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Alzheimer, que doença é esta?

22/09/2018

Os avanços da medicina e as descobertas tecnológicas estão permitindo ao ser humano viver mais tempo, mas, como efeito colateral, aumenta também os problemas decorrentes do envelhecimento do corpo. É o caso do Mal de Alzheimer, a mais comum das chamadas demências degenerativas, que acomete 35 milhões de pessoas no mundo e 1,2 milhão no Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz).

“O principal fator de risco para a doença é a idade. Após os 65 anos, o risco de desenvolver a doença dobra a cada cinco anos. Porém, é importante ressaltar que não se trata de uma doença apenas da velhice, não deve ser vista como normal da idade”, alerta Letizia Letizia Borges, neurologista do Hospital Santa Paula. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em cerca de 9% dos casos o aparecimento de sintomas ocorre antes dos 65 anos de idade. 

O médico Carlos André Uehara, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), chama a atenção para o fato da população brasileira estar envelhecendo de forma acelerada. “Na Europa, a transição demográfica foi um processo muito mais longo do que está acontecendo no Brasil. Em menos de 100 anos nós praticamente duplicamos a expectativa de vida”, informa. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, há 28 milhões de pessoas acima dos 60 anos em 2018. Até 2060 este número subirá para 73 milhões.

Degenerativa e progressiva


Reportada pela primeira vez pelo médico Alois Alzheimer, em 1906, trata-se de uma doença degenerativa do sistema nervoso que acarreta alterações progressivas da memória, do comportamento e da funcionalidade. É considerada uma enfermidade relacionada ao envelhecimento, embora também esteja associada a fatores de risco como hipertensão arterial, diabetes, aumento dos níveis sanguíneos de colesterol, estilo de vida sedentário, obesidade, baixa escolaridade e até mesmo isolamento social e sintomas depressivos.

“De início, o paciente começa a perder sua memória mais recente e esquece, por exemplo, onde guardou um objeto, não se recorda dos compromissos etc. A evolução do quadro causa grande impacto no cotidiano e leva às mudanças de personalidade e comportamento acompanhada de uma dependência cada vez maior de outras pessoas”, explica Letizia Borges, neurologista do hospital Santa Paula.

Diagnóstico e tratamento
Os sintomas iniciais da doença de Alzheimer podem ser vistos pela família como sintomas normais do envelhecimento. O diagnóstico é clínico, ou seja, depende da análise de um médico geriatra ou neurologista para avaliar a capacidade cognitiva do indivíduo. Apesar de não ter cura, ao vincular o tratamento adequado a cuidados especiais é possível melhorar a qualidade de vida não apenas do paciente, mas também do cuidador. A manutenção das atividades mentais e físicas, associadas a um propósito de vida, são fundamentais. Por isso é importante que a doença seja diagnosticada precocemente.

 

Nem todo esquecimento é sinal 


De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, vários fatores podem influenciar na memória, como a visão, a audição, a atenção, a concentração, a motivação, o humor, a cultura e as aptidões natas como a facilidade que cada um tem para lembrar-se de rostos e nomes, por exemplo. O uso de medicamentos e algumas doenças clínicas, neurológicas e psiquiátricas podem prejudicar o funcionamento correto da memória.

Alzheimer e outras patologias neurodegenerativas devem ser acompanhadas de perda funcional do cérebro, afetando tarefas rotineiras e progressivamente tornando o idoso mais dependente. Os exames clínicos são solicitados para comprovar ou excluir causas de demências secundárias, como lesões cranianas, isquemias, sinais de acidente vascular cerebral ou tumores cerebrais, além de analisar outros problemas de saúde que podem impactar na capacidade funcional do cérebro, como falta de vitamina B12, mau funcionamento da tireoide e doenças infecciosas.

 

Cuidador também precisa de atenção


Por ser uma doença que vai deixando o paciente progressivamente mais dependente, a figura do cuidador (seja da família ou não) é fundamental no processo. Mas a carga de estresse diário cobra seu preço, por isso é importante que esta pessoa se cerce de medidas que vão ajudá-la a suportar a fase difícil sem afetar a própria saúde. 

“O cuidador deve conhecer a doença e buscar informações em fontes seguras, como a Associação Brasileira de Alzheimer, e procurar trocar experiências em grupos de apoio ou com pessoas que passaram por experiência semelhante”, aconselha a neurologista Letizia Borges. Outra recomendação é quanto à organização para manter a autonomia do paciente. “Coloque de forma discreta plaquinhas nomeando os cômodos da casa para ajudar o paciente a se localizar. Divida sempre suas dúvidas com o especialista que está à frente do tratamento. E priorize também sua saúde mental e física”. 

 
Cuidados essenciais

Os cuidados são recomendados aos familiares e cuidados pelo neurologista e presidente da Associação Brasileira de Alzheimer, Rodrigo Schultz.
 
Estímulo para o cérebro – Montar quebra-cabeças, ver um álbum de fotografias, ler um livro são exercícios que estimulam as funções cerebrais e auxiliam a treinar a linguagem, a memória e a fazer pequenas tarefas. As atividades podem ser feitas individualmente (em sessões de terapia, por exemplo) ou em grupo.
 
Atividade física – Programas individualizados de atividade física são benéficos para a funcionalidade de pessoas com a doença de Alzheimer leve a moderada. Além de prevenir dores e quedas, melhora a disposição e o humor.
 
Medicação, tratamento adequado e orientação – Se diagnosticada no início, o tratamento adequado retarda o avanço e ameniza os sintomas. O SUS disponibiliza várias terapias, incluindo a medicamentosa.
 
Ambiente seguro – As confusões mentais e lapsos de memória podem colocar a segurança em risco. Uma forma de minimizar é informar vizinhos e amigos do estado do paciente para que, se necessário, eles o ajudem. Uma pulseira de identificação ou uma etiqueta na carteira podem resolver o problema caso o paciente venha a se perder.
 
Alimentação adequada – A nutrição adequada a cada paciente deve ser orientada por um especialista. Os idosos podem necessitar de uma maior oferta de proteínas: carnes brancas, como peixe e aves; carnes vermelhas magras; leite desnatado; carboidratos e reguladores, fontes de vitaminas e minerais (vegetais, frutas e legumes). 

 

Sete sinais de perigo


Quanto antes a doença for percebida, menos danos serão causados. O neurologista Maurício Hoshino, do Hospital Santa Catarina, reuniu sete sinais típicos que podem indicar que a pessoa pode ser um portador de Alzheimer.

Repetições de falas e ações: devido aos problemas de memória, pessoas com Alzheimer tendem a repetir as mesmas frases e ações, já que a doença costuma afetar principalmente a memória recente.

Problemas para realizar tarefas simples: uma simples tarefa como fazer café pode se tornar um problema para o portador de Alzheimer. Até mesmo a utilização dos utensílios corretos na cozinha passa a ser um obstáculo. Passa a ter dificuldade em manipulação do dinheiro, senhas e para elaborar as compras do supermercado ou padaria.

Esquecimento frequente de palavras: em um estágio um pouco mais avançado, o portador de Alzheimer passa a esquecer palavras básicas. A degeneração constante das células no cérebro leva a essa condição.
Mudança repentina de humor: é comum uma pessoa que tenha o Mal de Alzheimer ficar facilmente irritada e chateada, com falta de confiança e sentindo-se frustrada.

Não saber onde está ou o que está fazendo em determinada situação: é recorrente que o portador da doença neurodegenerativa perca a noção de onde está, esquecendo-se totalmente de seu propósito na situação e no local presente. É costume encontrar uma explicação para suas falhas, embora não justifique a frequência com que ocorrem.

Falta de higiene pessoal: algumas mudanças no comportamento são típicas do portador de Alzheimer, como, por exemplo, esquecer-se de tomar banho ou de fazer seus procedimentos básicos de higiene (e frequentemente argumenta que já o fez). Colocar as mesmas roupas também é habitual, assim como a falta de preocupação com a própria imagem.

Mudança de linguagem e dificuldade na fala: a pessoa com Alzheimer tende a utilizar uma linguagem mais simplificada, utilizando cada vez menos palavras e apresenta nítida dificuldade de construir frases coesas. O vocabulário fica mais simplificado.