Coluna Dois

Gestão Modesto Roma: derrota eleitoral pós-moderna no Santos

16/12/2017

Modesto Roma, o pai, fez parte da direção do Santos na Era Pelé. Presidiu o clube entre 1975 e 1978. Foi ele que trouxe para o Peixe o empresário Milton Teixeira, presidente entre 1983 e 1987. Marcelo Teixeira, filho de Milton, se elegeu presidente para o biênio 92-93 e depois para mais cinco mandatos, entre 2000 e 2009. Foi ele que lançou, em 2014, a candidatura vencedora nas eleições daquele ano, de Modesto Roma Júnior.

O grupo político que se consolidou em torno deles ao longo desses mais de 40 anos tem um jeito próprio de olhar e administrar o Santos. Um jeito que, claramente, não combina com os conceitos e instrumentos de gestão modernos introduzidos no Estatuto do Santos na reforma de 2011.  

Que conceitos e instrumentos são esses? Transparência administrativa, governança corporativa, alternância no poder, planejamento estratégico, proporcionalidade de representação das correntes políticas no Conselho Deliberativo, poder de fiscalização de um Conselho Fiscal eleito e, portanto, não sujeito a pressões. 

O grupo de Modesto Roma Júnior teve muita dificuldade com esse modelo de gestão moderno e essa dificuldade se traduziu em desgaste eleitoral.

No primeiro ano, por exemplo, a gestão Roma não conseguia apresentar os balancetes trimestrais que devem ser analisados pelo Conselho Fiscal e apresentados ao Conselho Deliberativo. Esse procedimento é obrigatório e pode levar à perda do mandato. Atrasou vários trimestres. Quando finalmente apresentou os balancetes, os pagamentos de comissões para alguns empresários nas negociações de jogadores desgastaram a imagem da gestão. Na sequência, teve as contas do primeiro ano reprovadas num Conselho com três correntes políticas da eleição de 2014 representadas.  

Também é obrigatória a apresentação, nos primeiros seis meses, de um planejamento estratégico para o período de três anos do mandato. Também aqui a gestão Roma não conseguiu cumprir o prazo. Pior, teve o planejamento proposto recusado pelo Conselho Deliberativo por inconsistência. Depois disso, contratou um gestor esportivo reconhecido, José Carlos Brunoro, para elaborar uma proposta. Essa própria contratação, já com quase um ano de mandato, evidenciou que na verdade não havia planejamento.

A governança corporativa distribui entre mais pessoas a responsabilidade no processo de tomada de decisões importantes. No caso do Santos, mais sete membros do Comitê de Gestão, além do presidente do clube e do vice. Aqui, outro incidente significativo. Modesto Roma atropelou a decisão aprovada no Comitê de Gestão relativa à venda do atleta Geuvânio. Perdeu nesse episódio a colaboração de um  membro do CG, Andres Rueda, que se demitiu, passou para a oposição e teve peso eleitoral decisivo na derrota de Roma na eleição do dia 9.

O grupo de Modesto Roma e Marcelo Teixeira não assimilou esses conceitos e instrumentos de gestão modernos do novo estatuto social do Santos. Tentaram governar sem eles. Muitas pessoas desse grupo entendem que governança corporativa, planejamento estratégico e transparência administrativa são bobagens que até “atrapalham”.

As urnas parecem ter demonstrado que esse foi um profundo e fatal equívoco.  A mesma espada está sobre o pescoço do novo presidente, José Carlos Peres.