Perimetral

Uma decisão para recuperar nove anos perdidos

16/06/2018

Na semana que se encerra ouvimos, com satisfação, o governador Márcio França autorizando o desenvolvimento dos estudos para a ligação seca entre as duas margens do canal do Porto de Santos. A famosa e repetida tentativa de finalmente implantar algo que pudesse unir Santos e Guarujá de maneira mais adequada.

 

Destaco três aspectos fundamentais. Primeiramente, é necessário ressaltar que o governador cumpre a palavra dada em setembro de 2017, quando ainda no exercício do cargo de vice-governador, a participar de um evento portuário em nossa cidade. Diferente de muitos outros, que trataram o tema apresentando supostas soluções sem efetividade nas ações, o Márcio França cumpre a palavra e apresenta soluções efetivas. 

Outro ponto a salientar é que a solução encontrada não necessitou de grande esforço, pois que já havia sido analisada por técnicos e instituições em vários trabalhos e debates, sempre indicando que a ligação seca entre tais margens deveria ser implantada na região Alemoa-Saboó, até a região circunvizinha da Ilha do Barnabé. Tal solução foi debatida por técnicos da Codesp, das prefeituras e, quando houve consulta formal do Governo do Estado de São Paulo, contou com posicionamentos formais para sua implantação por parte do Conselho de Autoridade Portuária (CAP) do Porto de Santos. 

Foi assim que, em 2009, depois de vários estudos envolvendo em especial os técnicos da Codesp e da Prefeitura de Santos, o CAP firmou posição clara como sendo a região da Alemoa/Saboó como a ideal. Com os traçados conceituais disponibilizados, e apresentados para a Ecovias, por determinação do Governo do Estado, tal concessionária apresentou estudos conceituais de uma ponte em sistema de arcos, que atenderia todas as determinações do CAP, em especial à necessária altura com 85 metros livres para as passagens das grandes embarcações. 

Tais estudos foram divulgados pela imprensa e posteriormente apresentados no próprio CAP em 2010, quando tal Conselho debatia as acessibilidades ao Porto de Santos e cidades da região. Como o tema não evoluía, depois de debater todas as necessidades de infraestrutura para o porto e cidade, o CAP aprovou, em março de 2011, uma resolução consolidando as obras estratégicas, destacando a implantação da ligação seca na região Alemoa/Saboó. 

Mesmo com todos os estudos elaborados e com a Concessionária se dispondo a realizar tal investimento, o Governo do Estado de São Paulo, de forma inexplicável, determinou que a Dersa realizasse novos estudos. De forma surpreendente e afrontando toda a coerência, concluíram pela implantação do projeto megalomaníaco do túnel submerso no meio do canal do estuário. Não encerrava as operações da balsa Santos/Guarujá e ainda atraía maior tráfego de caminhões para dentro de Santos.  Todos os técnicos, inclusive eu fiz parte deste grupo, sempre posicionaram que o projeto de tal túnel nada mais era do que um sonho inconsequente, contra os princípios de gestão de trânsito e ainda mais sem qualquer viabilidade. 

O governador Marcio França tomou uma decisão, recolocando coerência e responsabilidade sobre o tema. Além de atender a todos os modernos conceitos de infraestrutura e de gestão viária, a ligação seca na região da Alemoa/Saboó também recupera a proposta que foi apresentada pelo visionário urbanista e planejador Prestes Maia, que, em livro publicado em 1951, defendeu aquela região como a mais estratégica para tal infraestrutura viária. 

Aliás, neste livro, Prestes Maia já sinalizava que seriam inviáveis obras de engrenharia de porte na região da Ponta da Praia e, assim, não seria possível encerrar as atividades das balsas. Ele defendia que a ligação na região da entrada da Cidade reduziria a importância das balsas, que continuariam sendo utilizadas, em especial de forma turística, como os exemplos vivenciados em muitas cidades portuárias mundiais. 

Se o anúncio do governador nos dá esperança, também nos apresenta a frustração de constar que já poderíamos ter a ligação seca implantada, pois todas as obras entregues para a concessionária sempre foram executadas dentro dos prazos definidos. 

O anúncio do governador pode ajudar a recuperar os nove anos perdidos. Infelizmente, não vai resgatar os investimentos públicos desperdiçados, com os estudos e projetos para o túnel submerso virtual. Vamos comemorar a iniciativa do governador, contando que ele siga sua tradição de cumpridor de palavra e efetivamente garantir a implantação da ligação seca. Mas também vamos cobrar as responsabilidades pelos recursos desperdiçados no famoso e apenas virtual "submerso".