande bálsamo.

A música tem na verdade o poder de transformar nossas vidas e aí está mais um grande exemplo de uma brasileira que faz sucesso no mundo todo. Só lamento que, aqui no Brasil, poucas pessoas conheçam o talento de Eliane Elias.

Portanto, mãos à obra para conhecer e descobrir o raro talento desta brasileira jazzista e pianista.

Eliane Elias – “Ilusions”

Ela é uma das artistas do Jazz preferidas do meu caro amigo ouvinte da rádio de São Paulo, Carlos Emmerich, que me pediu para escrever sobre ela.

Estudou e lecionou piano no CLAM, escola de música dirigida pelo pianista Amilton Godoy, do antigo Zimbo Trio e que foi responsável pela formação de diversos músicos brasileiros, que alcançaram destaque e sucesso por aqui e também fora do país.

Saiu do Brasil há muitos anos, primeiro passando pela Europa e depois chegando aos Estados Unidos, mais precisamente em Nova York, onde permanece até os dias de hoje e lá teve a honra de estudar na conceituada Julliard Scholl Of Music.

Em 1987, lançou, pelo selo japonês Denon, seu primeiro disco como líder e teve como companheiros Stanley Clarke no contrabaixo, Al Foster, Steve Gadd e Lenny White revezando na bateria, seu grande amigo e incentivador na carreira Eddie Gomez, no contrabaixo e o lendário Toots Thielemans na harmônica.

Destaco os temas “Choro”, dedicado ao seu grande mestre professor e também excepcional pianista, Amilton Godoy, a surpreendente regravação de “Through The Fire”, que foi gravada pela cantora Chaka Khan, as suas belas composições “Moments”, “Iberia” e “Locomotiff” e, para finalizar, “Chan`s Song”, tema de Herbie Hancock e Stevie Wonder, eternizada no filme “Round Midnight” e que ganhou uma versão de arrepiar de Eliane Elias.

Em sua carreira, tem cantado em alguns discos e tenho que confessar que me surpreendo mais ouvindo ela tocando piano.

E ela toca como poucos este instrumento. Talento e virtuosismo são as suas marcas registradas. Foi o primeiro disco e até hoje ela diz que nunca o esqueceu. Também pudera, foram fortes as emoções vividas e compartilhadas.

Eliane Elias – “Made In Brazil”
Por incrível que pareça este álbum premiado em 2016 com o Grammy, lançado pelo selo Concord Jazz/Universal com 12 faixas, foi o seu  primeiro disco gravado aqui no Brasil, em mais de 35 anos de carreira. Portanto, muito especial para ela.

Além de talentosa pianista e cantora, ela mostrou neste projeto ser intensa e polivalente, pois também assinou nas funções de produtora, compositora, letrista e arranjadora.

O trabalho tem como marca principal uma mescla muito bem equilibrada das raízes brasileiras com o Jazz, onde se destaca sua voz sensual e muito marcante. Sem falar, no estilo vigoroso e muito marcante no estilo de tocar piano.

Apresenta também, de forma pontual, sua faceta de inspirada compositora, com a gravação de 6 músicas autorais, que nasceram fruto de uma das suas passagens em férias por São Paulo, alguns anos atrás.

Destaques para as participações marcantes do grupo vocal Take 6, simplesmente sensacional e emocionante, de Mark Kibble, Ed Motta e sua filha Amanda Brecker nos vocais, Marc Johnson no contrabaixo acústico e dos outros “brazucas”, Roberto Menescal e Marcus Teixeira na guitarra, Marcelo Mariano no contrabaixo elétrico, Edu Ribeiro e Rafael Barata na bateria, Mauro Refosco e Marivaldo dos Anjos na percussão. E destaque para a participação muito especial da Orquestra Sinfônica de Londres, regida por Rob Mathes.

O resultado do disco é exatamente o que Eliane Elias pensou e que esperava escutar ao final das gravações.

A qualidade sonora é inegável e valoriza ainda mais o seu talento e criatividade, que resultaram numa atmosfera diversificada e intensa, padrão “Made In Brazil”.