Comportamento

A profissão do futuro não existe… ainda!

28/04/2018

A Lívia, filha da Patrícia, nasceu às 0h40 de segunda-feira (23), mas a profissão na qual ela vai trabalhar quando crescer ainda não existe. 

Exagero? Lembre que, 20 anos atrás, não havia desenvolvedores de aplicativos para dispositivos móveis, engenheiros de energia eólica, operadores de drone, youtubers… E ofícios que existiam há duas décadas praticamente desapareceram: datilógrafo, arquivista de fichários, laboratorista de filmes fotográficos, operador de telex…

Esta dinâmica faz parte da história da humanidade, resultado direto do desenvolvimento da tecnologia. A inovação cria novos trabalhos, extingue outros, transforma alguns: o motorneiro de bonde agora é condutor de VLT; o estivador que carregava sacos nas costas hoje comanda modernos portêineres; o laboratorista de filmes fotográficos atua como tratador de imagens digitais.

Diante deste cenário, a grande pergunta é: como se preparar para um mercado de trabalho que não se sabe qual será? E esta interrogação ganha um contorno mais dramático diante da dúvida de que, ao mesmo tempo que facilita a vida das pessoas, a tecnologia reduz a quantidade de gente necessária para realizar as tarefas. 

Mais do que nunca, as crianças de hoje (e as que vão nascer) devem ser preparadas para o que os especialistas chamam de “transição da Era da Informação para a Era da Sabedoria”. Trocando em míudos: o fundamental não é ter uma quantidade extraordinária de conhecimentos (ainda mais numa época em que a internet facilita o acesso às informações), mas sim saber quais delas são valiosas e como utilizá-las.

 

Preparando o CHA

Profissionais de recursos humanos são praticamente unânimes em indicar a necessidade de ser possuir um conjunto de atributos para obter êxito no trabalho. Em três letras, CHA — iniciais de Conhecimento, Habilidades e Atitudes. A ideia é atribuída a Scott Parry, autor do livro “A busca das competências”, publicado em 1996. 

O conhecimento é o saber em si, o conjunto de informações que a pessoa obtem na escola, na faculdade, nos livros, em palestras, cursos etc.

A habilidade é o saber fazer, colocar em prática o que aprendeu. A pessoa pode ter uma aptidão natural (lembre de Pelé), mas deve aperfeiçoá-la, com treinamentos e atualizações. A atitude é a capacidade de tomar a iniciativa, de definir o que (e quando) fazer.

 

Qualidades desejáveis para o trabalhador do amanhã

Flexibilidade cognitiva- Apesar do nome pomposo, o termo refere à capacidade de ampliar as maneiras de pensar, imaginando diferentes caminhos para resolver os problemas que surgem -vale dizer, soluções distintas para situações que já se apresentaram antes. Quanto mais flexível uma pessoa é, mais facilmente ela será capaz de enxergar novas possibilidades de solução. 

Negociação – Por mais que as máquinas façam parte do ambiente de trabalho, o contato entre pessoas sempre vai ocorrer, mas de outra maneira. Assim, negociar com clientes, colegas (hierarquicamente superiores ou inferiores) e fornecedores terá importância ainda maior. Neste contexto, agir com empatia (colocar-se na posição do outro) será imprescindível.

Julgamento e tomada de decisões- A avalanche de informações presente nos dias atuais tende a aumentar em proporção geométrica. Assim, será fundamental analisar os dados, contextualizá-los e interpretá-los. O chamado Big Data (volume de dados e estatísticas relacionados a determinado tema) não faz sentido se não houver uma mente humana usando-o com sabedoria.

Inteligência Emocional – Apesar de ter se desgastado em diversas obras de auto-ajuda, que o utilizaram inadequadamente, o termo popularizado pelo psicólogo Daniel Goleman refere-se à capacidade de reconhecer e avaliar as emoções de outras pessoas, estabelecer empatia com esses sentimentos e produzir os resultados desejados, uma vez que nem todas (aliás, a maioria) das decisões tomadas pelos seres humanos são inteiramente racionais. A inteligência emocional compreende também identificar os próprios sentimentos, para poder ser geri-las e propiciar pensamentos e atitudes positivos.

Trabalho em equipe- Cada vez mais, os profissionais com capacidade de se relacionar harmonicamente com os outros são valorizados. O principal atributo é saber lidar com a diferenças.

Criatividade- Mesmo com toda a ascensão da robótica avançada, as máquinas não têm a capacidade inventiva do ser humano. Fugir de padrões e encontrar novas soluções para problemas (já existentes ou novos) será um atributo muito valorizado. 

Pensamento crítico- O profissional deve ser capaz de usar a lógica e o raciocínio para questionar determinado problema, considerar várias soluções para aquele obstáculo e colocar os "prós" e "contras" na balança, a cada nova abordagem.

 

Foco no ser humano


Apesar de as novas profissões estarem intimamente ligadas ao avanço tecnológico, o mercado de trabalho será promissor para quem atuar em atividades ligadas diretamente ao ser humano, afirma o coach Esmeraldo Tarquínio Neto. “Pode parecer um paradoxo, mas acredito que o conhecimento deverá ser agregado à essa aproximação e desenvolvimento das atividades humanas”, explica. 

O especialista cita como exemplo o hábito de comer: apesar de a agitação do dia a dia estimula as pessoas a comerem rápido, cresceu o número de simpatizantes da chamada “slow food”, caracterizada por refeições longas, nas quais os sabores vão sendo descobertos a cada garfada ou colherada. “Da mesma forma que se tem atividades humanas voltadas para a tecnologia, há também uma necessidade de manter os pés no chão”, completa. Segundo ele, crescerá a demanda por profissionais que ajudem as pessoas a viver com mais qualidade.

 

Segmentos do futuro


Mas, afinal, quais serão as profissões de nosso filhos e netos? A resposta direta ainda é impossível de ser dada, mas dá para definir segmentos promissores, nas quais uma mão de obra qualificada, antenada com as necessidades das pessoas, será imprescindível.

 

Sustentabilidade- Até por uma questão de viabilidade econômica (recursos naturais cada vez mais escassos), serão necessários cada vez mais profissionais que desenvolvam técnicas que garantam aproveitar com eficiência os recursos naturais (matérias-primas de origem vegetal, energias de fonte limpa como eólica ou solar), além de aperfeiçoar os métodos para redução, reuso e reciclagem de materiais. 

Logística- O transporte de mercadorias exigirá profissionais qualificados para que as entregas sejam feitas cada vez mais seguras, rápidas, menor custo e menos danos ao meio ambiente (emissão de poluentes, barulho etc).

Comunicação-  Cada vez mais, a conectividade entre as pessoas será essencial para o desenvolvimento de qualquer negócio. Seja na comunicação dentro da própria equipe, na interação com o cliente ou na divulgação dos produtos e serviços. Neste contexto, serão essenciais profissionais que desenvolvam o conteúdo e a forma destas mensagens e, o que será uma necessidade, novas plataformas de comunicação -quem imaginou, 30 anos atrás, que todo mundo se comunicaria trocando textos, áudios e vídeos pelo telefone celular?

Design- Por mais que as pessoas busquem eficiência, segurança e um bom preço, os produtos não vão precisar ser feios -muito pelo contrário. As formas e cores serão aspectos importantes e, como já acontece hoje, decisivos na tomada de decisão de compra. Neste contexto, a ergonomia (características que valorizam a segurança e o conforto), terá atenção especial.