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Conviver sem incômodos

28/10/2017

Em tempos de vacas magras, os brasileiros fazem das tripas coração para reduzir as despesas e fazê-las caber embaixo do cada vez mais curto cobertor do orçamento doméstico. E quem vive em condomínio fica de cabelo em pé diante dos sucessivos aumentos nas despesas do prédio. É bandeira vermelha na conta de luz, aumento na de água e esgoto, manutenção do elevador, aquele reparo inadiável na área comum, o interfone que pifou (de novo)… sem falar na eterna desconfiança de que o síndico poderia gastar menos -seja por incompetência ou, pior, aquela pulga atrás da orelha de que ele pode estar levando uma comissãozinha por baixo dos panos.

O grande desafio de quem vive em condomínio é reduzir despesas (ou evitar que elas cresçam), sem prejuízo da qualidade de serviço ou da manutenção do patrimônio. Segundo o presidente do Sindicato dos Condomínios Prediais do Litoral Paulista (Sicon), Rubens Moscatelli, a saída é investir na profissionalização da gestão. "O síndico deve se cercar de profissionais qualificados para tomar as decisões. Outra alternativa é o condomínio contratar um síndico profissional", afirma.

Segundo ele, o gestor do condomínio deve ser apto para realizar uma previsão orçamentária de gastos, prevendo as diversas despesas que serão necessárias (gastos com manutenção, pagamento de funcionários, obras etc) e também levando em conta com o índice de inadimplência – mesmo que nem todos paguem sua parte no rateio mensal, as despesas continuam existindo. 

Moscatelli destaca que atualmente o condomínio tem mais recursos para obter o pagamento de atrasados. "O apartamento do devedor pode ser penhorado e leiloado", explica. 
 

Participação
Independente do modelo de gestão a ser adotado, Moscatelli alerta que a participação dos moradores é fundamental para se otimizar o uso dos recursos. "Dúvidas sobre gastos não devem ser encaradas como acusações, mas sim demonstração de preocupação e vontade de colaborar", argumenta. Os condôminos precisam se interessar pelos assuntos do edifício, até mesmo para que colaborem com sugestões para a busca de soluções.

Segundo Moscatelli, as assembleias são as ocasiões fundamentais para se tirar dúvidas e também definir o planejamento de despesas do condomínio. "Infelizmente, na maioria dos casos, a participação dos condôminos é muito baixa. O morador que não comparece é o primeiro a reclamar", declara. Ele acrescenta que a regra é o morador não querer se envolver na rotina administrativa do prédio. "Prova disso é o grande número de reeleições de síndicos. É porque ninguém quer", completa.

 

Transparência
O presidente da entidade alerta que tudo o que for aprovado na reunião deve constar em ata. "Não pode ser nada 'de boca' e o documento deve ser redigido e assinado pelos presentes. Na hora, não depois", explica. Ele acrescenta que, para garantir mais transparência, além das atas, muitos condomínios gravam a reunião em áudio e as disponibilizam para todos os condôminos, mesmo os que não participaram da assembleia. 

A prestação de contas deve ser a mais detalhada possível e todas as atividades financeiras podem ser consultadas a qualquer momento pelo condômino. "Não precisa esperar a assembleia para tirar dúvidas".

 

Moscatelli acrescenta que o morador também deve ter uma postura responsável. "Antes de acusar, jogar pedras, deve se colocar na posição do sindico. Na maioria das vezes, ele está sempre buscando acertar".

Ele destaca também a importância da participação dos conselheiros na gestão do condomínio. "Devem colaborar na tomada de decisões e também na fiscalização da aplicação dos recursos. Até porque, também podem ser responsabilizados por eventuais problemas', completa. 

 

Punição
Um síndico que comprovadamente faça uma má gestão pode ser retirado do cargo. Para isso, basta que a maioria dos condôminos convoquem uma assembleia extraordinária e decidam neste sentido. Em casos mais graves, o síndico pode ser responsabilizado criminalmente, como foi o caso de um síndico de um condomínio no bairro da Pompeia, condenado pela prática de 22 estelionatos. 

 

Conflitos
Moscatelli destaca que outra função importante do síndico é a de mediar conflitos. Um condomínio reúne pessoas de diferentes perfis, então é natural que tenham valores e comportamentos diferentes. Mas, independente disso, vale a máxima de respeito ao vizinho. E os limites do que pode e o que não pode fazer estão previstos da convenção do condomínio. "Na maioria das vezes, os conflitos se resolvem na conversa. Não é preciso arbitrar multa ou recorrer à esfera judicial".

 

Prevenção
Segundo Moscatelli, o gestor do condomínio deve estar atento a todas as situações e agir preventivamente, em vez de esperar o problema acontecer e só então remediá-lo. "Além de mais caro, consertar o que quebrou provoca grandes aborrecimentos. Quem gosta de ter que subir pelas escadas porque o elevador quebrou?", reforça.

 

Tecnologia
O uso de novos equipamentos é uma boa estratégia na redução de gastos. Exemplo disso é o sistema de portaria virtual. Em vez de o profissional ficar na guarita, ele estará a distância, em uma central, e vai atuar da mesma maneira se estivesse no local. 

 

Terceirização
Uma prática muito adotada pelos condomínios, a contratação de uma empresa de fornecimento de mão de obra pode ser vantajosa sob muitos aspectos, como a substituição do funcionário em caso de falta ou afastamento por motivo de doença. No entanto, os gestores devem estar atentos ao cumprimento das obrigações patronais (direitos trabalhistas e previdenciárias), pois, apesar de o empregador ser a empresa terceirizada, o condomínio sempre será corresponsável pela contratação e responderá solidariamente em uma eventual ação judicial.