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Legibilidade das prescrições

21/07/2018

“Letra de médico” é uma brincadeira sem graça. Várias normas jurídicas obrigam que as prescrições médicas ou odontológicas sejam legíveis. O Conselho Federal de Medicina alerta para o risco de erro de medicação quando a prescrição for ilegível. Não tem sentido essa prática. Não tem necessidade. Nenhum outro profissional, seja ele farmacêutico ou enfermeiro, tem obrigação de decifrar o que está escrito. Alguns estudos mostram que mais de 30% das prescrições são pouco legíveis e quase 5% são totalmente ilegíveis.

 

Um estudo suíço considerou apenas 2% das prescrições médicas plenamente legíveis e 4%, ilegíveis.
A população não deve mais aceitar essa prática. Deveria devolver a prescrição em que não esteja expressa de forma clara o nome do medicamento (o ideal é que esteja escrito o nome da substância e não o comercial), a via de administração, a posologia (quantas vezes tomar ao dia), tempo de tratamento, inclusive para os de uso crônico. São informações obrigatórias para o sucesso do tratamento. A prescrição ilegível é uma infração ética que os Conselhos Profissionais de Medicina e de Odontologia deveriam dar mais atenção. 

 

Em muitos países, a prescrição eletrônica é obrigatória devido, em parte, para evitar erros de dispensação devido dificuldade da leitura. Pesquisas mostram que a prescrição eletrônica reduz diversos tipos de erros como falta de informações, mas, sem dúvida, não há problemas de legibilidade. É certo, também, que algumas pessoas têm letras de difícil compreensão, mas que não traz transtornos maiores quando se trata de lista de supermercado ou receita de bolo. Mas nunca será aceitável na prescrição de remédios. A prescrição escrita é três vezes mais passível de erros do que a eletrônica.

 

Estudos teóricos acreditam que cerca de 7.000 pessoas morram por ano devido a erro de interpretação de receitas, não apenas devido a ilegibilidade. Mas é um fator importante. Algumas substâncias têm nome muito semelhantes alopurinol (contra gota) e haloperidol (medicamento psicoativo); ou nomes comerciais como floratil (antidiarreico) e foradil (broncodilatador). A Anvisa não tem mais permitido o registro de nomes semelhantes.

 

E quando falamos em legibilidade, há de considerar que as prescrições não devem conter abreviaturas, mesmo as mais comuns. Instituições renomadas, internacionais e nacionais, têm defendido que as indicações da forma farmacêutica, posologia e via de administração sejam escritas integralmente.

 

Comprimidos no lugar de comp. ou c.; duas vezes ao dia, em vez 2 X/d; amp. não, mas ampola. Essas siglas, além de poder induzir ao erro por si só, quando associada a uma letra ilegível potencializa o risco de erro de medicação.

 

Receber uma prescrição legível é um direito do cidadão. Faça a sua parte, EXIJA!