Coluna Dois

Crise ameaça a fábrica de craques do Santos

11/11/2017

O trabalho de formação de jogadores nas divisões de base de um clube de futebol não decide o voto do associado. Mas deveria.

 
Clubes bilionários, como Barcelona e Chelsea, têm recursos para contratar os melhores atletas do mercado mundial. Mesmo assim, cuidam com atenção e planejamento da base e colhem a formação de grandes ídolos, identificados com a camisa que vestem.

Países, como a Alemanha e a Holanda, têm políticas públicas de formação de jogadores e colhem grandes seleções.

No Brasil, essa atividade ganha importância ainda maior. Isso porque, nas últimas décadas, os clubes só vêm conseguindo equilibrar arrecadações e despesas com a negociação, todos os anos, de atletas para outros continentes. 

O Santos têm uma tradição sólida nas divisões de base. As equipes que conquistaram em campo os títulos que forjaram a aura de grandeza do clube foram montados por jovens atletas que desabrocharam na Vila Belmiro: Coutinho, Pelé e Pepe; Diego e Robinho, Neymar e Ganso. 

A finalidade das divisões de base não é a conquista de títulos. É a revelação de jogadores para a equipe profissional. Mas os resultados do último estágio desse trabalho, a equipe Sub-20, traduzem o potencial dos jovens formados num clube em comparação com os formados pelos rivais.

O Sub-20 do Santos, em 2017, disputou três competições importantes. Na Copa São Paulo, foi eliminado pelo Avaí na terceira fase. Ficou fora do grupo dos 16 finalistas. Na Copa do Brasil, o carrasco foi o Bahia, na Vila Belmiro, nas oitavas de final. Não chegou entre os 8. No Paulista, neste segundo semestre, pior ainda: eliminação na primeira fase, ficando atrás de São Paulo, Portuguesa, São Bernardo e Água Santa. Ao contrário dos principais rivais, Palmeiras, São Paulo e Corinthians, não conseguiu se classificar nem entre os 16 finalistas.

Esse desempenho horroroso do sub-20 na gestão Modesto Roma surpreende ainda mais porque sucede um período dourado na gestão anterior, de Luís Álvaro e Odílio Rodrigues. O Santos teve, em 2013 e 2014, os dois últimos anos daquela gestão, o melhor desempenho da história do sub-20: a conquista de um bicampeonato da Copa São Paulo, com dois times diferentes, e de uma Copa do Brasil. Frutos de um trabalho estruturado. 

A Seleção Brasileira que conquistou a medalha de ouro olímpica em 2016 tinha, entre os 18 jogadores, cinco formados no Peixe: Zeca, Neymar, Thiago Maia, Gabigol e Felipe Anderson.  

Uma das decisões mais equivocadas da gestão Modesto Roma, está entre as principais causas desse fracasso. A demissão do supervisor Joãozinho. Conhecido por não fazer, de maneira nenhuma, o jogo dos empresários na montagem do elenco e, sim, de defender os interesses do clube, Joãozinho, histórico também como jogador (capitão dos Meninos da Vila de 78) e treinador (antecedeu Cabralzinho na equipe de 95), foi demitido injustamente em 2015 e uma estrutura, super-bem-sucedida, simplesmente desmoronou.      

Dormindo com o inimigo
Um balanço da gestão de Modesto Roma, candidato à reeleição, traz um item interessante. Diz que encontrou no clube 250 processos trabalhistas. Mas omite a informação de quantos deles foram gerados no período de dez anos de Marcelo Teixeira na presidência, 2000 a 2009. Num desses processos, movido pelo advogado Mário Mello, ex-gerente jurídico de confiança da gestão de Teixeira, contra o clube, o presidente  Modesto Roma testemunhou. Contra o Santos.

 

Escassez de pilotos
A aposentadoria de Felipe Massa, dessa vez, parece que é para valer. Com isso, pela primeira vez nas últimas décadas, o grid da Fórmula-1 pode ficar sem brasileiros. O país já vinha enfrentando uma estiagem de resultados. Como no futebol, a deficiência está na formação de valores. A decadência do kart, espécie de divisão de base da Fórmula-1 no Brasil, constitui o “x” dessa equação.