Comportamento

Setembro Amarelo: precisamos falar sobre suicídio

08/09/2018

Quando o escritor alemão John Wolfgand Goethe lançou, em 1774, "Os sofrimentos do jovem Werther", não imaginava o que estava por vir. O livro, em que o personagem principal se mata, foi acusado de ser o estopim para uma onda de suicídios que aconteceria na sequência, conhecida até os dias de hoje como "Efeito Werther", um “efeito contágio” causado pela disseminação de uma notícia. Por este motivo, a grande imprensa mundial evitou, por séculos, divulgar casos de pessoas que dão fim à própria vida. 

Mas o aumento do número de casos de suicídios, especialmente no Brasil, chama a atenção do poder público, da mídia e de profissionais ligados à saúde mental, que têm quebrado os tabus que permeiam o suicídio e dedicam todo este mês para falar sobre o assunto, na ação conhecida como Setembro Amarelo. Neste período, em todo o País acontecem encontros, palestras e ações que abordam a importância da prevenção.

Caso de saúde pública


O suicídio é considerado um problema de saúde pública, diante de seus números alarmantes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que ele mata uma pessoa a cada 45 segundos em todo o mundo. O Brasil é o oitavo país em suicídios: são 32 brasileiros mortos por dia, um a cada 45 minutos, em sua maioria, jovens de 15 a 29 anos. 

Em Santos, dados da Secretaria de Saúde indicam que, das 88 tentativas de suicídio registradas em 2017, 28 foram consumadas. Neste ano, seis pessoas morreram em um universo de 70 tentativas.  Os grupos mais vulneráveis são adolescentes, idosos e pessoas que sofrem discriminação, como refugiados, negros, indígenas e LGBTs. 

Quando alguém comete suicídio é comum perguntarmos os motivos que levaram à tragédia. A Ciência, que já chegou a relacionar as tendências suicidas a heranças genéticas, hoje, acredita que as causas estão ligadas a fatores diversos, que se acumulam, entre eles, a solidão, perdas e, especialmente, condição mental frágil. 

Segundo a OMS, 90% das pessoas que se suicidam apresentavam algum desequilíbrio, como depressão, transtorno bipolar, dependência de substâncias ou esquizofrenia. Mas apenas 10% dos que sofrem de depressão, por exemplo, tentam acabar com a vida. Por este motivo, a OMS defende que grande parte dos suicídios pode ser evitada e incentiva campanhas de prevenção e o amplo acesso aos serviços públicos de saúde mental.

Os 13 porquês


O sucesso da série "Os 13 porquês", da Netflix, levantou debates sérios sobre o suicídio. Na história, Hannah Baker, de 17 anos, sofre bullying e se isola dos amigos. Antes de se matar, ela decide gravar 13 fitas cassetes explicando os motivos que a levaram a isso.

A estreia da primeira temporada, em 2017, fez aumentar as ligações para o Centro de Valorização à Vida (CVV), principal serviço de apoio psicológico e de prevenção ao suicídio do País. 

O voluntário e porta-voz do CVV em Santos Renato Caetano define o apoio do Centro a quem recorre ao número de telefone 188 como “um atendimento de primeiros socorros". O CVV, pioneiro nas ações de prevenção ao suicídio, existe há mais de 50 anos, desenvolvendo o trabalho que é o fio condutor das atividades do Setembro Amarelo em todo o Brasil.

"Hoje, o 188 é reconhecido pelo Ministério da Saúde como um número de emergência. É possível conversar com um voluntário do CVV de qualquer lugar do País a partir de um telefone fixo, celular, e-mail e via chat. Há também postos fixos, como o de Santos, para quem opta por atendimento presencial", orienta.

Voluntário há 35 anos, Renato explica que o apoio do CVV, além de sigiloso, é calcado no respeito, sem oferecer conselhos e, principalmente, sem julgamentos. "Os voluntários são prontos a ouvir. Assim, criamos condição favorável para a pessoa se abrir. Muitas não conseguem enfrentar seus problemas e estão cansadas de suas vidas. Quem pensa em se matar, não quer se matar e, sim, acabar com a dor", explica.

A campanha Setembro Amarelo foi criada para que mais pessoas tenham a coragem de buscar ajuda e outras estejam em alerta. "Dar atenção nem sempre é fácil, mas nós queremos incentivar o olhar sobre o outro e trazer a consciência de que procurar ajuda em saúde mental é como ter a mesma preocupação de procurar um ortopedista quando se torce o joelho, por exemplo. É importante que este assunto seja debatido todo ano, pois 90% dos suicídios podem ser evitados", conclui Renato.
 

Sinais de alerta


Alguns comportamentos podem indicar que uma pessoa está precisando de ajuda. Especialistas dividem os sinais de alerta em riscos imediatos e riscos sérios. Confira:
Riscos imediatos
– Falar insistentemente sobre querer morrer ou se matar
– Pesquisar formas de suicídio na internet ou comprar uma arma
– Falar que perdeu toda esperança ou que não tem mais nenhuma razão para viver
Riscos sérios
Observe se a mudança de comportamento é nova e/ou está relacionada a um evento doloroso ou perda (emprego, morte, separação)
– Idoso: falar que está sentindo uma dor insuportável ou sobre ser um fardo para os outros.
– Adolescente: estar muito ansioso ou agitado; comportando-se imprudentemente ou se isolar
– Dormir muito pouco ou sono em excesso
– Demonstrar raiva, falar sobre vingança ou mudanças de humor extremas.
– Aumentar o uso de álcool ou drogas.

 

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Serviço:
O 188 é telefone do CVV e funciona todos os dias, 24h. A ligação pode ser feita por celular, fixo, via e-mail (por meio de formulário no site) ou chat no www.cvv.org.br. A sede do CVV em Santos fica na Rua Campos Melo, 189, na Vila Mathias.
 

Confira a programação de atividades do Setembro Amarelo promovida pelo CVV

10/9 – 19h – Palestra na Unisanta
11/9 –  20h – Palestra Grupo Espírita Esperançar
15/9 – 9h e 15h – Palestra com André Trigueiro na Unisantos
16/9 – 9h – Palestra com André Trigueiro na UNIP
23/9 – 10h30 – Caminhada