Coluna Dois

Santos: Comitê de Gestão emite sinais de vida inteligente

28/04/2018

“Tempos estranhos, os atuais, no Santos Futebol Clube", observa o sempre atento torcedor e ex-conselheiro José Carlos Reis Santana: "dirigente midiático (que não é o presidente), episódio de pedofilia, atleta acusado de doping, suposta participação (proibida pelo Estatuto) do presidente em empresa de agenciamento de atletas… tudo isso em menos de 4 meses… Estranho. Muito estranho."

Dentro de campo, a coisa não vai tão mal. Apesar da carência de jogadores para o setor de meio campo, os resultados vão de médios a bons. O treinador Jair Ventura é do bem, o que já não é pouco no Brasil atual, dá oportunidades para o elenco todo e no lugar de reclamar reforços nas entrevistas, trabalha e procura extrair o máximo do grupo.

O torcedor que acompanha a vida do clube está preocupado. Com razão. De um lado essa turbulência toda no reino da cartolada santista. Pedidos de impeachment voando no ar. De outro, a espinhosa situação econômico-financeira com que José Carlos Peres recebeu o Santos da gestão anterior. Pior que os cofres raspados e os adiantamentos de receitas é a porta fechada para o crédito. Clubes só fazem negócio com o Santos à vista, em função do não-pagamento das contratações do zagueiro Cleber e dos atacantes Bruno Henrique e Vladimir Hernandes. Empresários também não emprestam nem querem financiar contratações, vacinados pelo calote dado no superagente Giuliano Bertolucci. Os bancos, então, esses foram os primeiros a fechar as portas.

Nesse cenário desolador, entretanto, uma boa notícia: o Comitê de Gestão do Peixe emite sinais de vida lúcida e de inteligência.

As fofocas dizem que o presidente tenta governar sozinho, em desacordo com o Estatuto que determina a moderna governança corporativa. Mas, na direção oposta aos boatos, está um fato. Os membros do Comitê de Gestão aprovaram por unanimidade (9 a zero) e enviaram ao Conselho um regimento interno que obriga que em todo contrato assinado pelo Santos, deva estar anexada, obrigatoriamente, a ata da reunião em que aquela negociação tenha sido aprovada no CG. Peres votou a favor, o que indica plena aceitação da governança corporativa no lugar do antigo presidencialismo. Está nas mãos dos conselheiros a implementação o mais rápido possível dessa medida, excelente para o clube.

Esse tipo de gestão, adotada nas grandes empresas e corporações de ponta no mundo todo, obriga que as decisões sejam discutidas e votadas no comitê. Impede decisões de impulso e dificulta "comissões" e maracutaias de outros tipos. Não dá para manter segredo de rolo em assuntos discutidos no grupo, que no Santos tem 9 membros. Nos clubes, a governança corporativa ainda tem a vantagem de abrir espaço na administração para a participação de correntes políticas derrotadas na eleição. Tudo de bom. A acusação de que as decisões ficam mais lentas não pode nem ser levada a sério em função das tecnologias de comunicação atuais. 

Iniciativas do CG para levar o torcedor de novo para o estádio também são benvindas, como o fornecimento de transporte gratuito de ônibus para o sócio adimplente da Baixada Santista para os jogos no Pacaembu e, vice-versa, para os da Grande São Paulo para jogos na Vila. Já funcionou nos jogos contra Corinthians e Estudiantes. A ideia é criar vínculos e companheirismo entre esses santistas com essas viagens coletivas.

Será que a turbulência vai atrapalhar o desempenho do time? O torcedor apaixonado, e também observador atento, Daniel Haddad, garante que não: "Se não atrasar salários e se o treinador continuar resolvendo com habilidade as situações de vestiário, a cartolada não vai conseguir atrapalhar."