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Resenha da semana: O Insulto

26/05/2018

A Guerra Civil do Líbano teve origem devido à presença de diferentes grupos no país, sendo que os cristãos, que são a grande maioria, se manifestaram contra a presença de palestinos. Devido a esse conflito, explodiu uma guerra civil, que ocorreu entre 1975 e 1990. O Insulto, longa indicado a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2018, é uma obra que além de cumprir a função de entreter, consegue levantar uma potente crítica social e aborda alguns comportamentos mundiais que se tornaram cada vez mais alarmantes: a intolerância e o preconceito.

O longa se passa em Beirute e nos apresenta a Toni (Adel Karam) , um cristão libanês que sempre rega as plantas de sua varanda e um dia, acidentalmente, acaba molhando Yasser (Kamel El Basha), um refugiado palestino. Assim começa um intenso desacordo que evolui para julgamento com ampla cobertura midiática e toma dimensão nacional. Dirigido e roteirizado por Ziad Doueiri, O Insulto começa como algo simples, mas que toma uma proporção gigantesca e acaba  se tornando uma bola de neve envolvendo pessoas que não tinham nenhuma ligação com a história inicial (vide o entregador de pizza). Em um determinado momento do filme, um dos personagens esbraveja que os palestinos são os negros do Oriente e outro que  Quisera que Ariel Sharon tivesse exterminado vocês, o que escancara o ódio entre as partes. O longa possui  uma narrativa tradicional, que se mostra eficiente tendo a pretensão de apenas relatar esta história, com um argumento provocativo que se mostra extremamente eficaz ao fazer com que entendêssemos a posição e conflitos de cada personagem. O diretor acerta ao não tornar seu filme panfletário e ao não escolher lados, apresentando um problema grave e propondo ao público discutir sobre o tema e não tentar solucioná-lo. O roteiro mostra-se inteligente por trazer reviravoltas a todo o momento em um grande debate nacional e por desenvolver seus personagens mostrando seus defeitos e qualidades, jamais retratando alguém como uma pessoa ruim, nem mesmo a mais intolerante. O ritmo do filme, com uma tensão crescente, também contribui com a imersão do público que acaba se colocando diante da situação retratada.

A fotografia de Tommaso Fiorilli investe em tons bem fechados e na troca de olhares e expressões dos personagens, sempre em constante movimento nas cenas do tribunal, o que reforça a tensão que está se passando naquele momento. Outro ponto que sempre gosto de destacar é a trilha sonora, que aqui apresenta um tom melodramático que me causou um sentimento dúbio. O filme ainda possui excelentes momentos como a emblemática cena do estacionamento onde um dos carros acaba dando defeito.

Kamel El Basha, premiado em Veneza como melhor ator, constrói seu personagem mais introspectivo, resiliente e contido, porém sem jamais se curvar, criando uma oposição interessante com explosivo Toni, personagem de Adel Karam, ambos em excelentes atuações que fazem com que o público não os enxergue como vilões ou mocinhos, mas como seres humanos.

O Insulto consegue tratar de um assunto complexo e com temas políticos e históricos delicados, de forma humana e sensível, com uma mensagem final positiva. O filme demonstra que, em tempos de discursos inflamados de ódio e intolerância, o diálogo e empatia são os melhores remédios. 

Curiosidade: É o primeiro filme libanês indicado ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
 

 

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