Coluna Dois

Champions League, Paulistão e Carnaval

17/02/2018

Guardam, sim. E essa relação é bem mais profunda do que pode imaginar a nossa vã filosofia. O comentário mais frequente entre os torcedores, neste pós-Carnaval, aborda o abismo entre o futebol que se pratica atualmente na Europa e o brasileiro.

O jogo entre Santos e São Caetano começou logo depois do confronto entre Real Madrid e Paris Saint Germain. Levou naturalmente a uma comparação. A diferença de nível choca quem cresceu ouvindo que o Brasil tinha o melhor futebol do mundo.

Algum torcedor que não assistiu a esses dois jogos, mas acompanhou Juventus de Turim contra Tottenham, na terça, e Corínthians x São Bento, na quarta-feira, teve exatamente a mesma sensação. Requinte na Europa, várzea no Brasil.

E o Carnaval, onde entra?
O Rio de Janeiro, que produz alguns dos políticos mais canalhas do país, também apresenta o espetáculo definido como “o mais bonito do planeta” pelo diretor italiano de cinema Franco Zeffirelli, do clássico “Romeu e Julieta”: o desfile das escolas de samba.

Neste ano, campeã e vice do desfile do Rio apresentaram, por ângulos diferentes, a repulsa ampla, geral e irrestrita do distinto público pela corrupção em geral, principalmente na política.

A precariedade da segurança pública, da educação, da saúde, a garfada na renda do brasileiro, da ativa ou aposentado, estavam lá retratadas. E aclamadas nas arquibancadas. A relação entre a situação dramática do país e a ação dos políticos está pornograficamente explicitada. E ficou ainda mais desnudada no desfile.

   
A mesmíssima corrupção, entre os cartolas das federações e dos clubes, atolou no esgoto o futebol brasileiro e cavou esse abismo entre o jogo jogado no Brasil e o que é apresentado nos gramados europeus.
A Operação Lava Jato, entre erros e acertos, constitui a maior cruzada anti-corrupção da história do país.

Se uma escola de samba decidir apresentar, no ano que vem, os cartolas como ratazanas rapinando a CBF e os clubes e relacionar a decadência explícita e sem nenhuma elegância do nosso futebol com a ação nefasta deles, vai receber aclamação equivalente à que receberam Beija Flor e Tuiuti no sambódromo da Sapucaí.  

E se algum Sérgio Moro da vida decidir pelo início de uma operação tipo Lava Jato no futebol brasileiro, pode ser que em menos de uma década os torcedores de clubes como Santos e Corinthians possam voltar a acompanhar os jogos dos dois sem ficar com a vergonha que sentiram nesta semana. 

 

Perdas e danos
Santos (Lucas Lima e Ricardo Oliveira), São Paulo (Hernanes e Lucas Pratto) e Corinthians (Jô e Arana) perderam peças fundamentais do time titular do ano passado. Oscilam neste começo de temporada, enquanto tentam se reorganizar. Palmeiras, que só perdeu o zagueiro Mina, vai atropelando a concorrência.