Coluna Dois

Santos: chr39A gente não consegue nem torcerchr39

24/03/2018

O público do Santos encolheu do começo desta década para cá. Encolheu muito. Está reduzido à metade. Um comparativo com jogos de características bem semelhantes mostra claramente esse preocupante fenômeno.

Em 23 de abril de 2011, na Vila Belmiro, o Santos jogou contra a Ponte Preta pelas quartas de finais do Paulista. Ganhou por 1 x 0. Público de 11225 pagantes. Na quarta-feira, pela mesma fase do mesmo campeonato, contra o Botafogo, minguados 6209 torcedores.

No Pacaembu, em 20 de abril de 2011, na fase de grupos da Libertadores, o Santos ganhou por 3 x 1 do Deportivo Táchira, da Venezuela. Público de 36091 pagantes. Na quinta-feira da semana passada, no mesmo Pacaembu, pela mesma fase da Libertadores, o Santos ganhou pelo mesmo placar do muito mais tradicional Nacional, do Uruguai. Mas a vitória foi assistida por apenas 18077 torcedores. Tem sido assim.

Chovia, no jogo contra o Botafogo. Fazia sol no jogo contra a Ponte Preta. Não justifica. Inversamente, também chovia em São Paulo no dia do jogo contra o Táchira e não chovia na semana passada, contra o Nacional. 

É enganoso pensar que essa queda pode ser justificada pela crise. Em 2011, realmente o país surfava na onda da valorização das commodities e não estava tão castigado pelo desemprego e pela perda de renda. Entre 2011 e 2018, é verdade que está encaixada a maior crise econômica da História do país.

Mas o público médio do Campeonato Brasileiro aumentou nesse período. Em 2011, a média de público do Corinthians, campeão, foi de 29 mil pagantes por jogo como mandante. Em 2017, também campeão, 40 mil. O próprio Santos teve um crescimento discreto: de 8892 em 2011, décima colocação, para 11597 em 2017, terceiro colocado.

Referência melhor e mais explicativa talvez seja o Palmeiras. O salto foi de 12 mil em 2011 para 30 mil em 2017. 

Nessa evolução palmeirense entram dois fatores que deveriam estar sendo analisados exaustivamente pela direção do Santos: a transformação do estádio em arena e a montagem de um time que entusiasma a torcida.

Em 2011, o time do Santos entusiasmava o torcedor. Tinha um grande ídolo, Neymar, que depois de uma crise grave numa briga com o treinador Dorival Junior, recebeu assistência integral e competente do clube para modificar o comportamento e recuperar a imagem.

Em 2018, em campo, o time ainda não engatou nenhuma série de atuações convincentes, ainda que tenha mostrado alguns lampejos. Não tem triangulações, não envolve o adversário com  passes e deslocamentos. Direciona a bola para as laterais do campo e daí para cruzamentos improdutivos para a área.

Não tem um jogador de criatividade no meio de campo. Perdeu, no ano passado, o meia Lucas Lima, melhor jogador do elenco, para o Palmeiras por pura incompetência e omissão da direção anterior que não esboçou nenhum projeto de transformação dele em, pelo menos, um xodó da torcida. Assistiu, passivamente, ao desgaste da relação do jogador com o torcedor até a saída, como, aliás, também aconteceu com o campeão olímpico Zeca, formado no clube.  

Crescendo muito menos que os rivais na arquibancada e descuidando dos potenciais ídolos, a situação do Santos foi bem definida, na quarta-feira, por um ex-conselheiro, o Júnior, que assistia ao jogo nas cadeiras cativas: “O pior efeito desse futebol que o Peixe está jogando é que a gente não consegue nem torcer”.