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O estigma da esquizofrenia

14/07/2018

Estima-se que a esquizofrenia acometa 1% da população mundial – 2,5 milhões de pessoas somente no Brasil. O psiquiatra Joel Rennó Jr explica que a doença costuma ter início na adolescência (em alguns casos na infância) e dificilmente ocorre após os 30 anos de idade. “A hereditariedade pode ser um fator de risco maior, assim como o parto traumático ou com sofrimento fetal e o uso de drogas”, informa o especialista, que é professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.

Os pacientes com esquizofrenia sofrem muito preconceito e Rennó Jr atribui isso à falta de informação das pessoas em geral, estereótipos, ou distorções da realidade que são veiculadas nas mídias. “O paciente esquizofrênico em tratamento correto não é mais ou menos violento que qualquer pessoa da sociedade e tal informação precisa ser do conhecimento de todos. Essas pessoas são marcadas por fortes estigmas sociais, precisam de tratamento humano e adequado a fim de conseguirem se reintegrar à sociedade, trabalhar, estudar, e viver dignamente”, enfatiza.

Doença costuma aparecer na adolescência
Segundo o psiquiatra, geralmente a esquizofrenia começa a partir de alterações comportamentais na adolescência. “É comum o jovem se isolar socialmente, ficar desconfiado e com medos infundados a respeito da realidade que o cerca”, diz. Podem também ocorrer prejuízos na funcionalidade do paciente nos diversos níveis de atuação.

E Rennó Jr faz um alerta: “Há vários trabalhos científicos sérios que demonstram uma chance aumentada de esquizofrenia em até dez vezes entre usuários de maconha que possuem genes predisponentes ao transtorno”.

Primeiros sintomas
Quando o início da doença não se dá por um surto claro, os primeiros sintomas são enganosos. Podem se manifestar através de esquisitices; alheamento social e familiar; isolamento; queda de rendimento escolar e laboral; idéias bizarras; comportamento estranho e injustificado; idéias de perseguição ou de grandeza; delírios religiosos; alterações do ciclo sono-vigília; mutismo; alucinações (visuais ou auditivas); ato de falar sozinho. 


Como tratar
Rennó Jr reconhece que um dos grandes problemas entre os pacientes de esquizofrenia é a baixa aderência ao tratamento. “É comum os pacientes abandonarem o tratamento, fumarem excessivamente (o que pode diminuir o efeito do medicamento) ou usarem concomitantemente drogas como álcool, maconha e cocaína, que pioram o curso da doença levando a surtos psicóticos freqüentes”, aponta.

O profissional garante que pacientes esquizofrênicos em tratamentos regulares podem ter uma vida bem ajustada do ponto de vista psicossocial e familiar. “Hoje dispomos de antipsicóticos eficazes e com menos efeitos colaterais. Há diferentes tipos e graus de esquizofrenia e cada caso deve ser analisado individualmente, por psiquiatra experiente, que oriente a família como proceder”.

Segundo ele, recaídas em pacientes sob tratamento variam entre 12 e 15%. Em pacientes não tratados ou não diagnosticados corretamente, o risco de surtos psicóticos atinge em torno de 70%. “É importante que se saiba que o doente mental não é necessariamente perigoso ou agressivo, quando recebe tratamento adequado. O tratamento com um psiquiatra e com os fármacos indicados faz, em muitos casos, os surtos e recaídas sejam exceções e não regra”, completa.