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Vício digital: uso compulsivo da internet é cada vez maior

13/10/2018

No filme ‘Ela’, lançado em 2014, o personagem Theodore (Joaquim Phoenix) caminha pelas ruas ao lado de pessoas que falam sozinhas com seus sistemas operacionais, gesticulam e fechadas em si mesmas. O filme projeta o futuro próximo em uma cidade cheia de gente e vazia ao mesmo tempo, habitada por uma geração ansiosa e solitária. O próprio personagem se apaixona pela voz sedutora de um sistema de computador, vivendo uma história de amor inusitada entre o homem contemporâneo e a tecnologia.

O futuro imaginado no filme parece mais próximo do que o previsto quando observamos ao redor. O uso da internet é cada vez maior, especialmente das mídias sociais como espaços de comunicação, debates e até enfrentamentos. De acordo com estudiosos no assunto, gostar de internet não significa um problema em si. O que caracteriza a patologia é seu uso excessivo aliado a outros fatores comportamentais.

O uso compulsivo de sites de relacionamento pessoal, jogos ou pesquisas virtuais já é reconhecido como Transtorno de Dependência à Internet e o Vício Eletrônico, como explica o neurologista Fernando Morgadinho, da Universidade Federal de São Paulo e diretor da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). “São alterações psiquiátricas com a prevalência crescente”, diz.

Apesar de atingir pessoas de todas as idades, especialistas indicam que o vício pela internet costuma acometer os mais ansiosos e com tendências à depressão. Assim como no filme, o mundo virtual torna-se uma fuga da realidade e o recurso da tecnologia passa a distrair o usuário de uma situação difícil da vida real.

Sono é um dos mais prejudicados
A qualidade do sono é um dos fatores prejudicados por quem sofre do transtorno. “Há uma perda de qualidade e quantidade de sono proposital para manter o vício”, afirma Fernando Morgadinho. Ele explica que, além do impacto direto via iluminação da tela, os aparelhos eletrônicos emitem muita luz azul. “Este espectro de luz inibe muito a liberação de melatonina, que é um hormônio importante na indução do sono. Pessoas com uso de aparelhos eletrônicos conectados ou não à internet, com tela acessa perto da hora de dormir, têm um grande risco piorar o sono”.

Quanto tempo usar
Segundo o neurologista, não há definição precisa sobre um limite seguro de horas para a utilização diária do computador. “A quantidade ideal ou segura para o uso do computador vai depender de vários fatores como a opção profissional de cada pessoa, por exemplo. Assim, o limite do uso de horas é difícil de ser estabelecido. Relevante é saber reconhecer os sinais de alerta que caracterizam o abuso e provavelmente a dependência”, orienta.

Sinais de alerta
• Gasta as horas de sono para ficar no computador;
• Sempre fica mais tempo conectado do que pretendia;
• Perdeu amigos ou recebe queixas de familiares sobre o tempo que passa conectado;
• Prejuízo no desempenho ou na produtividade no trabalho devido à internet;
• Fica irritado quando alguém atrapalha enquanto está conectado;
• Tenta reduzir a quantidade de tempo conectado e não consegue;
• Fica deprimido e nervoso quando não está conectado e isso desaparece quando volta a estar ligado. 

O que fazer
Reconhecer o problema e buscar ajuda profissional são os primeiros passos. No caso da qualidade do sono, o neurologista recomenda evitar o uso de computador, tabletes, celulares e outros aparelhos duas horas antes de dormir. Outra alternativa é o uso de filtros de luz azul nas telas ou diretamente no aparelho. Nesta situação, é minimizado o impacto da iluminação da tela na liberação da melatonina.