Meio Ambiente

Munícipes precisam amadurecer consciência ambiental

24/11/2018

A retirada de 79 árvores na Avenida Martins Fontes, na entrada da cidade, provocou indignação em muita gente e, como efeito colateral, abriu o debate sobre a questão da arborização da cidade. E, neste contexto, chama a atenção o comportamento do munícipe: em geral defende o plantio e preservação de áreas verdes, contanto que não seja na porta da sua casa ou em frente ao seu comércio. 

Dá para perder a conta o número de episódios em que o interesse particular tentou se sobrepor ao público. Entre eles, o da síndica de um prédio que solicitou a retirada de uma árvore que já estava no local antes da construção do edifício, argumentando que a planta “desvalorizava” os apartamentos. E, por ironia, o edifício leva o nome justamente da espécie que ela tentava derrubar.

Um caso que teve grande repercussão foi o do ingazeiro que estaria “morrendo” na esquina da Avenida Epitácio Pessoa com a rua Oswaldo Cruz, em 2015. Foi preciso a população se mobilizar, promover um abraço simbólico na árvore, para evitar sua retirada. O ingazeiro está lá até hoje, firme e forte.

Outro caso infelizmente exemplar é o ocorrido em 2016, no Gonzaga. Um comerciante promoveu o anelamento em quatro árvores em frente ao seu estabelecimento. A prática, que consiste em instalar um anel e aos poucos ir apertando-o, tem como objetivo “estrangular” o tronco da árvore, impedindo a passagem da seiva e levando o vegetal à morte. Fiscais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente conseguiram caracterizar o crime ambiental e o comerciante foi multado em R$ 4 mil, por árvore. E, o mais importante, elas foram preservadas.

“É uma prática muito comum em Santos. As pessoas criam condições que levam à morte da árvore e depois solicitam a sua retirada”, explica o coordenador de Políticas Ambientais da Seman, Marcus Fernandes. “Para evitar isso, fazemos um intenso trabalho de educação ambiental, destacando os benefícios da arborização para a cidade e seus moradores”, completa. 

Fernandes destaca outro problema muito comum em Santos: pessoas que plantam vegetais por conta própria, escolhendo espécies e locais inadequados. “Temos constatado muitos casos ao longo do trajeto do VLT. Plantaram um pé de jaca, que é completamente incompatível, pode causar risco aos demais cidadãos”. 

Segundo ele, existe uma política de arborização que define quais as espécies ideais, como e onde devem ser plantadas. “Eles devem ser de médio porte e nativas, que se adaptam melhor ao clima e resistem às pragas características de nossa região”, completa.

O coordenador também chama a atenção para outro aspecto que muitos munícipes têm dificuldade de lidar: as raízes. A legislação estabelece que o berço de cada árvore deve ter 60 centimetros em cada lado, para permitir que as raízes do vegetal se desenvolvam. No entanto, muitas pessoas reduzem este espaço, o que faz as raízes arrebentarem as calçadas. Ou, muito pior, há casos em que o cidadão cimenta a floreira. 

“É preciso que o munícipe se conscientize quanto à importância das árvores e demais áreas verdes. Além de garantir mais beleza à cidade, ajudam na redução de ruído e na temperatura das vias públicas. As árvores são nossas aliadas, não um empecilho”.

 

Retirada de árvores gera indignação

A remoção de 79 árvores na Avenida Martins Fontes (76 palmeiras imperiais, um coqueiro e duas leucenas) gerou muitos protestos. O paisagista Oswaldo Casasco lamentou a retirada e avaliou que seria possível replantá-las em outras áreas da cidade. Segundo ele, a lei de compensação ambiental, que prevê o plantio de 10 exemplares para cada árvore retirada, é importante mas “é triste para casos como este, em que serão plantadas mudas de dois metros de altura que demoram anos para florescer, em troca de árvores maravilhosas de 40, 50 anos de idade”.

O prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) afirmou que a retirada era inevitável, por conta das obras na entrada da cidade, que inclui a instalação de uma nova rede de drenagem.

Ele garante que a intervenção foi autorizada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e que as árvores não foram retiradas “na calada da noite”. Segundo ele, o trabalho foi realizado à noite para não impactar no trânsito. 

Barbosa afirmou também que a retirada e replantio das palmeiras em outro local seria inviável, pois 70% das árvores não resistiriam, e o custo da operação chegaria a R$ 2 milhões. “Seria uma irresponsabilidade, tratando-se de recurso público, fazer um investimento desse”, disse.

O prefeito informou também que serão plantadas 4.754 mudas como compensação às intervenções em todas as etapas das obras da entrada da cidade. No total, serão retiradas 140 árvores. “Vamos plantar mais do que a legislação prevê”, garante.

Segundo ele, o projeto paisagístico da nova entrada da Cidade inclui espaços com árvores e canteiros com gramados e flores, em sintonia com as intervenções viárias e de drenagem que ocorrerão na via.