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Um retrato brasileiro

02/12/2017

A impressionante cena é o retrato do Brasil. Mostra o embarque de 27 mil cabeças de gado, animais vivos, para a Turquia. A economia brasileira continua acorrentada às mesmas características de séculos atrás: exportação de produtos agropecuários e minerais com pouquíssimo valor agregado — nas palavras dos especialistas, “commodities”. 

Para ficar em dois exemplos: ao mesmo tempo que exporta minério de ferro in natura, o Brasil importa veículos e aparelhos eletroeletrônicos; vende milhões de sacas de café em grãos e compra as gourmets cápsulas da bebida. 

É um cenário resultante da falta de uma política industrial consistente no Brasil, que não investiu em tecnologia para aperfeiçoar processos nem em qualificação de trabalhadores. Ao contrário. Boa parte das indústrias que se instalaram no Brasil são produtoras de matérias-primas para fábricas de outros países, muitas usando processos obsoletos —pouco produtivos e poluidores. 

O sucesso do agronegócio, tão propalado em anúncios de TV, é restrito um segmento da economia nacional. “Ah, mas gera riqueza, empregos e tributos”, dirão alguns. 

Em termos. Riqueza? Sim, mas para os grandes empresários rurais, defendidos a unhas e dentes por sua bancada particular no Congresso Nacional e beneficiados por empréstimos e subsídios camaradas, e perdão de dívidas. 

Empregos? Mais ou menos. O setor utiliza processos extremamente mecanizados e, em alguns casos, mão de obra em situação de escravidão. 

Tributos? Sim, mas, ao mesmo tempo, entre a porteira e o porto, a atividade deixa impactos negativos para o resto da sociedade paga, além de exigir investimentos públicos que beneficiam exclusivamente o setor.

Os garrotes (animais jovens) enviados à Turquia não servirão para abate e consumo imediatos naquele país, mas certamente impulsionarão a pecuária daquele país. Quem sabe, daqui a algum tempo, o Brasil não estará importando kaftas turcas…