Baixada Santista

Alunas do Instituto Histórico de SV descobrem documentos históricos em móvel

06/02/2018

Beatriz Groschopf Muniz e Ana Claudia Oliveira, alunas do curso de formação de auxiliar técnico em restauro no Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, estão perto de concluir a formação. Como Trabalho de Conclusão de Curso, têm a missão de restaurar um móvel datado de 1921, parte do acervo do local.

Na tarde de quinta-feira (1º), descobriram que na parte superior da cristaleira em reparos existia um forro com fundo falso, onde encontraram envelopes, um cartão postal, folhas de jornal, um pedaço de madeira com selo e um pedaço de tecido. Os artefatos são aparentemente comuns, mas guardam uma história rica.

“Foi gratificante para nós encontrar uma coisa tão histórica, antiga. É importante para nós. Isso motiva mais ainda a gente pesquisar e descobrir o que está por trás de tudo isso”, disse Beatriz.

As peças são datadas do começo da década de 1920, na Alemanha. As páginas são do jornal Holzarbeiter-Frauenblatt, “Jornal dos Marceneiros” em alemão gótico, publicado em junho de 1921. Segundo o historiador e presidente do IHGSV, Paulo Costa, é provável que se tratava de um veículo oficial do governo, voltado aos profissionais da indústria da madeira.

Já a madeira com selo é de maio de 1921. O selo custava 25 pfennig, a moeda alemã da época, que circulava entre 1924 e 1948. “Provavelmente eram taxas destinadas ao governo, que cobrava impostos pela produção [de móveis]. Isso seria uma espécie de ISS (Imposto Sobre Serviços)”, constatou Paulo Costa.

“Foi um presente de final do curso para todos nós”, completa o professor do curso, Leonardo Branco. A formação se encerra em abril deste ano, após um ano. Agora, os objetos serão encaminhados para análise e tradução por uma professora especializada em alemão gótico. As páginas enquadradas e penduradas sob o móvel. 

Barão Gustav Kurt von Pritzelwitz

A cristaleira onde os objetos foram encontrados pertencia ao Barão, dono do casarão. Uma prova disso é a chegada dele a São Vicente no mesmo ano da publicação do jornal e do selo, em 1921.

Von Pritzelwitz casou-se com a vicentina Hildegard Georgina, filha de alemães. Com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, o barão e sua família mudaram-se para uma fazendo em Limeira em 1943. De acordo com Paulo Costa, acreditava-se que ele era um espião alemão. “Encontraram um rádio amador onde são os Escoteiros [nos fundos da mansão], e concluíram que ele passava informações privilegiadas para a Alemanha”. 

Em sua trajetória, participou da vida comunitária da cidade, fazendo doações à Irmandade do Hospital São José, entre outras entidades. Faleceu em 1981.