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Resenha da semana: Custódia

07/07/2018

Custódia tem início com a audiência da guarda do pequeno Julien, e mostra total igualdade entre seus pais, os personagens principais que estão diante de uma juíza que lê uma carta do filho direcionada a seu pai, acusando-o de atos agressivos. A advogada da esposa argumenta que o ex-marido é violento e a persegue enquanto que a defesa expõe que ele só faz isso para ficar perto dos filhos. Ao invés de iniciar sua história mostrando quem está certo ou errado, o diretor francês Xavier Legrand prefere deixar que o público adquira as informações fornecidas e avaliem a veracidade dos fatos. Será que o pai é mesmo este monstro que estão falando ou está sendo injustiçado?

O longa nos apresenta a o casal Miriam (Léa Drucker) e Antoine Besson (Denis Ménochet) que acabam de se divorciar. Para garantir a proteção de seu filho do pai, que ela acusa de ser violento, Miriam pede a custódia exclusiva. O juiz, no entanto, acaba concedendo custódia compartilhada aos dois. Tomado quase como um refém entre seus pais, Julien (Thomas Gioria) fará tudo para evitar o pior. O diretor Xavier Legrand desenvolve sem pressa a personalidade da família e vai construindo a tensão lentamente e sem atropelos, subindo a tensão gradativamente até seu histérico e impactante ato final. Outro mérito do diretor e roteirista é a humanização de seus personagens: aqui nem todos são vilões e nem vítimas ingênuas, apenas pessoas tentando sobreviver ou desequilibradas emocionalmente. O diretor é hábil também, em inserir o espectador dentro do âmbito familiar, nos tornando praticamente parte daquela família e fazendo-nos observar aos poucos a desconstrução psicológica dos personagens. Partindo de diversos pontos de vista, por ora mostrando a filha (que tem uma subtrama mal explorada) passando pelo olhar da protetora mãe, pelo perturbado e traumatizado filho e chegando na ameaçadora figura do pai, o roteiro apresenta um texto maduro que acaba se revelando em um suspense crescente sobre violência doméstica. Toda a construção do suspense, desde a longa cena da festa, com uma música alta, diálogos abafados e expressões de desespero no rosto, nos dão uma clara idéia do que está ocorrendo naquele momento, até seus derradeiros momentos que cria um clima de tensão quase insuportável.

Fotografado por Nathalie Durand de forma simples e natural, este longa se assemelha muito esteticamente ao cinema realista francês, como o excelente Polissia ou os filmes dos irmãos Dardenne. Com seu rosto memorável, o ator Denis Menóchet (mais conhecido pela sua participação em Bastardos Inglórios), confere certa humanidade a ameaçadora figura do pai (reparem na cena em que ele desaba de chorar no apartamento da ex esposa), para logo depois ter um descontrole súbito que o transforma em uma bomba relógio. A mãe, interpretada por Léa Drucker, consegue transmitir uma figura materna implacável na proteção de seus filhos ao passo que o jovem ator Thomas Gioria se mantém a altura destes dois atores, dividindo excelentes momentos em um papel muito difícil para sua idade.

Custódia não é um filme que será lembrado daqui há muitos anos, mas é um bom drama familiar que trata de temas importantes, como relacionamentos abusivos, e joga o público em uma constante sensação de tensão, violência e julgamento.

Curiosidade: Em 2017, o filme foi selecionado para a o Festival Internacional de Cinema de Toronto.

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