Coluna Dois

Santos: estreia com turbulências internas na Libertadores

24/02/2018

Dois dos principais jornalistas esportivos do Brasil postaram textos com duras críticas à nova gestão do Santos nesta semana: Juca Kfouri e Paulo Vinícius Coelho – PVC. A demissão, em 45 dias, do executivo de futebol Gustavo Vieira constituiu o gancho das duas análises. Além de gancho, o demitido pode ter sido também a fonte, abastecendo os dois jornalistas com informações sobre desencontros de bastidores no Peixe.

Você, leitora / leitor do Jornal da Orla, já tinha lido crítica muito semelhante dez dias antes aqui na Coluna 2. O texto apontava no título a lerdeza como a marca, até agora, da gestão presidida por José Carlos Peres e trazia um parágrafo sobre falta de planejamento:

“A impressão que está se consolidando é a de que José Carlos Peres se elegeu sem o planejamento que alguns membros da campanha e do Comitê de Gestão dele prometiam aos associados antes – e também depois – da eleição.”

Kfouri escreve sobre “leviandades” nas acusações de Peres a Gustavo Vieira, como a de ter feito “corpo mole” na tentativa de contratação do meia atacante Nenê, que foi para o São Paulo de Raí, tio de Gustavo.

PVC, mais consistente, fala dos convites a executivos de futebol recusados (Rui Costa, da Chape, e Diego Cerri, do Bahia) e argumenta, com razão, que no caso Gustavo Vieira o erro é de Peres: ou quando demitiu ou quando contratou.  

Curioso é que as deficiências apontadas encontram o time num bom momento. O Santos vem de duas vitórias seguidas no Campeonato Paulista, sobre São Caetano, na Vila Belmiro, e sobre o São Paulo, fora de casa.

Verdade que esses bons resultados se devem muito mais ao trabalho do treinador do que ao da diretoria. Jair Ventura montou o time num 4-1-4-1 em que o volante Alison, em forma física exuberante, joga como um limpador de parabrisa na frente de uma zaga que está “voando” e compensa, em parte, a falta de pegada dos dois companheiros de meio campo: Renato e Vechio.

É bom lembrar, também, que embora mereça essas críticas, a gestão de Peres também merece elogios. A primeira impressão é a de que acertou, por exemplo, na contratação do treinador. Embora ainda não tenha conquistado nada, Jair Ventura começa confirmando, no Santos, a impressão que deixou no Botafogo: a de um técnico discreto e trabalhador, que sabe extrair o melhor do elenco que tem nas mãos, além de habilidade para lançar as promessas da base.

Outro elogio, esse mais importante, se refere às contratações. O torcedor do Santos vinha traumatizado pela coleção de equívocos seguidos da gestão anterior, como Rodrigão, Vladimir Hernandes, Kayke, Noguera, Leandro Donizete, Mateus Ribeiro… As contratações estavam concentradas nas mãos de um único empresário que teve vazado um áudio em que revela que numa delas, a do zagueiro Noguera, tinha se baseado em informações de garçons e taxistas. 

A gestão de Peres, até agora, contratou pouco, mas bem. Sasha tem agradado à torcida. Gabigol marcou três vezes em três jogos. Se acertar também, como é bem possível, com o lateral esquerdo Dodô, vai alcançar 100% de aprovação, porque o contestado Romário estava acertado com o Santos desde outubro, antes portanto da eleição de Peres.    

O torcedor está preocupado com outra questão, que é a de estrear agora na Libertadores com um meio campo frágil, dependendo do veterano Renato,  do lento Vechio, da experiência com Vítor Bueno como articulador e da loteria de algum atleta da base se firmar. 

Aí a lerdeza e a falta de planejamento atrapalharam.

Juca Kfouri fala do Comitê de Gestão como “fator de paralisia”. Bobagem. A governança corporativa implantada com ele é adotada por muitas das mais bem-sucedidas corporações do mundo. O que não pode, neste caso, é, como aconteceu, algum membro justificar não ter participado de alguma decisão do CG, como a da demissão de Gustavo Vieira, por não estar presente na reunião. As ferramentas da tecnologia de comunicação atual garantem votações ágeis, on line, estejam os membros do CG em qualquer lugar do mundo.