Esportes

Seleção com os pés no chão

16/06/2018

A fragilidade emocional dos jogadores da seleção brasileira de 2014 é uma das recordações mais marcantes do Mundial passado. Ficou explícita na goleada imposta pela Alemanha, mas já havia se apresentado nas partidas anteriores. Quem não se lembra dos atletas aos prantos, após um jogo mais complicado — sem falar do capitão do time, que, com medo de decepcionar, pediu para não participar de uma disputa de pênaltis. 

Quatro anos depois, temos outra comissão técnica e outro grupo, mas quem garante que não vai ocorrer outro ataque dos nervos?

 

Calmos demais 
Especialista em Psicologia Esportiva, a psicóloga Sonia Roman acredita que desta vez será diferente. Na sua avaliação, os atletas de time de Felipão não tiveram capacidade de reagir a uma situação adversa. “Em 2014, foi feito um belo trabalho de psicologia esportiva, no qual a psicóloga deu um retorno ao técnico, informando que a equipe era coesa e estava  ótima emocionalmente. O auxiliar técnico, Carlos Alberto Parreira, endossou, dizendo que a seleção com certeza ganharia a copa. Isso deu segurança nos meninos”, explica. “Quando isso acontece, o corpo ganha uma certa calma, ele desativa, sai da ansiedade ideal para o jogo. A técnica do atleta diminui, ela está dentro do corpo dele, mas não atua. A técnica está corrompida pela calma, pela sua zona de conforto”, completa. “Entraram calmos demais”, resume.

Ela exemplifica com a derrota por 7 a 1. “Quando e equipe alemã começou a fazer os gols, a brasileira foi surpreendida. Nesse momento, os jogadores saíram da zona do conforto e a ansiedade subiu, mas fora do ideal, demasiadamente. Corriam para um lado e para o outro, como uma pessoa cercando uma galinha. Aquela aflição, olhares assustados. Se tivessem entrado ligados, talvez até perdessem, mas não de 7 a 1”, argumenta.

 

Democracia e autoritarismo
Sonia Roman avalia que a situação da atual equipe é completamente diferente. “Tite tem equilíbrio, não é movido a rompantes”, afirma. Segundo a psicóloga, o treinador é, ao mesmo tempo, democrático e autoritário, e esta é a explicação de seu sucesso. Democrático por dar liberdade aos atletas mais criativos, principalmente os do ataque, e autoritário, “sem brigar ou humilhar, principalmente com os da defesa, para que sigam seu esquema tático e orientações. 

“O Tite reúne qualidades que poucos técnicos do Brasil têm. Ou são muito rígidos ou democráticos demais. Os atacantes, geralmente, são narcisistas, irreverentes, então que ter um treinador que eles respeitem. Eles gostam do Tite, porque ele passa tudo com maestria. O time fecha com ele”, conclui.

 

Administrar a ansiedade
Sonia Roman, que já atendeu atletas como Robinho e Neymar, explica que um atleta de rendimento deve competir no que ela define como ‘nível de ansiedade ideal’: nem exageradamente relaxado nem exageradamente estressado. “Se está com excesso de confiança, vira um ‘perna de pau’ quando submetido a uma situação adversa. Os músculos endurecem por conta da tensão e, consequentemente, o atleta perde o calibre das jogadas. É como se fosse um fio elétrico com mau contato, a luz fica acendendo e apagando”.

Sonia Roman afirma que, ao entrar em campo, o jogador deve acender seu estado de alerta. “O que nós pensamos é o que gerencia as nossas emoções.  Damos um comando de alerta para nosso corpo. Muita gente estranhava, mas quando o nadador César Cielo estapeava os próprio peitos, inclusive deixando vermelhos, ele estava se ativando. Essa ativação pode ser através de pulos, exercícios, de palavras de comando, aquele pai-nosso que se reza bastante exagerado na sua força”, explica. “O atleta precisa entender que tem pela frente um problema a ser resolvido e cuja solução é obter a vitória”.