TV em Transe

A ética é apenas um detalhe

22/02/2018

A Folha de S. Paulo descobriu que a Rede Globo manteve um contrato com o jogador Neymar nos anos de 2014 (quando houve a Copa do Mundo no Brasil) a 2016. Tal acordo garantia entrevistas exclusivas e participações em programas da emissora, além de informações em primeira mão antes dos demais veículos. 
Do lado do Neymar, tudo ok, está no direito dele. 

Porém, e a Globo?
Estabelecer um vínculo como este com uma figura pública seria eticamente aceitável do ponto de vista jornalístico? De forma alguma. Está explicado porque, no ano da Copa, Neymar não saiu da telinha global. Apareceu com destaque mais de uma vez no Faustão, recebeu o Luciano Huck, teve exclusivas no “Fantástico”, “Esporte Espetacular” e “Globo Esporte”.

Ah, e deu as caras até em novela! No caso, em “A Regra do Jogo”.

Obviamente, neste tipo de negócio o contratante não vai destratar seu contratado, muito menos criticá-lo – afinal de contas aborrecê-lo poderia estremecer ou interromper a parceria. Aí entra a questão ética, pois temos um veículo de comunicação transformando seu jornalismo em perfumaria, refém de uma situação.  

Tanto que a Folha teve acesso a documentos deixando claro essa interferência – perguntas que seriam feitas ao jogador eram avaliadas de antemão por representantes do jogador, assim como o envio de textos para análise antes dos mesmos serem publicados. Para completar, reclamavam de conteúdos que os desagradassem.

Agora eu pergunto: se uma empresa de comunicação compromete seu jornalismo desta forma com um jogador de futebol, dá pra confiar naquilo que ela noticia de uma forma geral?

 

Depois do “casamento” –   Pois o vínculo acabou e eis que, em 2018, Neymar é duramente criticado por Casagrande durante uma derrota do PSG para o Real Madrid. Entre outras coisas, o comentarista da Globo chamou o jogador de “mimado”.

Acostumado aos afagos de outrora, o que fez o pai do atleta? Escreveu um texto no Instagram, sem citar nomes – mas com claro destinatário – chamando os críticos do filho de “abutres”, que se “alimentam da carniça dos derrotados… 

O comportamento do “Neymar pai”, aliás, só faz reforçar o que Casagrande disse.