TV em Transe

Começou mal

01/11/2018

Não teve um bom início a relação do presidente eleito Jair Bolsonaro com a imprensa.
Na segunda-feira ele deu uma maratona de entrevistas nas cinco principais redes do país: Record, SBT e Globo (ao vivo), Rede TV! e Band (gravadas).

 

No “Jornal Nacional” da Globo, Bolsonaro atacou a Folha de S.Paulo por publicar o que chamou de fake news a seu respeito, como a reportagem denunciando que empresários impulsionaram disparos por WhatsApp contra o PT, uma prática ilegal. “Não quero que [a Folha] acabe. Mas, no que depender de mim, imprensa que se comportar dessa maneira indigna não terá recursos do governo federal…Por si só esse jornal se acabou”, afirmou.

 

William Bonner saiu em defesa do veículo: “A Folha é um jornal sério. É uma parte importante da imprensa profissional brasileira”, ressaltou.

 

Neste espaço, já destaquei o fato de a liberdade de imprensa no Brasil por vezes ser confundida com “libertinagem” – fruto da irresponsabilidade e falta de ética. Denúncias são tratadas como verdade absoluta, julgam e condenam antes que a Justiça o faça.

 

Mas como o presidente eleito pode determinar os veículos que são ou não “dignos”? Ele deu uma pista… Antes da Globo, apareceu no “Jornal da Record”. E a entrevista começou assim:

 

“Parabéns pela votação e obrigado por me receber mais uma vez. Boa noite, presidente”, cumprimentou o repórter Eduardo Ribeiro. “Boa noite. Eu que agradeço o jornalismo isento da Record”, respondeu Bolsonaro.

 

Isento? Como assim?

 

No mês de outubro o então candidato pelo PSL foi tema de duas longas – e amigáveis – reportagens no “Domingo Espetacular”. O dono da Record, Edir Macedo, revelou publicamente apoia-lo no segundo turno da eleição. E jornalistas da tevê e do Portal R7 fizeram denúncias junto ao sindicato da categoria: teriam sido pressionados a produzir matérias beneficiando a candidatura de Bolsonaro. Tanto que a chefe de redação do departamento de jornalismo da emissora, Luciana Barcellos, pediu demissão. 

 

Então deixa ver se eu entendi o recado: para Jair Bolsonaro, imprensa correta é aquele que fala bem dele?

 

Para completar, ele absurdamente relativizou a censura aos meios de comunicação no regime militar e saiu-se com essa no “Jornal da Band”: “a população brasileira está começando a entender que não houve ditadura”.

 

Bolsonaro reclama de fake news – da qual sua campanha se fartou na campanha eleitoral – mas não se furta a desmentir a história.