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Janeiro Branco alerta para a saúde mental

12/01/2019

Este é o mês do Janeiro Branco, campanha mundial em prol da saúde mental realizada desde 2014. A proposta é trabalhar na conscientização e prevenção dos transtornos da mente, chamando a sociedade a refletir, debater, conhecer, planejar e efetivar ações em favor da saúde mental e do combate ao adoecimento emocional dos indivíduos.

Em todo o mundo, centenas de milhões de pessoas sofrem com  transtornos mentais. De acordo com o psiquiatra Aldeniz Leite, os quadros mais frequentes de doença psíquica atendidos em consultórios são a depressão e transtornos ligados à ansiedade, como síndrome do pânico, ansiedade social, TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo). "Esses quadros ligados à ansiedade compreendem cerca de 25 a 30% da população mundial, uma taxa altíssima. Já o percentual daqueles que procuram tratamento é muito menor", alerta.

 

Psicofobia, a discriminação do paciente

O especialista chama a atenção também para uma atitude social muito comum: a psicofobia, o medo ou discriminação contra quem tem algum transtorno mental. "Muitas vezes quem tem alguma doença mental sofre uma abordagem negativa indireta. Essa abordagem hoje em dia se dá na forma de depreciação e diminuição da doença ou mesmo do sofrimento ocasionado por ela", diz Leite. Muitas vezes, as pessoas que não conseguem colocar em prática as dicas de “gurus de auto-ajuda” são taxadas de preguiçosas, incompetentes ou inúteis, o que só aumenta o preconceito e a discriminação.

 

Ninguém está livre

Ninguém está livre de ter a saúde mental afetada, pois a rotina acelerada exigida pela vida profissional faz com que muitos deixem de lado o bem-estar emocional e psíquico. “A multiplicidade de informação dos nossos tempos tem causado mais ansiedade”, destaca Aldeniz Leite. "O nível de expectativa e auto-avaliação no sentido de capacitação vem sendo muito cobrado por nós mesmos. Isso gera o perfeccionismo e problemas emocionais ligados à ansiedade e à depressão”, alerta.

 

A psicóloga  Lucimara Pizzotti concorda: “Vivemos em tempos imediatistas, onde as pessoas sentem a necessidade ou a pressão de serem perfeitas o tempo todo, a partir de exigências da sociedade e cobranças pessoais”. Ainda segundo ela, a tecnologia pode ser um fator agravante de transtornos psíquicos. “A tecnologia veio para ajudar muito, porém vem sendo um impulsionador nesse processo de estresse, baixa auto-estima, ansiedade e depressão”.

 

Primeiros sinais na adolescência

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a maioria dos transtornos mentais inicia-se na juventude, pois é um momento na vida do adolescente de profundas mudanças, internas e externas. A informação é do BoaConsulta, aplicativo de agendamento de consultas de diversos segmentos da saúde.

 

“Metade de todos os transtornos mentais começa aos 14 anos, mas a maioria dos casos não é detectada e tratada. Em termos de carga de doenças entre adolescentes, a depressão é a terceira principal causa. O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. O uso nocivo do álcool e de drogas ilícitas entre adolescentes é uma questão importante em muitos países”, indica a OMS.

 

Distúrbios mais comuns

A ansiedade, depressão e transtornos alimentares são os distúrbios mentais mais comuns no mundo. “As possíveis causas envolvem fatores genéticos e sociais. Incluir pequenas ações pode ajudar a ter uma vida mais equilibrada, como praticar atividade física na rotina semanal e reservar um tempo individual para fechar os olhos e acalmar a mente. Precisamos focar também e principalmente no realismo, entrando em contato com nossos medos, frustrações e anseios, para que tenhamos foco”, complementa Lucimara.

 
Quando os distúrbios atrapalham a rotina, porém, é preciso buscar ajuda. Na maioria das vezes, a procura por um especialista não parte da vítima, por isso, pais, professores e pessoas próximas devem estar atentos a sintomas dos transtornos mentais e encaminhar a tratamento a psicólogos e psiquiatras. 
 
 

Cada caso é um caso

A saúde mental exige um conhecimento aprofundado e deve ser exercida por médicos psiquiatras e psicólogos bem formados nesta área de atuação. A advertência é do psiquiatra Joel Rennó Jr, que lembra que quadros psiquiátricos tratados inadequadamente geram inúmeros prejuízos.

“Eu sempre falo às pessoas que as soluções são sempre individuais e devem ser adequadas ao funcionamento psíquico peculiar de cada ser humano. Não acredito, com a experiência clínica de milhares de pacientes atendidos, em soluções universais e mágicas. Sou crítico em relação aos livros de auto-ajuda, alguns com frases de efeito até bonitas e que satisfazem aos anseios coletivos, porém, impraticáveis quando as pessoas têm um quadro de depressão ou ansiedade mais grave”, enfatiza.

Segundo ele, o desafio é um bom profissional, com seriedade e respeito aos limites individuais de cada pessoa, conseguir ajudar a pessoa em questão a romper suas barreiras e limites. “Temos muito falsos 'gurus' que na prática, quando se vêem perante casos difíceis, não conseguem colocar em prática os seus pensamentos apregoados e exaustivamente repetidos”.