Uma substância pode demorar entre dez e quinze anos de pesquisa para que seja transformada efetivamente em um medicamento. Nesse caminho, muitas substâncias podem ser abandonadas porque não se mostram mais efetivas do que as que já estão no mercado, ou pior, apresentam mais reações adversas. Esse é o caso de um medicamento proibido nos EUA desde 2017 e agora (agosto 2018) também proibido no Brasil.
A substância cardarine é pesquisada desde 1992. Inicialmente indicada para o controle da dislipidemia, chegou a ser testada em seres humanos, porém o projeto foi abandonado porque descobriu-se que a substância produzia câncer em doses terapêuticas. Mas as pesquisas também mostraram que a substância simulava a ação de hormônios androgênicos e, então, passou a ser vendido como anabolizante, substância que aumenta a resposta dos músculos aos exercícios, prática conhecida nas academias como “bomba”.
A Anvisa proibiu a comercialização de cardarine, também chamado de endurobol, por qualquer meio, inclusive pela internet. A FDA tem feito uma campanha sistemática contra o uso dessa e de outras substâncias esteroides usadas para o ganho de massa muscular, chamando as empresas produtoras desse tipo de produto de inescrupulosa. Essas substâncias trazem risco comprovado de danos hepáticos bem como cardiovasculares. Também identificada como GW 1516, faz parte da lista proibida de substâncias a serem usadas por atletas profissionais promovia pela Agência Mundial de Antidopagem (WADA).
Estudos também mostram que o uso desses análogos de hormônios pode, inclusive, reduzir a densidade de neurônios no cérebro. Em algumas situações de uso, a redução pode ser da ordem de 40%. Estima-se que, no Brasil, uma em cada dez mil internações seja causada pelo uso de esteroides, e que 1% dessas pessoas vai a óbito. Mas o grande desastre é o comprometimento hepático e endócrino resultante desse uso inconsequente.
Outro problema importante causado pelo uso de esteroides é a ginecomastia, ou crescimento das mamas em homens. Em certos casos, esse problema somente é corrigido com cirurgia. Mas alterações de comportamento também é comum, como o aumento da agressividade justificada pela ação do próprio hormônio. Em algumas pessoas, com predisposição ao transtorno psíquico, a agressividade pode chegar a um nível patológico.
Infelizmente, todo conhecimento já adquirido sobre o uso dos esteroides, como a cardarine, não tem sido suficiente para frear o aumento no consumo dessas drogas, no Brasil e no mundo.
