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Casa da Cultura Afro-Brasileira: “A história do negro não pode morrer” é atração em São Vicente

16/11/2018

A casa de taipa com personagens e vegetação esculpidos nas paredes guarda a história da escravidão brasileira na primeira vila do Brasil. Localizada no Parque Ecológico Tércio Garcia (Rua Dona Anita Costa, s/n, Parque do Votoruá), a Casa da Cultura Afro-Brasileira resgata o histórico da cultura africana desde 1976.

 

O acervo do espaço conta com mais de 135 peças feitas em barro e madeira, que retratam o período da escravidão e as fases vivenciadas no período Brasil Colônia. As esculturas de Geraldo Albertini esculpidas com canivete na argila retratam cenas como leilão de escravos, o trabalho braçal nas moendas, máquinas de moer cana de açúcar e amas de leite amamentando os filhos de seus senhores.

 

Uma das curiosidades da casa é que as figuras presentes na parede do museu foram esculpidas pelo artista. A estrutura é feita com bambus e preenchida a mão com argila, remetendo às casas de taipa presentes no período colonial. O telhado também remete à época da escravidão, as telhas da Casa foram moldadas em coxas de tamanhos diferentes, simulando as peças produzidas por escravos na época.

 

A disposição das obras faz com que o visitante passeie por grandes símbolos da cultura afrodescendente como a capoeira e manifestações religiosas como a figura do Preto Velho, um sábio senhor que curava pessoas com ervas, símbolo religioso na umbanda e candomblé. O passeio é finalizado com as representações da Lei do Ventre Livre, abolição da escravatura por meio da Lei Áurea e a bancada da vingança – quando livres, os negros perseguiam os capitães-do-mato. 

 

‘Seu Bira’ – As esculturas do artista que recebeu o título de cidadão vicentino ganham narrativa na voz de Lúcio Ubirajara, conhecido como ‘seu Bira’, que trabalha no museu há 28 anos. “Os visitantes se surpreendem ao conhecerem a história e descobrirem que têm sangue negro correndo nas veias. Ainda tem muito tabu, e as pessoas têm preconceito por associarem sempre a cultura africana às coisas diabólicas”. Também negro, seu Bira enxerga o museu como uma forma de perpetuar a história daqueles que passaram por aqui: “A história do negro não pode morrer”.

 

Inaugurado no Dia da Abolição da Escravatura, 13 de maio, com o nome de “Museu do Escravo”, o local foi rebatizado após um processo de revitalização, passando a retratar não só o período da escravidão, mas também sobre a colaboração dos povos africanos a cultura brasileira.

 

Escravidão – São Vicente foi uma das cidades pioneiras na libertação de escravos, chegando a ter a abolição da escravatura assinada dois anos antes da Lei Áurea. “Na noite em que José Bonifácio faleceu, no dia 31 de outubro de 1886, o presidente da Câmara chamou os escravos que restavam para que ele assinasse a carta abolindo a escravidão na Cidade”, destaca o historiador.