Digital Jazz

A alma de uma orquestra – Rio Jazz Orchestra

23/06/2018

Tive a sorte e o privilégio de ter sido criado desde pequeno, ouvindo em casa, as orquestras de Glenn Miller, Tommy Dorsey, Count Basie, Duke Ellington e de tantos outros líderes de orquestras, que tiveram na sonoridade encorpada e absolutamente mágica, a sua grande marca. 

 

Sempre tive a curiosidade de saber como funcionavam os bastidores, os ensaios, a escolha dos arranjos destas “Big Bands” e a minha curiosidade foi satisfeita no ano de 2008, com o lançamento pelo selo carioca Rob Digital, de um documentário brasileiro. Trata-se do DVD/CD produzido com muita competência pelos alunos, professores e profissionais de cinema da Universidade Estácio de Sá, da cidade do Rio de Janeiro, destacando a Rio Jazz Orchestra, uma das únicas e importantes orquestras brasileiras, que mescla a tradição e a modernidade, preservando os arranjos originais dos temas clássicos, ao mesmo tempo apresentando a evolução da sonoridade atual.

 

A RJO foi criada no ano de 1973 e comandada por mais de 38 anos pelo médico cirurgião plástico, músico e maestro Marcos Szpilman, falecido no ano de 2011 e que tinha parentesco com o pianista Wladyslaw Szpilman, retratado no famoso filme “O Pianista”, do diretor renomado Roman Polanski. A ideia de organizar uma orquestra no Brasil foi ousada e é fruto da sua intensa paixão pela “Era das Big Bands”, que resultou num acervo considerável de mais de 1.500 arranjos feitos especialmente para a RJO. O documentário apresenta também os marcantes depoimentos dos grandes músicos Danilo Caymmi, Leo Gandelman, Roberto Menescal e Victor Biglione, que destacam a importância do seu trabalho e da sua iniciativa de perpetuar para as gerações futuras a sonoridade marcante de uma grande orquestra. 

 

O ponto alto fica para a apresentação ao vivo da RJO composta por 19 músicos no auditório do campus da referida universidade, que leva o inspirado nome “Tom Jobim”, depois de inúmeros ensaios e de uma intensa dedicação do seu líder e dos seus comandados, músicos de grande qualidade e talento. A participação especial da cantora Taryn Szpilman como “crooner” da orquestra, merece o meu destaque. Ela é filha de Marcos Szpilman e a considero como uma das cantoras mais talentosas que surgiram nos últimos anos na cena musical brasileira. Ela literalmente “arrepia”, cantando os temas “Night and Day”, “The Song Is You” e “We`ll Be Together Again”.

 

A primeira vez que a ouvi cantar ao vivo, foi no Festival de Jazz e Blues do balneário carioca de Rio das Ostras no ano de 2008. Fiquei impressionado com a sua voz potente e pela bela presença de palco. Ela sabe das coisas e nem poderia ser diferente. Está na alma e no sangue da família Szpilman. O repertório escolhido pela RJO traz os clássicos “Moonglow”, “Serenade In Blue”, “Georgia On My Mind”, “Stardust”, “As Time Goes By”, “All Of Me” e muitos outros temas conhecidos, que farão você se emocionar. Dividido em 2 partes, uma documental e outra musical, o documentário destaca de uma forma sensível a história de vida de Marcos Szpilman e o seu amor intenso pela música através da Rio Jazz Orchestra, que ele tão bem dirigiu por várias décadas.

 

E atualmente Taryn Szpilman, uma cantora branca de alma negra, continua levando o nome da RJO pelo Brasil e exterior, e mantendo o legado deixado pelo seu pai em anos de doação e dedicação para esta orquestra, que é um patrimônio cultural de todos nós.

 

 

Oscar Castro Neves & Paul Winter – “Brazilian Days”

 

A coluna da Rádio Jornal da Orla/Digital Jazz presta uma justa homenagem ao violonista, compositor, produtor e arranjador Oscar Castro Neves, falecido em 2013 e que foi um dos pioneiros da Bossa Nova e um dos grandes responsáveis pela consolidação do movimento nos Estados Unidos. 

 

Ele participou das várias reuniões musicais no famoso apartamento de Nara Leão em Copacabana e foi uma figura muito importante no célebre concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall de Nova York, no ano de 1962, acompanhando vários artistas naquela noite memorável. Estava radicado em Los Angeles desde 1967 e por lá desenvolveu diversos trabalhos importantes, sempre com a Bossa Nova e também com o Jazz ao lado de Dizzy Gilespie, Lalo Schifrin, Stan Getz, Bud Shank, Ray Brown, além de uma enorme e impressionante lista de parcerias com nomes de peso e projeção.

 

Neste CD do ano de 1998, lançado pelo selo Living Music/BMG ao lado do saxofonista Paul Winter, regravaram vários clássicos do gênero que ele ajudou a criar e a manter até os dias de hoje.

 

Participaram também das gravações os músicos Nilson Matta no contrabaixo, Paulo Braga na bateria, Paul Halley no órgão e Cássio Duarte na percussão. 

 

O repertório traz como destaques os temas “Coisa Mais Linda”, “Minha Namorada”, “Ana Luiza”, “Imagem”, Por Causa de Você” e “Se É Tarde Me Perdoa”. 

 

Seu grande amigo Roberto Menescal o considerava o cara mais carinhoso que ele havia conhecido na vida, fato este reconhecido por muitas pessoas que tiveram o privilégio de conviver com este grande músico e ser humano. 

 

Uma grande perda para a música e para a Bossa Nova, que teve nele um de seus personagens mais importantes e marcantes, mesmo sem ter o mesmo reconhecimento dos seus demais companheiros Tom Jobim, João Gilberto e Carlos Lyra. 

 

 

Bossacucanova – “Ao Vivo”

 

O trio carioca Bossacucanova foi criado no ano de 1997 e é formado pelo Dj Marcelinho Da Lua, pelo contrabaixista Márcio Menescal (filho do mestre Roberto Menescal) e pelo tecladista Alexandre Moreira (os 3 também são produtores) e ficou conhecido por revisitar os clássicos da Bossa Nova, dando uma roupagem mais atualizada aos clássicos do gênero, numa mistura bem equilibrada da sua batida tradicional com os elementos mais eletrônicos. 

 

No ano de 2008, depois de tantas homenagens ao cinquentenário da bossa nova, o grupo resolveu lançar no formato CD + DVD um apanhado da sua carreira, aproveitando para também celebrar o gênero, trazendo como convidados Carlos Lyra, Roberto Menescal, Marcos Valle, João Donato, Leo Gandelman, Ed Motta, Wilson Simoninha, Jaques Morelembaun entre outros. 

 

Merecem também destaque as participações de Cris Delanno nos vocais e flauta, Dado Brother na bateria e percussão, Flávio Mendes na guitarra, violão e vocais, Rodrigo Sha nos saxofones, flauta e voz, Marlon Sette no trombone e Laudir de Oliveira na percussão. 

 

Do repertório apresentado pelo trio e seus convidados, seleciono “Samba da Minha Terra”, “Essa Moça Tá Diferente”, “Samba de Verão”, “Bom dia Rio (Posto 6)”, “Garota de Ipanema” e “Balanço Zona Sul”. 

 

O grupo Bossacucanova é grande prova de que a Bossa Nova continua nova e revigorada, com muito fôlego para ser cultuada por mais 100 anos ou mais.