Comportamento

Mais amor, por favor!

10/11/2018

Dia 16 de novembro é o Dia Internacional da Tolerância, uma data instituída em 1996 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o combate de qualquer tipo de intolerância e da não aceitação da diversidade em todos os seus âmbitos. No Brasil, comemora-se ainda o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, com o intuito de conscientizar à população a respeitar as diferenças religiosas que existem no país.

O tema nunca esteve tão atual com o momento de grande polarização vivido na sociedade brasileira, marcado por reações extremadas com aqueles que pensam e agem de forma diferente e pela ausência de empatia com o que não é espelho.

A tolerância é considerada valor fundamental para o equilíbrio da sociedade. Quando se desconsidera este valor, crescem na humanidade as inimizades, os revanchismos e muitas outras ameaças às relações pessoais, políticas e institucionais.

O teólogo Leonardo Boff, autor de Convivência, Respeito e Tolerância, define a tolerância como virtude fundamentalmente subordinada à democracia. Junto com tolerância está a vontade de buscar convergências através do debate e da disposição ao compromisso que constitui a forma civilizada e pacífica de equacionar conflitos e oposições. 

 

Sentido amplo e ambíguo

A palavra tolerância é ambígua. Tanto pode designar uma virtude moral do indivíduo, que sabe respeitar e conviver com comportamentos diferentes daqueles estabelecidos pelo seu meio social, como ser usada para qualificar qualquer atitude permissiva em relação às ações alheias.

A tolerância passiva representa a atitude de quem permite a coexistência com o outro não porque o deseje e veja algum valor nisso, mas porque não o consegue evitar. Os diferentes se fazem indiferentes entre si.

A tolerância ativa consiste na atitude de quem positivamente convive com o outro porque tem respeito a ele e consegue ver suas riquezas que sem o diferente jamais veria. Entrevê a possibilidades da partilha e da parceria e assim se enriquece em contato e na convivência com o outro.

O filósofo e político italiano Norberto Bobbio definiu a tolerância, no seu sentido negativo, como sinônimo de indulgência culposa, de condescendência com o mal, com o erro, por falta de princípios, por amor da vida tranquila ou por cegueira diante dos valores. Por outro lado, a intolerância em seu sentido positivo é sinônimo de severidade, rigor, firmeza, qualidades todas que se incluem no âmbito das virtudes.  

 

Narciso acha feio o que não é espelho
Reflexões de muitos filósofos advertem a respeito da existência de uma prisão: por muitas vezes, pessoas se enjaulam na própria opinião quando se encontram com alguém que pensa diferente.  Uma rigidez que desconsidera conceitos morais, estreita horizontes, mata diálogos, tenta justificar autoritarismos, fomenta discriminações e permite que sejam erguidas as bandeiras da exclusão, da desconsideração de raças, culturas e povos. E forma assim a base para preconceitos e abusos de poder.

 

As bolhas da internet
Campo fértil para manifestações explosivas de intolerância, as redes sociais enganam a percepção, pois pode nos levar a crer que a quase totalidade dos ‘amigos virtuais’ está de acordo com o que pensamos. Na verdade, as redes criam bolhas, que funcionam como caixas de reverberação que só nos permitem ver as postagens daquelas pessoas com as quais mais interagimos e concordamos. 

 

Certezas são destrutivas
O psiquiatra Luiz Alberto Py ressalta que certezas inabaláveis geram fanatismo e intolerância. “Creio que há mais fé na dúvida do que na certeza. Desconfio de quem tira proveito da fé.

O fato de que todas as culturas humanas têm alguma espécie de religião – expressam algum sentimento de transcendência – me leva a acreditar que a fé faz parte da natureza humana”.

Ele diz que, em sua visão de mundo, todos nós somos produtos da natureza. “É tolo ficar-se envaidecido com as próprias qualidades, tanto quanto ficar envergonhado dos defeitos que temos. A tarefa de cada um é simplesmente empenhar-se o mais que puder para aprimorar suas qualidades e neutralizar seus defeitos, assim se tornando o melhor possível. Este é o nosso grande dever e nossa responsabilidade. Nada mais, nem menos”. 

 

Pratique a tolerância


Para praticar a tolerância é preciso saber o que ela significa. De acordo com a Declaração de Princípios sobre a Tolerância da ONU ela é o respeito, a aceitação e o apreço pela diversidade em todos seus âmbitos.
Não deve ser tida como uma concessão, mas sim como um reconhecimento dos direitos humanos universais e das liberdades fundamentais de cada pessoa. Além disso, ninguém precisa abrir mão de opiniões ou convicções para praticá-la – todos são livres para ter suas opiniões, mas devem aceitar que o próximo também tem essa liberdade.

Coloque-se no lugar do outro – Uma das maneiras mais eficazes de desenvolver a tolerância é exercitar a capacidade de lidar com o diferente. É ideal deixar o lugar de dono da verdade e analisar como os outros lidam com determinados fatos de acordo com seus valores, crenças, razões e motivações. A partir disso, trabalhamos os próprios preconceitos.

 

Escute o outro – É sempre possível aprender muito com o outro. Mas, para que isso aconteça, é preciso escutá-lo, prestar atenção e não julgar. A partir disso, podem surgir opiniões contrárias à sua. Não é preciso concordar com elas, apenas aceitar outras formas de pensar.

Respire fundo – Numa situação de conflito interpessoal, procure controlar a sua ansiedade antes de se indispor com os demais ou tentar convencê-los de algo sob o peso da irritação. Baixe o tom de voz, preste atenção à sua respiração, inspire o ar profundamente e solte-o bem devagar pelo nariz.

Diminua o ritmo e a velocidade do que está a fazer, concentrando-se mais em si e nas suas ações, e não nas do outro. Isso evita que uma discussão se inicie ou piore devido ao seu estado de ânimo.

 

Faça uma autoavaliação – Muitas vezes, o que não toleramos no outro é o reflexo daquilo que não suportamos em nós mesmos e, por ser inconsciente, não conseguimos modificar. É essencial fazer um exercício de autoconhecimento e tornar esse fato consciente, para, então, trabalhá-lo. Identificar o que incomoda nas pessoas e na própria natureza favorece a autocrítica adequada e o controle das emoções e atitudes.